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Mais de cem hinos daimistas embalam enterro de cartunista e filho em SP
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LAURA CAPRIGLIONE
SILAS MARTÍ
da Folha de S.Paulo
Foram enterrados ontem (13) pela manhã os corpos do cartunista Glauco Vilas Boas, 53, e de seu filho Raoni, 25, assassinados a tiros na madrugada de sexta-feira, em Osasco. Mas começou bem antes de os corpos descerem à cova, às 10h30, no cemitério Gethsemani Anhanguera, zona norte de São Paulo, o chamado "trabalho de passagem" em homenagem aos dois.
Familiares e amigos das vítimas, mortas em frente à casa onde moravam na comunidade religiosa daimista Céu de Maria, fundada por Glauco nos anos 90, passaram a noite velando os corpos e cantando hinos do Mestre Irineu, uma espécie de apóstolo da religião, além de outros de autoria do próprio cartunista, compositor e líder religioso.
Ninguém dormiu. Foram 116 cantos, entoados desde a noite de sexta-feira até o começo da manhã de ontem, sempre entremeados por três pais nossos e três avemarias. "Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vamos nós ao vosso reino...", recitaram, diferentemente dos católicos.
Amanheceu sob sol forte o conjunto de casas em torno da igreja onde foram velados Glauco e seu filho. Cerca de cem pessoas tresnoitadas, muitas envergando os trajes brancos típicos dos daimistas, aguardavam chorando a partida do cortejo fúnebre no gramado da comunidade, no conjunto de morros que formam o pico do Jaraguá.
O carro do serviço funerário recolheu os corpos por volta das 9h. Saiu com a mulher de Glauco, Beatriz Galvão, no banco da frente, segurando um lenço branco para fora da janela.
Na chegada ao cemitério, os caixões de Glauco e Raoni, ambos cobertos com bandeiras do Daime (também do Corinthians no caixão de Glauco e do São Paulo, no de Raoni), foram aplaudidos.
Juliana, enteada de Glauco que estava presente na cena do assassinato, "puxava" a cantoria, ao lado de César Augusto Vilas Boas, conhecido como Pelicano, irmão de Glauco.
O cartunista e seu filho estavam vestidos com as fardas brancas do Santo Daime, o traje de gala da religião. Sob temperatura que passou dos 30º C, familiares ultimaram o rito em homenagem aos mortos, cantando hinos (mais 12) e rezando. Jogaram flores sobre os caixões. O sepultamento acabou por volta das 11h.
Na saída do enterro, a cartunista Ciça Alves Pinto, que nos anos 70 criou o personagem Pato, em tirinhas publicadas na Folha, lembrou a influência de Glauco. "Ele fazia um humor com o que havia de mais nítido, todo tipo de opressão ele explodia nos quadrinhos dele", disse. "Era uma pessoa doce e tímida ao mesmo tempo. Quando acabou a repressão política, ele continuou ilustrando as opressões sociais."
Também estiveram no enterro ontem pela manhã os cartunistas Orlando Spacca, Caco Galhardo e Fábio Moon.
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