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12/12/2000
-
04h19
CASSIANO ELEK MACHADO, da Folha de S.Paulo
Depois de abocanharem a Telesp, em 1998, e o Banespa, no mês passado, os espanhóis estão colocando suas pesetas nas artes plásticas brasileiras.
Abre hoje no Reina Sofia, um dos museus de arte contemporânea mais importantes do mundo, a exposição "Versiones del Sur" (Versões do Sul), com mais de 150 obras vindas do Brasil. Já em Valência (cerca de 300 km ao sul de Madri), "De la Antropofagia a Brasília" reúne 700 obras de brasileiros.
"Os espanhóis estão querendo conquistar o único país que eles não tiveram no império deles", brinca Ivo Mesquita. "Estão querendo conhecer melhor o lugar no qual estão investindo."
O crítico brasileiro é o curador, com Adriano Pedrosa, de um dos cinco módulos da mostra madrilena, uma das maiores já realizadas no mundo sobre a arte latino-americana.
"Não me lembro de nenhuma mostra latina contemporânea desse porte", diz o artista Cildo Meireles, que andava na manhã de segunda pelos compridos corredores do museu, acompanhado pela galerista Luisa Strina.
Com custos estimados em cerca de US$ 2 milhões, "Versiones del Sur" tem como objetivo "considerar e revisar a variedade e complexidade da produção artística moderna e contemporânea do continente americano", como explica o espanhol radicado em Nova York Octavio Zaya, um dos coordenadores do projeto.
A megaexposição, que começou a ser planejada há dois anos, teve como um de seus pressupostos básicos evitar qualquer forma de linearidade histórica.
"Queremos mostrar como a arte latina vive em um não-lugar. É uma arte que não encontrou uma utopia", explica Mari Carmen Ramírez, crítica argentina que é a curadora, com o mexicano Hector Oléa, do módulo Heterotopias: Meio Século sem um Lugar, o maior da exposição (400 obras).
"A maior parte dos trabalhos são brasileiros", explica Oléa, apontando obras de artistas distintos como Vicente do Rego Monteiro, dos anos 20, e o contemporâneo Abraham Palatnik.
"O brasileiro Waldemar Cordeiro (pioneiro da arte concreta) é uma das vigas que sustentam a mostra, ao lado do argentino León Ferrari, que morou muitos anos em São Paulo", completa.
F(r)icções, segmento curado pelos brasileiros Mesquita e Pedrosa, também deixa de lado qualquer anseio cronológico. "Buscamos o que chamamos de fricções, relações entre artistas de tempos diferentes que trabalharam temas semelhantes", aponta Ivo Mesquita, que colocou lado a lado
pinturas mexicanas do século 18 e obras contemporâneas.
"Construímos uma grande narrativa. Mas é uma ficção que faz elipses de tempo."
Os saltos temporais também fazem parte de Mas Além do Documento, que
discute especificamente a fotografia, mas cuja principal preocupação foi geográfica.
"É impossível falar de uma fotografia latino-americana em uma exposição de arte latino-americana. A única coisa que fica dessa denominação vem
das fronteiras geográficas", explica a curadora Mónica Amor.
Entre os selecionados por ela, estão desde veteranos como o mexicano Manuel Álvarez Bravo até jovens como os brasileiros Rochelle Costi e Miguel Rio Branco.
Contemporâneos (e conterrâneos) de Costi e Rio Branco, Iran do Espírito Santo e Rivane Neuenschwander são destaques de Não É Só o Que Vês - Pervertendo o Minimalismo, organizado por Gerardo Mosquera.
A idéia desse núcleo é, segundo Mosquera, "mostrar como a cultura latino-americana se especializou em subverter modelos culturais euro/norte-americanos".
O último segmento, "Eztétyka del Sueño" (Estética do Sonho), é o único que não será inaugurado hoje. A mostra curada pelos críticos Carlos Basualdo e Octavio Zaya teve abertura adiada para 23 de janeiro de 2001.
Basualdo, que prepara a exposição no Palácio de Cristal, prédio de exposições no parque Buen Retiro, próximo ao museu, adianta que a figura central da exposição não é nenhum artista plástico, mas sim o cineasta Glauber Rocha, definido como "uma das personalidades mais ativas no
cenário cultural sul-americano nos anos 60".
Os destaques da mostra são também brasileiros: uma grande peça de Cildo Meireles e trabalhos de Tunga.
