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30/12/2000 - 09h57

Transforme a leitura no "esporte" do verão

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

A atividade não chega a rivalizar com o frescobol, com as pranchas de surfe nem mesmo com as coleções de conchas. Não ganha das caminhadas e nem pode ser comparável à prolífica engenharia de castelinhos de areia.

A leitura é uma prática quase exótica no litoral brasileiro. Para dar um empurrão nessa tática alternativa de esconder o rosto do sol, o Folha Praia elaborou uma seleção de bons livros lançados no final deste ano. Eles foram divididos de acordo com a modalidade de leitura na qual o praticante desse esporte se inscreve.

A categoria de base da leitura praiana é aquela que é feita com um olho nas letras, outro nas (nos) passantes, com doce balanço a caminho do mar. Para essa literatura de esteira, o ideal são livros-pílula, aqueles que podem ser começados e retomados depois que o vendedor grita "olha o biscoito salgado e doce".

"O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr" (ed. Senac São Paulo, R$ 20) é um deles. Lançado originalmente em 1973, agora revisto e ampliado, o livro reúne máximas, aforismos e meditações de Millôr Fernandes. "Em dúvida, não duvide", crava o chamado guru do Méier, em um dos 500 pensamentos do volume.

Além de Millôr, outra figura central do jornal "O Pasquim" também tem uma obra boa de praia na prateleira de lançamentos. "Ipanema" (Relume Dumará, R$ 12), de Jaguar, é um passeio sentimental/etílico pelo calçadão de uma das praias mais famosas do mundo. Não espere critérios histórico-científicos. A obra, ilustrada pelo autor, está mais para conversa (da boa) de botequim.

Outra categoria da leitura praiana é a de fator de proteção solar 30. São aqueles livros que deixam o leitor tão absorto que ele não percebe nem que sua pele está fritando ao sol. Duas narrativas sobre desastres entram nesse grupo de livros, a serem explorados com generosas camadas de filtro solar.

"No Coração do Mar" (Companhia das Letras, R$ 31,50), de Nathaniel Philbrick, é uma descrição minuciosa da expedição que inspirou Herman Melville a escrever o clássico "Moby Dick" (leitura de peso para praias).

A envolvente história do baleeiro Essex, abalroado em 1820 por uma gigantesca baleia cachalote, só não é recomendável para os que pretendem fazer alguma atividade marítima. Dos 20 tripulantes que embarcaram, só oito sobreviveram, usando como alimento os marinheiros mortos.

Apreciadores de grandes tragédias também encontram porto seguro em obra de Ivan Sant'Anna. Em "Caixa-Preta" (Objetiva, R$ 29,90), o escritor reconstrói com detalhes três episódios aéreos brasileiros, como o desastre do Boeing 707 que se espatifou em um campo de repolho na França, em 1973, matando 122 pessoas.

O último e terceiro filo de leitores praianos é aquele dos que quando chegam ao habitat procuram logo a melhor sombra. São esses os leitores de obras mais encorpadas, aqueles que fazem dos livros sua praia no ano todo.

Para esses, há uma competente nova edição de um dos grandes livros da história da humanidade.

"Os Ensaios" (Martins Fontes, R$ 98, dois volumes), de Michel de Montaigne, livro que delineou os contornos do gênero ensaístico, discute o homem em seus aspectos mais amplos (além das grandes questões morais, trata das doenças até o sono, da embriaguez até as dietas).

Escrito em um castelo, no século 16, o livro permanece fresco até para ser lido à beira-mar. É texto para ser degustado vagarosamente. De preferência longe dos bate-bolas de frescobol.
 

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