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01/01/2007 - 09h35

Obras do Palácio de Versalhes chegam à Pinacoteca de SP

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Maria Antonieta chega primeiro, na versão pop de Sofia Coppola, com o filme que leva o mesmo nome da rainha francesa, previsto para março de 2007. Um pouco depois, no dia 10 de maio, é a vez de toda a corte aportar na Pinacoteca do Estado, no bairro da Luz, com 59 obras, entre elas retratos de Luís 14, o "Rei Sol", e os outros demais soberanos, até a Revolução Francesa, de 1789, com a mostra "A Representação da Figura do Rei, Coleção do Museu do Palácio de Versailles".

Nos últimos 13 anos, período no qual Xavier Salmon, curador da mostra, é o responsável pelas coleções de pintura do século 18 e do gabinete de artes gráficas em Versalhes, essa é a terceira vez que um grupo tão expressivo de obras deixa o museu francês. As outras foram vistas no Japão e nos EUA.

A exposição em São Paulo começou a ser arquitetada em 2005, quando a produtora francesa Luziah Hennessy esteve no Brasil, por conta da programação do ano do país na França, em 2006. "A mostra é uma boa razão para todos aqueles que estiveram no Brasil e adoraram esse país poderem voltar", disse Hennessy à Folha.

A exposição irá retratar tanto o lado oficial da vida dos monarcas, ou seja, sua imagem pública, como sua "face verdadeira", segundo Salmon, que falou por telefone com a Folha sobre a mostra. Autor de "Marie-Antoinette" (ed. Michel Lafon, 2005), o curador comenta também o filme de Sofia Coppola.

Folha - Como foi feita a seleção para as obras da exposição?

Xavier Salmon - Como se sabe, o Brasil foi uma monarquia e pensei que seria interessante para o público brasileiro descobrir imagens da monarquia francesa, a partir de Luís 14 e o porquê eles foram representados. Versalhes tem hoje a coleção mais importante de retratos reais e, quando o castelo foi transformado em um fato político, o rei podia ser visto em toda parte, no teto, nos jardins, em pinturas, esculturas, miniaturas, em alguns dos móveis. O objetivo dessa hipervisibilidade era promover o rei como protetor, como homem que exalava riqueza e felicidade para os cidadãos, enfim, como um monarca universal. Por isso, os artistas trabalhavam e criavam imagens do rei, como um herói mitológico, como um pacificador moderno ou ainda um promotor de artes e tudo isso junto pode ser visto como um grande poema épico sobre a forma do rei governar.

O objetivo da mostra, então, é apresentar como, desde Luís 14, a imagem do rei está muito presente em Versalhes, como há nela uma mensagem política e o aspecto público dessa imagem. O segundo aspecto da imagem é sobre privacidade, pois muitas dessas imagens foram realizadas com propósitos privados, para serem exibidas na área privada de Versalhes. Nos séculos 17 e 18, o público podia visitar certos setores do palácio, como a sala de espelhos, mas não os apartamentos privados, e aí estavam as imagens da família real sem as representações políticas. Ambos aspectos estarão na exposição.

Folha - Versalhes, para o sociólogo alemão Norbert Elias, representou o auge do processo de civilização enquanto pólo irradiador de comportamento, certo?

Salmon - No século 18, a França era o modelo de corte para toda a Europa e, atualmente, todo mundo está interessado nesse aspecto, pois está longe da nossa vida. Por isso, quando os visitantes vão a Versalhes, eles se preocupam mais com a forma como se vivia lá, como se comia ou se vestia, do que com propriamente a coleção de arte. E isso é um dos temas da exposição, pois não estamos de fato interessados em quem fez os retratos, mas qual o propósito dessas obras, o porquê, quando e para que foram feitas.

Folha - Esses artistas, então, eram os publicitários daquela época?

Salmon - Sim, eles recebiam várias orientações de como a imagem devia ser. Se fosse pública, deveria ter tais características, se fosse por comando privado, seria diferente, já que não era preciso aparecer a coroa ou a flor-de-lis e os símbolos da realeza, mas conseguir expressar a face verdadeira.

Folha - Ou seja, começou aí a noção de encenação pública...

Salmon - Claro. É interessante, contudo, que, enquanto com Luís 14 havia um grande número de obras expressando a face pública do rei, a partir de Luís 15 e especialmente Luís 16, os reis requerem mais imagens privadas. Eles sabiam que a vida pública, como ocorria com Luís 14, não era mais possível e eles queriam ser mais mundanos, como todo mundo.

Folha - De certa forma, então, parecia ser muito entediante ser uma celebridade tão requisitada... Não foi isso que ocorreu com Maria Antonieta?

Salmon - Sim, ela não gostava da vida na corte e por isso foi viver no Pequeno Trianon [edifício próximo a Versalhes]. Ela ia a Paris ver óperas, queria ter vida privada.

Folha - O que você achou do filme de Sofia Coppola?

Salmon - Acho que é uma linda história, mas não tem muito fundo histórico. Quando ela fez o filme, dizia claramente que o seu objetivo era retratar a vida de uma jovem perdida num mundo diferente, porque Versalhes era diferente de Viena. Há vários erros do ponto de vista histórico, mas isso não é importante, pois não é um filme histórico.

Folha - Ao mesmo tempo, ele retrata bem o que Versalhes representou, sua magnificência, seu exagero simbólico, não?

Salmon - Claro, isso é verdade. Para a imagem de Versalhes, é um filme incrível, parte dele foi rodado aqui, e há imagens incríveis dele. Do ponto de vista da moda, há também imagens lindas, mas não estou muito certo se é mesmo a moda daquela época, talvez dos anos 50 e 60 daquele século, mas não do final do século.

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