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06/12/2006 - 09h26

Álbum de 1972 de Lágrima Ríos ganha reedição

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

"Alô, por favor, eu gostaria de falar com a Lágrima?" Temos que admitir, não é todo dia que começamos uma conversa telefônica com uma frase insólita como essa...

Do outro lado da linha, ouve-se a voz imponente de uma cantora de tango que, seguramente, encontrou o pseudônimo que é a mais completa tradução da melancolia do gênero musical a que devotou sua vida.

A uruguaia Lágrima Ríos, aos 81 anos e de cama, após sofrer uma queda no banho, conversou com a Folha, por telefone, da calle Durazno, no sul de Montevidéu, onde vive desde pequena. "Nunca saí daqui, nem nunca sairei. Por que deixar o bairro de minha infância, de minhas melhores recordações?", pergunta.

Lágrima é uma veterana do tango que se encontrava no ostracismo, como tantos artistas de sua geração que foram resgatados pelo Cafe de los Maestros. Capitaneado pelo produtor argentino mais ativo do continente, Gustavo Santaolalla (que trabalha com artistas pop como o colombiano Juanes, o mexicano Cafe Tacuba e o uruguaio Bajofondo), o projeto reuniu músicos da velha-guarda do gênero num encontro parecido com o Buena Vista Social Club. Neste, em 1997, o americano Ry Cooder jogou nova luz a músicos cubanos semi-esquecidos. Fez com eles um disco e um show coletivos. Depois, foram lançados, separadamente, CDs individuais. Foi um sucesso estrondoso.

Lágrima Ríos cantou "Vieja Viola" no álbum do Cafe e participou do encontro de lançamento do projeto, no teatro Ateneo, em Buenos Aires, no ano passado. "Encontrei vários amigos de outros tempos, Alberto Podestá e Horacio Salgan. Foi muito bom."

Em agosto, teve seu álbum "La Perla Negra del Tango" (pelo selo argentino Acqua Records), de 1972, recolocado no mercado hispano-americano (sem previsão de lançamento no Brasil). O disco segue atual? "Sim, é claro. Nele eu canto as dores e os sentimentos comuns a cada alma humana. Como isso pode não ser atual? Essas coisas não mudam", diz a cantora, cujo nome real é Lida Melba Benavídez Tabaréz.

E o que achou da reedição desse álbum, que já tem 34 anos? "Ficou ótima. Lá em Buenos Aires eles têm umas máquinas excelentes para tirar os chiados. Ficou como era na época em que gravamos."

Personagens do tango

Por conta de seu longo currículo e da carreira que atravessa tantas décadas, Lágrima Ríos conheceu pessoalmente quase toda a galeria de personagens importantes do tango. Aquele de quem não se esquece? "Carlos Gardel era um homem excepcional. E ninguém cantava como ele." Ele a influenciou? "De maneira nenhuma. Gardel era único, o que fazia não pode ser imitado, repetido ou seguido por ninguém."

Militante do movimento negro durante a juventude, a cantora apoiou a Frente Amplio, que levou o socialista Tabaré Vasquez a se eleger em 2004. "Foi um momento importante na história do meu país."

Lágrima Ríos tem saído pouco por causa de seus problemas cardíacos, mas quer voltar a Buenos Aires e gravar algo novo, talvez com o próprio Santaolalla. Em casa, ouve tango da sua época. Conhece o trabalho de artistas que fazem o tango eletrônico (músicos que tentam atualizar o gênero com recursos eletrônicos). E não gosta. "Estão desvirtuando a música. O tango nunca precisou disso. Duas cordas e um bandoneon bastam. Depois de Astor Piazzolla, não é necessário mexer em mais nada no tango."

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