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04/01/2001 - 04h08

Biografia iguala "quinto beatle" a legião de fãs

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CHARLES TAYLOR, da "Salon"

Em "Os Flintstones", em que um personagem era um empresário de rock britânico inspirado por Brian Epstein (no episódio em que Pedrita e Bam-Bam se tornam astros do rock), ele era chamado Eppy Brianstone. E na verdade Eppy era o apelido usado pelos seus clientes mais famosos -aqueles que ele chamava de "os garotos", mesmo muito depois que eles tivessem envelhecido demais para o título. Epstein deve ter adorado a informalidade do apelido. Breve e confiante, era tudo que jamais conseguiu ser, ao menos tanto quanto desejaria.

Se você acredita na teoria da inevitabilidade histórica, os Beatles teriam deixado sua marca no mundo quer tivessem encontrado Brian Epstein, quer não. E talvez algum empresário de Londres, descobrindo a popularidade regional deles, tivesse terminado por ir a Liverpool e os transformado em astros britânicos menores, virtualmente desconhecidos no resto do mundo.

Mas o fato é que não havia ninguém no círculo dos Beatles dotado da visão e da persistência necessárias a perceber o que Epstein percebeu quando se aventurou na úmida escuridão do Cavern Club para assistir a um dos rudes e desorganizados shows de hora de almoço da banda.

De que outra maneira explicar que um sujeito polido e cortês, gerente de uma loja de discos e criado ao som de música clássica, tenha decidido se tornar o empresário dos Beatles na primeira vez em que os viu? Como explicar sua persistência diante das rejeições de quase todas as gravadoras britânicas e do riso que acompanhava sua afirmação inabalável de que um dia os Beatles seriam maiores do que Elvis?

A única explicação possível é que Epstein era um visionário de gênio. As diversas histórias dos Beatles exageraram as limitações de Epstein como homem de negócios e é verdade que nenhuma outra de suas descobertas sobreviveu aos primeiros sucessos. Mas quaisquer que tenham sido os talentos que ele demonstrou como gerente da seção de discos na loja de sua família em Liverpool, prevendo que discos venderiam e quais fracassariam, eles decerto chegaram à plenitude quando ele viu os Beatles pela primeira vez.

O comovente e revelador "In My Life: The Brian Epstein Story" (Em Minha Vida: A História de Brian Epstein), de Debbie Geller, dá a Epstein um lugar central na história dos Beatles.

O livro é apresentado na forma de uma história oral, com reminiscências de, entre outros, Paul McCartney; do sócio norte-americano de Epstein, Nat Weiss; de sua secretária, Joanne Petersen; e de outros amigos, familiares e associados de negócios. Há também passagens espantosas do diário secreto que Epstein escreveu (sua "autobiografia", na verdade redigida pelo assessor de imprensa dos Beatles, Derek Taylor). As entrevistas apareceram originalmente no documentário britânico "The Brian Epstein Story".

Epstein dizia às vezes que sua ligações com os Beatles era indescritível, quase mística. Mas ele nunca se enturmou plenamente com a banda. Não era exatamente por ele ser judeu (Taylor diz que havia muito anti-semitismo em Liverpool, mas também muitos judeus na cidade) e a despeito das histórias que não param de ser repetidas (especialmente sobre a relação entre Epstein e John Lennon), o homossexualismo do empresário tampouco era a causa.

Nada disso muda ou minora a forma pela qual o judeu e homossexual Epstein se sentia excluído. Mas Epstein sempre esteve de fora -o sujeito "artístico" em uma família que ele amava, mas da qual sua sensibilidade e temperamento o separavam. Não demonstrou interesse pelas lojas dos Epstein e, antes que enfim se acomodasse e encontrasse o sucesso dirigindo a seção de discos das empresas da família, ele tentou por um semestre a Academia Real de Arte Dramática e teve uma passagem infeliz pelo Corpo de Serviços do Exército britânico.

"In My Life" registra a tristeza e o orgulho de Epstein como excluído. Mas, em última análise, o que é realmente inesperado sobre o livro é a forma pela qual ele finalmente explica o espírito protetor que os fãs dos Beatles sempre sentiram em relação a Epstein. Em termos simples, nós o amávamos porque ele era como nós. Parte do círculo íntimo, mas excluído dele, Epstein viveu a versão mais intensa da compulsão que todos nós que os ouvimos um dia sentimos: o desejo de sermos Beatles.

A mensagem dos Beatles era a de que seria possível imaginar um mundo onde as preocupações básicas, amor e trabalho, seriam adoçadas e reforçadas pelos elos de uma camaradagem que não era exclusiva, mas que abarcava quem quer que ouvisse a mensagem, a compreendesse e quisesse se tornar parte dela.

A interação entre os Beatles e os seus fãs combina o êxtase da comunicação aberta e imediata e a tristeza das duas partes que são mantidas separadas. E como o fã definitivo dos Beatles, aquele cuja fé e dedicação tornaram possível à banda se fazer lenda, Epstein não tinha como superar a distância.

O momento mais tocante do livro é a história sobre Epstein assistindo a um show dos Beatles do fundo do teatro e perdendo o controle, gritando junto com as garotas da audiência. Os clipes de filmes com garotas gritando e chorando em shows dos Beatles se transformaram em uma espécie de piada. Mas jamais houve nada louco sobre essa molecada. Epstein respondia aos Beatles de uma maneira que tinha a ver com a alegria inefável e ascendente que a banda projetava.

"In My Life" responde de uma vez por todas à pergunta sobre quem de fato foi o quinto Beatle. Nos melhores anos da carreira do conjunto, era Epstein que sentia a mesma coisa que milhões de outros fãs da banda.

Amanhã, o quinto beatle vai ser quem quer que ouça a música ou assista aos filmes deles e se apaixone de maneira igualmente profunda.

Livro: In My Life: The Brian Epstein Story
Autor: Debbie Geller
Editora: St. Martin's Press
Quanto: US$ 20, em média (208 págs.)
Onde encontrar: www.bn.com, www.amazon.com
 

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