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15/12/2000 - 04h14

"Letti e Lotte" põe em discussão a função da própria dramaturgia

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FABIO CYPRIANO, da Folha de S.Paulo

O início da peça "Letti e Lotte", com direção de Bibi Ferreira, tem um pretenso ritmo de videoclipe. Pequenas cenas são entremeadas por uma voz que anuncia os créditos do espetáculo, uma solução bastante entediante, que tira o ritmo da peça logo no começo.

Mas, quando o espetáculo deslancha de fato, domina a cena o inteligente e instigante texto de Peter Shaffer, o dramaturgo britânico que escreveu também "Amadeus", transposto para o cinema pelo diretor Milos Forman, em 1984.

Lettice, ou Letti (Rosamaria Murtinho), é a funcionária de um museu, encarregada de guiar os visitantes pela instituição. Para conseguir atenção nos entediantes aposentos do lugar, Letti romanceia as histórias que se passaram ali.

Algo muito próximo do que se faz, por exemplo, no jornalismo sensacionalista, que, em busca de leitores, dá cores ao cinzento cotidiano. Entretanto, e isso é fundamental na encenação, não é só no jornalismo que isso ocorre, afinal a criatividade é um dos melhores atributos do ser humano, e é justamente sobre isso que trata a peça, um estímulo ao poder inventivo.

Charlotte, ou Lotte (Nathalia Timberg), é a chefe de recursos humanos do museu que, após ouvir sobre os exageros da funcionária, decide despedi-la. Contudo o encontro com Letti vai mudar a vida burocratizada de Lotte, que se seduz pelos ímpetos criativos da ex-funcionária.

O texto de Shaffer trata o assunto de maneira envolvente, afinal a vida encenada de Letti, filha de uma atriz, põe em discussão a função do próprio teatro.

Letti representa a ousadia, aquela que busca superar a mediocridade do dia-a-dia por meio da criatividade, com um novo olhar sobre a humanidade, o que tem tudo a ver com a linguagem do teatro.

A encenação é o recurso de Letti para tornar sua vida -em primeiro lugar, mas também dos que estão à sua volta- mais interessante.

E sua inspiração é a dramaturgia. Como o próprio texto da peça resume: "Sem teatro não há teatro".

Nos papéis principais, Murtinho e Timberg mostram uma cumplicidade contagiante.

A primeira tem uma interpretação ousada, exagerada, como requer a
personagem.

Enquanto Timberg passa pela transformação de ser uma chefe careta até
abandonar seus antigos valores.

A cenografia do espetáculo contribui para a discussão da teatralidade.
Como uma caixa de surpresas, as paredes se transformam ao longo da peça, e alguns elementos têm função multiuso, o que ressalta a importância da criatividade.

"Letti e Lotte" trata da importância de saber dizer não às regras do jogo, de compreender que regras são meras convenções e que o espírito humano sempre deve estar acima dessas regras.

É uma ode à rebeldia e à solidariedade, num tempo em que reina o conformismo e o individualismo.

Letti e Lotte
Texto:
Peter Shaffer
Direção: Bibi Ferreira Com: Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Nelson Dantas e outros
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Renaissance (al. Santos, 2.233, tel. 0/xx/11/3069-2233)
Quanto: R$ 40 e R$ 50
 

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