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21/11/2000 - 04h25

Wynton Marsalis quer salvar o "jazz de verdade"

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SÉRGIO DÁVILA, da Folha de S.Paulo

O trompetista Wynton Marsalis, 39, o príncipe da família real do jazz, toca de amanhã a domingo em São Paulo. Mais importante do clã de
Louisiana -formado pelo pai, o pianista Ellis, 65, e os irmãos, o saxofonista Branford, 40, o trombonista Delfeayo, 35, e o baterista Jason, 23- , ele é também o mais chato.

Por quê? Porque é fundamentalista. Não acredita em jazz depois do começo dos anos 60. Abomina a fusion (a mistura do ritmo com qualquer outro), o que o afastou dos irmãos. Vive e toca para preservar a pureza do gênero. Acha o solo uma vaidade condenável. Coloca a técnica e o ensaio acima do improviso e do coração.

Mas é o principal nome do jazz hoje, seja qual for o critério. Prêmios? É o único que pode ostentar um Pulitzer (1997), por seu projeto "Blood in the Fields". Tem oito Grammy na gaveta. Só ele ganhou dois no mesmo ano (1983 e 1984) como melhor trompetista de jazz e de música clássica.
É o diretor artístico do precioso programa Jazz at Lincoln Center (J@LC), de ensino musical e preservação de obras do gênero. Ganha US$ 1 milhão por disco (gravou 30).

Wynton Marsalis vem com a Lincoln Center Jazz Orchestra, de 14 figuras. Eles se apresentam com a Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf. No repertório, Tchaikovsky, Duke Ellington e... Marsalis.

No domingo, no Ibirapuera, devem aparecer também Louis Armstrong, que tem seu centenário de nascimento comemorado neste ano, e Thelonious Monk. Antes de ir a SP, onde chegaria anteontem, o trompetista deu a seguinte entrevista à Folha.

Folha - O seu trabalho no Lincoln Center dá a impressão que você pretende fazer do jazz o mesmo que aconteceu com a chamada "música clássica": mantê-lo puro, fiel às origens. Concorda?
Wynton Marsalis -
O jazz não pode ser puro, é um processo. Tento manter a integridade do processo.

Folha - E o risco de você tocar para cada vez menos público?
Marsalis -
De novo, é uma questão de integridade. Se você perdê-la, mais gente pode gostar do seu trabalho. Vou devolver a sua pergunta: seu jornal colocaria mulher nua na primeira página para vender mais? Para mim, deixar de tocar o jazz de verdade é como pedir para colocar uma mulher nua no palco. Uma questão de caráter.

Folha - Por esse raciocínio, você jamais tocaria bossa nova, o "brazilian jazz", porque é uma fusão.
Marsalis -
Se tocar bossa nova a noite toda, estarei tocando bossa nova, e não jazz. O ritmo faz parte da tradição do jazz, mas tem uma coisa muito especial. É o suingue.

Folha - Como ensinar uma criança a gostar de jazz, como vocês fazem no Lincoln Center?
Marsalis -
A chave de tudo é que eles ouvem de verdade, diferentemente de nós. A primeira coisa que você ensina é a personalidade de cada músico, assim eles podem distinguir. "Este é o Miles Davis, este é o Dexter Gordon" e assim por diante... Eles pegam rápido.

Folha - Quem o ensinou?
Marsalis -
Meu pai.

Folha - O que você ouve além de jazz? Rap, por exemplo?
Marsalis -
Não ouço rap. Quer dizer, não tenho como não ouvir. Mas ouço muitas coisas, às vezes música japonesa, ópera, Puccini.

Folha - Algo dos Marsalis?
Marsalis -
Não gosto de me ouvir tocar. Ouço Beethoven, gosto de tango, Piazzola, música brasileira. Mas meu coração é do jazz.

Folha - O rap é o principal ritmo negro hoje. Além disso, a fusion atrai muito mais gente do que o que você faz. Como encontra jovens músicos para sua orquestra?
Marsalis -
Muitos músicos querem tocar jazz de verdade. Você não precisa procurar, eles estão por todos os lados.

Folha - O que vai gravar depois de seu CD "The Marciac Suite"?
Marsalis -
Não sei. Algo de Chico O'Farrill e música afro-cubana.

Folha - E, finalmente, Al Gore ou George W. Bush?
Marsalis -
Al Gore, definitivamente. Ele pensa direito. O país melhoraria inclusive para vocês, estrangeiros, se ele fosse eleito.
 

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