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28/12/2006 - 10h37

Rappers renovam os saraus nos EUA

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ADRIANA FERREIRA SILVA
da Folha de S.Paulo

Sempre pronto a experimentar, o hip hop agora flerta com o "spoken word" e revitaliza um cenário que, como o rap, tem o cerne na poesia. O "spoken word", literalmente, palavra falada, ou declamada, pode ser comparado ao que, no Brasil, ocorre nos saraus --reuniões que atraem músicos, escritores, poetas, atores ou apenas interessados em recitar textos.

Os escritores beatniks Allen Ginsberg e Jack Kerouac, por exemplo, tinham o hábito de participar desse tipo de encontro. Também artistas como Laurie Anderson, Jim Morrison, Patti Smith e Tom Waits são famosos por proclamar textos, tanto em shows quanto entremeados com músicas.

A novidade nessa antiguíssima expressão artística é a participação de rappers, como Mos Def e Talib Kweli, em eventos de "slam poetry", um tipo de sarau norte-americano, no qual o público escolhe o melhor poeta. O encontro do hip hop com o "spoken word" estourou nos anos 90, nos EUA, e hoje já é tema de uma competição nacional.

A França, segunda maior produtora de rap do mundo, tem uma expressiva cena "slam", com artistas lotando salas de concerto. Também há registros de "slam" na Alemanha, Reino Unido e Holanda, entre outros.

No Brasil, o "slam" ainda é desconhecido, mas os saraus promovidos pela Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) já são freqüentados por alguns rappers. Além disso, alguns MCs, como o paulistano Akin, experimentam recitar suas rimas ao vivo.

Saul Williams

Se o "slam poetry" se espalhou pelo mundo, o principal responsável por isso é Saul Williams. Rapper, cantor, ator, ativista, o norte-americano de 34 anos estreou nesse cenário lendo seus poemas no Nuyorican Poetry Café, bar cool de Nova York que promove eventos de "open-mic", ou microfone aberto, onde qualquer um pode declamar textos.

Foi lá que o diretor de cinema Marc Levin viu Williams pela primeira vez e o convidou para protagonizar "Slam", filme que ganhou o Grande Prêmio do Júri no Sundance Festival, e a Caméra d'Or, em Cannes, ambos em 1998. Foi lá também que ele foi escolhido para participar do documentário "SlamNation", de Paul Devlin. E foi a partir dessas leituras que Williams travou contato com o bambambã Rick Rubin, que produziu seu primeiro álbum, "Amethyst Rock Star".

Sua carreira inclui ainda o disco "Saul Williams" (2005), o EP "Not in Our Name", protesto contra a Guerra do Iraque; textos publicados no jornal "New York Times"; turnês ao lado das bandas Mars Volta e Nine Inch Nails; e quatro livros. O último, publicado neste ano, é um "testamento" no qual Williams mescla sua biografia com a história de um MC morto.

"Encontrei uma maneira, como numa parábola, para expressar os sentimentos de não ser o autor do que escrevi", contou Saul Williams à Folha. "Chamo isso de "metaficção", que é como usar o surrealismo para contar uma história."

MC morto

"Meu amor pela poesia não aconteceu porque cresci lendo poesia, mas porque cresci com fortes doses de hip hop, e essa é a poesia que me formou e me moldou", escreveu Williams num trecho do livro "The Dead Emcee Scrolls - The Lost Teachings of Hip-Hop" (o pergaminho do MC morto --as últimas lições do hip hop), no qual ele declara a morte do movimento em prosa e poesia.

"O hip hop é competitivo. Todo mundo tem de participar de batalhas e, por isso, acho que os MCs acreditam que é uma fraqueza mostrar vulnerabilidade", diz Williams. "Na maior parte do tempo, os MCs não reconhecem suas fraquezas. Um poeta sabe o poder de reconhecer suas debilidades."

O tema lhe valeu o título de "anti-rapper" no semanário de música inglês "NME", para quem Williams é "o liricista mais quente do mundo."

"Sinto que o hip hop está se transformando da mesma maneira que eu estou. Somos forçados a nos tornarmos mais do que somos", declara o MC.

A transformação passa por rimas sobre bases que não só as do rap, mas, principalmente, do rock, como fez Williams em seu último CD e deve fazer também no próximo, que sai em 2007 com produção de Trent Reznor, do Nine Inch Nails.

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