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26/12/2006
-
10h46
CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo
Muitas Chinas se sobrepõem num simples substantivo. Existem as três, política e territorialmente distintas (a continental, Taiwan e Hong Kong), a da diáspora espalhada pelas Chinatowns mundo afora e a atual potência econômica.
Em "Mongolian Ping Pong" uma primeira cena posiciona o espectador diante dessas diferenças, a dos personagens em um lugar que não coincide com a imagem oficial, do progresso econômico. Uma família mongol é retratada diante de uma imagem da Cidade Proibida de Pequim. Quando se levanta o cenário, é a aspereza da estepe que reconecta os personagens ao lugar em que vivem.
Essa distância entre a imagem e a realidade, entre a representação e o documental, entre os novos valores e a vida concreta, é um dos pontos mais fortes da visão que alguns cineastas chineses têm dado do país, cujo exemplo máximo são os filmes de Jia Zhang-ke.
O bom ponto de partida de "Mongolian", no entanto, é logo descartado pelo diretor Hao Ning em proveito de uma visão que nada traz de revelador de uma dimensão política da imagem. A obsessão formalista do cineasta se contenta em produzir planos impecáveis das paisagens mongóis, fotograficamente sofisticados, mas vazios de outros elementos que não se reduzam à própria beleza.
O recurso dramático de introduzir um fator estranho e confrontá-lo por meio da surpresa que provoca num universo mediado pela visão de crianças restringe-se a reproduzir clichês sobre o olhar infantil.
Equívocos
O garoto Bilike vive com sua família num lugar isolado nas estepes da Mongólia. Um dia, depara-se com uma bolinha de pingue-pongue flutuando no rio. Ao lado dos amigos Dawa e Erguotou, todos fascinados pelo objeto desconhecido, passa a investi-lo de possíveis significações (ovo de ave, ícone divino ou símbolo nacional).
Daí decorre um conjunto de equívocos que poderiam funcionar como metáfora do deslocamento ao qual os personagens estão submetidos. Mas a narrativa não se preocupa em aprofundar as rupturas dessa distância, já que o diretor se contenta em oferecer ao público um encanto da beleza superficial das imagens.
Nessa sedução impressionista, ele nem chega a traduzir a singularidade antropológica do grupo que encena no patamar já alcançado em "Urga", feito pelo russo Nikita Mikhalkov em 1991, sobre o mesmo universo social. Vítima da armadilha estetizante, Ning desliza entre a metáfora simplista e a tentação contemplativa dominante em parte do cinema do Oriente.
Seu retrato da China profunda reproduz os valores da China superficial, aquela que só dá a ver os clichês do exótico graças a um modo de mostrar que se limita ao turístico.
MONGOLIAN PING PONG
Direção: Hao Ning
Produção: China, 2005
Com: Hurichabilike, Dawa, Geliban
Quando: em cartaz no Cinesesc
Especial
Leia tudo o que já foi publicado sobre Hao Ning
"Mongolian Ping Pong" reproduz clichês exóticos sobre a China
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da Folha de S.Paulo
Muitas Chinas se sobrepõem num simples substantivo. Existem as três, política e territorialmente distintas (a continental, Taiwan e Hong Kong), a da diáspora espalhada pelas Chinatowns mundo afora e a atual potência econômica.
Em "Mongolian Ping Pong" uma primeira cena posiciona o espectador diante dessas diferenças, a dos personagens em um lugar que não coincide com a imagem oficial, do progresso econômico. Uma família mongol é retratada diante de uma imagem da Cidade Proibida de Pequim. Quando se levanta o cenário, é a aspereza da estepe que reconecta os personagens ao lugar em que vivem.
Essa distância entre a imagem e a realidade, entre a representação e o documental, entre os novos valores e a vida concreta, é um dos pontos mais fortes da visão que alguns cineastas chineses têm dado do país, cujo exemplo máximo são os filmes de Jia Zhang-ke.
O bom ponto de partida de "Mongolian", no entanto, é logo descartado pelo diretor Hao Ning em proveito de uma visão que nada traz de revelador de uma dimensão política da imagem. A obsessão formalista do cineasta se contenta em produzir planos impecáveis das paisagens mongóis, fotograficamente sofisticados, mas vazios de outros elementos que não se reduzam à própria beleza.
O recurso dramático de introduzir um fator estranho e confrontá-lo por meio da surpresa que provoca num universo mediado pela visão de crianças restringe-se a reproduzir clichês sobre o olhar infantil.
Equívocos
O garoto Bilike vive com sua família num lugar isolado nas estepes da Mongólia. Um dia, depara-se com uma bolinha de pingue-pongue flutuando no rio. Ao lado dos amigos Dawa e Erguotou, todos fascinados pelo objeto desconhecido, passa a investi-lo de possíveis significações (ovo de ave, ícone divino ou símbolo nacional).
Daí decorre um conjunto de equívocos que poderiam funcionar como metáfora do deslocamento ao qual os personagens estão submetidos. Mas a narrativa não se preocupa em aprofundar as rupturas dessa distância, já que o diretor se contenta em oferecer ao público um encanto da beleza superficial das imagens.
Nessa sedução impressionista, ele nem chega a traduzir a singularidade antropológica do grupo que encena no patamar já alcançado em "Urga", feito pelo russo Nikita Mikhalkov em 1991, sobre o mesmo universo social. Vítima da armadilha estetizante, Ning desliza entre a metáfora simplista e a tentação contemplativa dominante em parte do cinema do Oriente.
Seu retrato da China profunda reproduz os valores da China superficial, aquela que só dá a ver os clichês do exótico graças a um modo de mostrar que se limita ao turístico.
MONGOLIAN PING PONG
Direção: Hao Ning
Produção: China, 2005
Com: Hurichabilike, Dawa, Geliban
Quando: em cartaz no Cinesesc
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