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21/12/2006
-
09h48
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
O cineasta Walter Salles analisava o filme "São Paulo S/A" (1965) --em que Luiz Sérgio Person observa o processo de industrialização brasileiro pela ótica de um homem de classe média--, em debate, anteontem, quando ouviu de um espectador na platéia do Espaço Unibanco (SP) a provocação:
"É sempre a classe média. Estranho que nossos diretores não toquem na burguesia ou nos banqueiros, nos grandes grupos econômicos. Fica a sugestão [de abordar a elite] para os cineastas presentes".
Herdeiro do Unibanco, autor de filmes como "Central do Brasil", em torno de personagens que representam a parcela de excluídos social e economicamente do Brasil; e "Diários de Motocicleta", biografia da juventude do líder revolucionário Ernesto Che Guevara, Salles encarou a questão:
"Vindo dessa classe social, eu te digo porque é difícil tratar dela no cinema: a alta burguesia brasileira é muito caricata", afirmou. O diretor contou haver iniciado "vários roteiros nessa direção" e disse que não os levou adiante por julgar que careciam do nível de complexidade necessário para ultrapassar o patamar da caricatura.
"Talvez só um Buñuel" conseguisse fazer bom cinema tendo como objeto a alta burguesia brasileira, na opinião de Salles.
Para avaliar "São Paulo S/A", o cineasta recorreu ao pensador e crítico francês André Bazin. "Grandes filmes são aqueles que são moldes perfeitos da realidade", citou, antes de dizer que Person (1936-76) conseguiu abordar o desenvolvimentismo brasileiro com o mérito adicional de fazê-lo "a quente", ou seja, concomitantemente aos acontecimentos.
Para Salles, "São Paulo S/A" é "um filme polifônico, que respeita o espectador e convida-o a ser seu co-autor", ao mesmo tempo em que tem um ponto de vista claramente enunciado, o de que "a desumanização que vem com esse processo de desenvolvimento é irreversível".
Um espectador indagou se o "pessimismo" identificado no Person de "São
Paulo S/A" teria um parentesco atual na obra de Sérgio Bianchi, em filmes como "Cronicamente Inviável" e "Quanto Vale ou É por Quilo?".
Salles disse que o filme de Person "deve ser comparado a outros que conseguem falar do Brasil de forma complexa, como na visão alegórica e rica de "Terra em Transe" [Glauber Rocha, 1967] ou na narrativa essencial de "Vidas Secas" [Nelson Pereira dos Santos, 1964]". E concluiu: "Estamos falando de grande cinema, dos grandes mestres. Estamos nesse nível".
"São Paulo S/A" acaba de ser lançado em DVD pelo selo Videofilmes, de Salles. O cineasta contou que viu o filme pela primeira vez há muitos anos "numa cópia pirata" e teve "um choque" com sua grandeza.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Walter Salles
"Alta burguesia é caricata", diz cineasta Walter Salles
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da Folha de S.Paulo
O cineasta Walter Salles analisava o filme "São Paulo S/A" (1965) --em que Luiz Sérgio Person observa o processo de industrialização brasileiro pela ótica de um homem de classe média--, em debate, anteontem, quando ouviu de um espectador na platéia do Espaço Unibanco (SP) a provocação:
"É sempre a classe média. Estranho que nossos diretores não toquem na burguesia ou nos banqueiros, nos grandes grupos econômicos. Fica a sugestão [de abordar a elite] para os cineastas presentes".
Herdeiro do Unibanco, autor de filmes como "Central do Brasil", em torno de personagens que representam a parcela de excluídos social e economicamente do Brasil; e "Diários de Motocicleta", biografia da juventude do líder revolucionário Ernesto Che Guevara, Salles encarou a questão:
"Vindo dessa classe social, eu te digo porque é difícil tratar dela no cinema: a alta burguesia brasileira é muito caricata", afirmou. O diretor contou haver iniciado "vários roteiros nessa direção" e disse que não os levou adiante por julgar que careciam do nível de complexidade necessário para ultrapassar o patamar da caricatura.
"Talvez só um Buñuel" conseguisse fazer bom cinema tendo como objeto a alta burguesia brasileira, na opinião de Salles.
Para avaliar "São Paulo S/A", o cineasta recorreu ao pensador e crítico francês André Bazin. "Grandes filmes são aqueles que são moldes perfeitos da realidade", citou, antes de dizer que Person (1936-76) conseguiu abordar o desenvolvimentismo brasileiro com o mérito adicional de fazê-lo "a quente", ou seja, concomitantemente aos acontecimentos.
Para Salles, "São Paulo S/A" é "um filme polifônico, que respeita o espectador e convida-o a ser seu co-autor", ao mesmo tempo em que tem um ponto de vista claramente enunciado, o de que "a desumanização que vem com esse processo de desenvolvimento é irreversível".
Um espectador indagou se o "pessimismo" identificado no Person de "São
Paulo S/A" teria um parentesco atual na obra de Sérgio Bianchi, em filmes como "Cronicamente Inviável" e "Quanto Vale ou É por Quilo?".
Salles disse que o filme de Person "deve ser comparado a outros que conseguem falar do Brasil de forma complexa, como na visão alegórica e rica de "Terra em Transe" [Glauber Rocha, 1967] ou na narrativa essencial de "Vidas Secas" [Nelson Pereira dos Santos, 1964]". E concluiu: "Estamos falando de grande cinema, dos grandes mestres. Estamos nesse nível".
"São Paulo S/A" acaba de ser lançado em DVD pelo selo Videofilmes, de Salles. O cineasta contou que viu o filme pela primeira vez há muitos anos "numa cópia pirata" e teve "um choque" com sua grandeza.
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