Espanha recebe mais de 850 peças do Brasil
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Depois de abocanharem a Telesp, em 1998, e o Banespa, no mês passado, os espanhóis estão colocando suas pesetas nas artes plásticas brasileiras.
Abre hoje no Reina Sofia, um dos museus de arte contemporânea mais importantes do mundo, a exposição "Versiones del Sur" (Versões do Sul), com mais de 150 obras vindas do Brasil. Já em Valência (cerca de 300 km ao sul de Madri), "De la Antropofagia a Brasília" reúne 700 obras de brasileiros.
"Os espanhóis estão querendo conquistar o único país que eles não tiveram no império deles", brinca Ivo Mesquita. "Estão querendo conhecer melhor o lugar no qual estão investindo."
O crítico brasileiro é o curador, com Adriano Pedrosa, de um dos cinco módulos da mostra madrilena, uma das maiores já realizadas no mundo sobre a arte latino-americana.
"Não me lembro de nenhuma mostra latina contemporânea desse porte", diz o artista Cildo Meireles, que andava na manhã de segunda pelos compridos corredores do museu, acompanhado pela galerista Luisa Strina.
Com custos estimados em cerca de US$ 2 milhões, "Versiones del Sur" tem como objetivo "considerar e revisar a variedade e complexidade da produção artística moderna e contemporânea do continente americano", como explica o espanhol radicado em Nova York Octavio Zaya, um dos coordenadores do projeto.
A megaexposição, que começou a ser planejada há dois anos, teve como um de seus pressupostos básicos evitar qualquer forma de linearidade histórica.
"Queremos mostrar como a arte latina vive em um não-lugar. É uma arte que não encontrou uma utopia", explica Mari Carmen Ramírez, crítica argentina que é a curadora, com o mexicano Hector Oléa, do módulo Heterotopias: Meio Século sem um Lugar, o maior da exposição (400 obras).
"A maior parte dos trabalhos são brasileiros", explica Oléa, apontando obras de artistas distintos como Vicente do Rego Monteiro, dos anos 20, e o contemporâneo Abraham Palatnik.
"O brasileiro Waldemar Cordeiro (pioneiro da arte concreta) é uma das vigas que sustentam a mostra, ao lado do argentino León Ferrari, que morou muitos anos em São Paulo", completa.
F(r)icções, segmento curado pelos brasileiros Mesquita e Pedrosa, também deixa de lado qualquer anseio cronológico. "Buscamos o que chamamos de fricções, relações entre artistas de tempos diferentes que trabalharam temas semelhantes", aponta Ivo Mesquita, que colocou lado a lado
pinturas mexicanas do século 18 e obras contemporâneas.
"Construímos uma grande narrativa. Mas é uma ficção que faz elipses de tempo."
Os saltos temporais também fazem parte de Mas Além do Documento, que
discute especificamente a fotografia, mas cuja principal preocupação foi geográfica.
"É impossível falar de uma fotografia latino-americana em uma exposição de arte latino-americana. A única coisa que fica dessa denominação vem
das fronteiras geográficas", explica a curadora Mónica Amor.
Entre os selecionados por ela, estão desde veteranos como o mexicano Manuel Álvarez Bravo até jovens como os brasileiros Rochelle Costi e Miguel Rio Branco.
Contemporâneos (e conterrâneos) de Costi e Rio Branco, Iran do Espírito Santo e Rivane Neuenschwander são destaques de Não É Só o Que Vês - Pervertendo o Minimalismo, organizado por Gerardo Mosquera.
A idéia desse núcleo é, segundo Mosquera, "mostrar como a cultura latino-americana se especializou em subverter modelos culturais euro/norte-americanos".
O último segmento, "Eztétyka del Sueño" (Estética do Sonho), é o único que não será inaugurado hoje. A mostra curada pelos críticos Carlos Basualdo e Octavio Zaya teve abertura adiada para 23 de janeiro de 2001.
Basualdo, que prepara a exposição no Palácio de Cristal, prédio de exposições no parque Buen Retiro, próximo ao museu, adianta que a figura central da exposição não é nenhum artista plástico, mas sim o cineasta Glauber Rocha, definido como "uma das personalidades mais ativas no
cenário cultural sul-americano nos anos 60".
Os destaques da mostra são também brasileiros: uma grande peça de Cildo Meireles e trabalhos de Tunga.
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