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12/12/2000 - 04h48

Zé Celso e Suplicy atualizam engajamento

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VALMIR SANTOS, da Folha de S.Paulo

No final dos anos 60, o estudante Eduardo Matarazzo Suplicy organizava caravanas de colegas da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Eaesp-FGV), em São Paulo, para assistir aos espetáculos do grupo Oficina, dirigido por José Celso Martinez Corrêa.

Segundo Suplicy, montagens como "Pequenos Burgueses" (1963-70), de Gorki, e "Galileu Galilei" (68), de Brecht, foram fundamentais em sua formação.

A amizade seguiria depois com vários encontros teatrais. O mais recente foi motivado pela montagem amadora de "Queda para o Alto", com a Cia. de Teatro Heliópolis, baseada na vida da ex-interna da Febem Sandra Mara Herzer, que cometeu suicídio em 82.

O encenador Zé Celso, 63, e o senador Suplicy (PT-SP), 59, pré-candidato à Presidência em 2002, encontraram-se no último sábado no Oficina, que recebeu a peça interpretada por jovens da favela Heliópolis (zona sul). No mesmo palco dos anos 60, eles falaram à Folha sobre política, teatro e engajamento social e artístico.

Folha - Cada um em sua área, como vêem a relação teatro-política?
Eduardo Suplicy -
A política é a busca de uma vida mais justa, do bem comum. Tudo o que tem a ver com a vida é da política. E o teatro é a representação da vida. Eu aprendi que o teatro é uma das melhores formas para abrir janelas; ajudou muito na minha conscientização como ser humano.
Zé Celso - Num certo sentido, na sociedade em que estamos vivendo agora, tudo é teatro; é a sociedade do espetáculo. Maluf, por exemplo, é um homem de teatro, representa um determinado papel desde que nasceu. Só que ele faz teatro e não tem consciência disso. O Suplicy faz conscientemente, tem noção do espetáculo político. Ninguém da área de marketing precisa falar para você (olha para Suplicy) passar três dias na periferia, por exemplo.

Eu fico muito feliz com o fato de o teatro Oficina ter passado para o Eduardo uma compreensão concreta do que é teatro. O teatro, inclusive, é ligado ao poder que o ser humano tem de transformar a sociedade em que vive.

Na minha vida, o Eduardo tem sido uma figura importantíssima. Eu estava assistindo a um show de João Gilberto com ele, por exemplo, quando recebemos a notícia da morte de Glauber Rocha (1939-81). Eduardo pagou-me a passagem do avião e fez questão de que eu fosse ao enterro, no Rio, um episódio decisivo em minha vida.

Suplicy - Quando era estudante, entre os 19 e os 23 anos, eu comprava os espetáculos no Oficina. Pedia para o Zé fazer um pequeno desconto para o pessoal da FGV. E ainda havia os debates depois de cada apresentação, fundamentais para a minha formação...

Zé Celso - ...E de muita gente também, que depois traiu essa formação, por achar que o sonho acabou, e ficou com horror de qualquer ação ou visão teatral.

Hoje o teatro está vivendo um momento importante. Na semana passada, o Movimento Arte contra a Barbárie foi à Câmara Municipal de São Paulo.
Depois da lavagem da corrupção, a gente foi lá e fez uma lavagem teatral, com batucada e coro musical improvisado. Os vereadores ficaram agradecidos. Compreenderam o que é teatro. Nestes oito anos, eles não tinham visto nada parecido com a nossa manifestação coletiva.

Folha - É um novo engajamento?
Zé Celso -
Eu quero em vida ver o Brasil com um governo de esquerda. É uma oportunidade histórica enorme. Muita gente já não tem as ilusões de anos atrás, quando o Collor trouxe a globalização sem soberania, continuada depois por "Fernando 2º" (FHC).

Aqui no Oficina já abrigamos atos do MST, do Arte contra a Barbárie, de arquitetos, teatro com pacientes mentais e agora os jovens da favela de Heliópolis.

Tudo isso em um momento em que há possibilidade de transformação social. E o teatro cresce esteticamente, fica forte porque tem essa energia do povo.

Suplicy - A Cia. de Teatro Heliópolis é um exemplo dessa força transformadora da arte. Há muitas ocasiões em que só por meio dela você tem a percepção mais profunda das coisas, com o amor ao ser humano. Qual é o grito de Sandra Mara Herzer? "Eu só gostaria que todos os menores fossem tratados como ser humano, com dignidade, com amor, com carinho."
 

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