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22/04/2007 - 10h04

Cresce procura por lutas na TV paga

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LUCAS NEVES
da Folha de S.Paulo

"Parece que já tem um sangramento na cabeça [...]", observa o locutor do UFC (Ultimate Fighting Championship). "Belas cotoveladas, estilo Tito Ortiz", reage o comentarista. Pano rápido. "Ele desmaiou no Octagon... fim de luta", conclui o locutor.

Não estranhe: a TV está sintonizada no Premiere Combate, canal "pay-per-view" (oferecido por Net e Sky) com programação 100% dedicada a lutas. Carro-chefe da grade, o UFC é, ao lado do K-1 Hero's, uma das principais competições internacionais de vale-tudo (ou "mixed martial arts", artes marciais mistas, como preferem praticantes e técnicos; não confundir com a troca de sopapos burlesca do antigo telecatch).

Na esteira do bom desempenho de brasileiros nesses torneios (o país tem campeões em ambos), as assinaturas mensais do Combate crescem em ritmo constante desde a sua criação, em 2002. Naquele ano, segundo o canal, 3.531 assistiam à programação. Em 2007, a base de assinantes chegou aos 15 mil; o projeto é chegar a 20 mil até dezembro.

Dado que a combinação de boxe, jiu-jitsu, muay thai (boxe tailandês) e wrestling (luta livre) se traduz, na tela, em uma sucessão de chutes, socos, pisões, chaves-de-braço e joelhadas, não parece estranho que, cá e lá, sugira-se que a ascensão da modalidade reflete o acirramento da violência na sociedade. O diretor dos canais Premium da Globosat, Elton Simões, rechaça esse paralelo. "[O crescimento] não tem a ver com nenhum fenômeno sociológico. Tem a ver com o prestígio das artes marciais."

Segundo Simões, o Combate aborda as lutas sob um "ponto de vista educacional". "Os lutadores falam para as crianças não lutarem na rua [...] noticiamos o envolvimento deles com projetos sociais de recuperação do jovem. Trabalhamos com ênfase no comportamento, não na violência", diz.

O melhor do ser humano

No site de relacionamentos Orkut, a reportagem indagou internautas filiados a comunidades de vale-tudo sobre a comum associação do esporte à violência além-ringue. O sentimento geral é de que isso ocorre por desinformação e preconceito, já que as lutas se caracterizam pela "supremacia da técnica" e põem à prova "o melhor do ser humano, sua resistência, força, agilidade, precisão e muita consciência".

"Violência são assaltos, invasões à favela, guerra de facções...", diz Ana Carolina Assumpção, do Rio.

Assim também pensa o advogado paranaense Sandro Bandeira, 32, que assina o canal há um ano e costuma assistir às transmissões ao lado do pai, de 63 anos. "[As lutas] são conversa mole perto da violência que de fato existe. Vide o tiroteio na universidade americana [em Blacksburg, Virgínia, onde morreram 33 pessoas na segunda-feira]."

Bandeira, que se diz atraído pela faceta de espetáculo ("fogos, luzes, efeitos especiais...") e pela imprevisibilidade dos duelos, compara os ringues a um "coliseu moderno, com regras".

"Como na Antigüidade, há heróis, lutadores que começam perdendo e viram o jogo. Presumo também que muitos esqueçam de tudo enquanto assistem aos eventos e mentalizem seus sucessos e fracassos nos atores do espetáculo", filosofa Bandeira, que treina jiu-jitsu.

Para a professora carioca Elaine Nascimento, 29, que compra pacotes específicos de alguns torneios (outra opção do "pay-per-view") e vê as lutas com o noivo, "quem curte quer saber até que ponto vai a potência do atleta, já que não podemos viver isso".

Fã de Rodrigo "Minotauro" Nogueira e Wanderlei Silva, o casal recorre ao site de vídeos YouTube para assistir a "clássicos" do passado. E se o companheiro, o analista financeiro e lutador amador de jiu-jitsu Mariano Rosa, decidisse tentar a sorte do outro lado da tela? "Ficaria felicíssima, acho lindo", diz Elaine.

Em Porto Alegre, a microempresária Letícia Bittencourt, 30, pode se gabar de seguir a programação do Combate 24 horas por dia: ela tem duas assinaturas --uma em casa e outra na loja de tatuagens que administra.

"Sou fissurada em luta", explica.

Antes de reclamar do excesso de reprises, ela compara sua atividade ao que vê como mudança de perspectiva sobre o vale-tudo.

"Como na tatuagem, os rótulos estão mudando. Os lutadores agora são vistos como profissionais."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre canal "pay-per-view"
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