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13/01/2007 - 08h30

"Antônia", longa sobre cantoras da periferia, agita Vila Brasilândia

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

"Vim porque é a realidade que a gente vive. Na televisão, não tive tempo de assistir. Tenho que acordar muito cedo e não dava para ver todos os dias", diz Nadja Alcântara Barbosa, 35, auxiliar de limpeza.

Ela espera, com a família, o início da pré-estréia de "Antônia" na Vila Brasilândia, a periferia de São Paulo onde foram filmados o longa (dirigido por Tata Amaral, estréia no dia 9 de fevereiro) e a série para a TV sobre a vida de quatro aspirantes a cantoras profissionais.

O circo, quer dizer, o cinema, está montado numa praça na entrada da favela. A apresentação das "celebridades" --equipe de filmagem, produção, atores e atrizes que participaram de "Antônia"-- está marcada para começar dali a uns 30 minutos, e uma fila de 50 metros já se forma diante da tenda da sala de projeção itinerante.

Fernando Donasci/Folha Imagem
Brasilândia com cinema gratuito reúne atores do filme "Antônia"
Brasilândia com cinema gratuito reúne atores do filme "Antônia"
Em volta, casas com cadeiras nas lajes, gente nas varandas, um templo da Igreja Bíblica Atos, barraquinhas de comida, uma locadora de DVDs --"hoje, quatro por R$ 10"--, um carro da polícia, outro dos bombeiros, cerca de 30 policiais.

Dentro da tenda sopra um ar refrigerado agradável, mas que não é suficiente, sozinho, para melhorar o ambiente em que repórteres e câmeras disputam declarações e imagens dos atores e atrizes do filme.

O subprefeito da Freguesia/ Brasilândia está lá, os jornalistas especializados em celebridades, também; e câmeras da TV Globo, que transmitiu a série. Uma repórter da Rede TV! entrevista Leilah Moreno, uma das protagonistas. "Você já bateu em algum homem na sua vida?", pergunta. "Infelizmente, já tive que dar um bofete."

Nadja, seu marido, o marceneiro Josemar Baraúna, 38, e os filhos Jonas, 9, e Joyce, 4, se acomodam numa das últimas fileiras da sala. Começa a apresentação do elenco e da equipe do filme para os moradores do local. Dá-se a oportunidade para perguntas da platéia.

Elas não diferem muito das curiosidades do jornalismo de celebridades até Luiz Carlos Silva, 51, ex-funcionário da GM, hoje desempregado, interpelar a equipe do longa sobre a possibilidade de imagens com crianças armadas, violência e tráfico. Ele ainda não havia visto o filme (o debate foi anterior à projeção) e dizia que não gostaria que Brasilândia fosse retratada assim (como de fato não é).

"O que a Brasilândia e essas crianças", aponta para as muitas sentadas na platéia, "vão ganhar com esse seriado e esse filme?", pergunta. "A Brasilândia não é o Rio de Janeiro."

A Folha o questionou depois sobre a comparação. "Queria saber se o filme iria focar a violência como aconteceu no 'Cidade de Deus'. Porque no Rio eles aceitam tudo; e a Globo mostra. Esse tipo de violência prejudica as crianças."

"Você está totalmente equivocado quando torna essa sua opinião a opinião da Brasilândia", responde Gilson Carvalho, 34, também morador do bairro. E pergunta para a platéia: "Vocês acham que nós desfizemos de vocês?".

Luta

Quanto a Nadja, diz que está "mais emocionada por saber que o elenco é da Brasilândia". "Faz dois anos que batalho com a minha filha para ela trabalhar na TV e nunca consegui. Ela tem 'book' e tudo. Já tentei no Raul Gil, mas não deu. Agora, vendo isso, dá esperança."

O filme começa. Há gritos e brincadeiras quando as luzes se apagam. Joyce, 4, presta tanta atenção na platéia quanto na tela. Diz que está gostando.

Terminada a fita --que é muito aplaudida--, sua mãe diz que ela nunca havia ido ao cinema.

O filme, afirma, mostra o que as pessoas da periferia "passam no dia-a-dia". Como assim? "Na hora em que o táxi chega, por exemplo." Refere-se a uma cena em que um dos personagens volta para casa depois de engessar a perna. "É assim mesmo. Pobre só pega táxi na hora da doença."

Especial
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