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27/04/2007 - 10h07

Violência atropela história de amor em "Proibido Proibir"

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FAUSTO SALVADORI FILHO
da Folha Online

"Proibido Proibir", que estréia hoje nos cinemas, começa com uma história de amor, mas não demora para a violência do Rio de Janeiro entrar em choque com os personagens e modificar os rumos do enredo.

A partir daí, o coração do filme passa a ser a perplexidade e a impotência da classe média diante do caos social brasileiro. E o principal personagem torna-se o Rio, que o diretor chileno Jorge Durán procura filmar com um olhar livre --nem o buscador de cartões-postais ou tampouco o denunciador das misérias.

É evidente o prazer do diretor em passear a câmera por diferentes locações, interrompendo a narrativa para mostrar outros ângulos e arquiteturas da cidade.

Beco sem saída

Divulgação
Caio Blat, Maria Flor e Alexandre Rodrigues em cena do filme "Proibido Proibir", de Jorge Durán
Caio Blat, Maria Flor e Alexandre Rodrigues em cena do filme "Proibido Proibir", de Jorge Durán
O olhar do diretor e o bom desempenho ajudam a dar vida aos personagens, que seriam à primeira vista bastante esquemáticos.

Paulo (Caio Blat) é um estudante de Medicina paulista, botafoguense, mulherengo, viciado em drogas, individualista e cínico, para quem o sentido da vida resume-se a "cannabis e boceta".

Seu melhor amigo, com quem divide uma república, é Leon (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de "Cidade de Deus"), estudante de Ciências Sociais, brasiliense, torcedor do Flamengo, um idealista que desenvolve um trabalho social para tirar crianças da rua com a ajuda do futebol. Os dois se apaixonam por Letícia (Maria Flor), estudante de Arquitetura, carioca, romântica e sonhadora.

"É proibido proibir", o "slogan" rebelde de 1968 que dá título ao filme não tem nada de libertário: é a frase usada pelo personagem de Caio Blat para justificar o próprio cinismo.

Um cinismo que entra em xeque quando Paulo se torna amigo de Rosalinda (Edyr Duqui), uma paciente leucêmica do hospital onde faz residência --a ponto de compartilhar seus cigarros de maconha com ela, numa das cenas mais engraçadas do filme.

Ao tentar encontrar a família da paciente, Paulo descobre que um dos filhos dela foi morto pela polícia e o outro está jurado de morte. É aí que o triângulo amoroso cede lugar ao dilema ético, levando os personagens a um beco sem saída.

Divulgação
Alexandre Rodrigues e Caio Blat em cena de "Proibido Proibir", que estréia nesta sexta-feira
Alexandre Rodrigues e Caio Blat em cena de "Proibido Proibir", que estréia nesta sexta-feira
Tanto o niilismo individualista "proibido-proibir" de Paulo como o idealismo romântico de Leon ou Letícia mostram-se respostas fracassadas diante da realidade. "O que fazer?" é uma pergunta recorrente dos personagens, e nenhum deles tem a resposta. Ao tentar intervir na realidade, só conseguem piorar a situação.

"Coração das trevas"

O filme segue a picada da violência urbana aberta por "Cidade de Deus" no cinema nacional. Mas, enquanto "Cidade de Deus" buscava simular um olhar interno, usando o romance de Paulo Lins para mostrar a favela do ponto de vista de seus moradores, o olhar de "Proibido Proibir" é claramente um olhar de fora ("Bem vindo ao coração das trevas", diz um dos personagens ao se entrar numa favela), o olhar da classe média.

Não a classe média apavorada, que sonha com o "Caveirão" limpando as favelas, mas a classe média bem intencionada, com sua perplexidade e impotência.

História de amor e filme político (no sentido amplo do termo), "Proibido Proibir" é também uma história de rito de passagem, que mostra a transformação de jovens em adultos.

Na impossibilidade de dar respostas, o filme opta por um final em aberto, que ainda bota uma fé na esperança, quando os personagens descobrem, num velho mirante abandonado na serra, que o Rio ainda é "um lugar bonito para caralho".

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Jorge Durán
  • Leia o que já foi publicado sobre Caio Blat
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