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04/01/2001 - 04h28

Epidemia de riso durou dois anos e meio na África

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da Folha de S.Paulo

Em 30 de janeiro de 1962, três meninas começaram a rir num internato em Kahasha, um vilarejo na então Tanganika, hoje Tanzânia. As risadas logo tomaram 95 das 159 alunas da escola, que fechou as portas para evitar tumultos.

O internato reabriu em 21 de maio e foi novamente fechado um mês depois: o ataque de riso contaminara outras 57 garotas.

Os surtos de gargalhadas duravam várias horas e, em algumas ocasiões, se repetiam quatro vezes. Houve casos em que os sintomas duraram 16 dias.
De Kahasha a epidemia migrou para Nshamba, a vila onde moravam pais de várias meninas do internato. Mais de 200 dos 10 mil habitantes da cidadezinha sofreram ataques de riso.

Em junho, uma outra escola nas imediações também foi contagiada e teve de fechar porque 48 de suas 154 alunas riam sem parar. A praga então se espalhou como fogo na pradaria.

O ataque de riso só parou em junho de 1964, dois anos e meio depois de iniciado. No total, ele atingiu cerca de mil pessoas. Catorze escolas tiveram de ser fechadas temporariamente.

A epidemia foi debelada quando as vilas atacadas foram submetidas a quarentena: ninguém entrava ou saía delas enquanto houvesse gente gargalhando compulsivamente.

A praga se espalhou em ondas. Primeiro afetava as adolescentes que estudavam em escolas cristãs, depois atingia suas mães e parentes do sexo feminino. Pais, policiais e professores não foram contaminados.

Investigou-se a possibilidade de ter ocorrido alguma reação tóxica, ou então um surto de encefalite. Os resultados foram negativos. Conclui-se que a origem da epidemia teve origem psicogênica, histérica.

"Classificar a epidemia de riso em Tanganika como exotismo de uma cultura alienígena é desconsiderar as implicações mais amplas do fenômeno", escreve o autor de "Laughter: A Scientific Investigation", perguntando em seguida: "Todos nós já não experimentamos uma forma menor de epidemia de riso?".

A risada é involuntariamente contagiosa. Segundo Provine, o ataque de riso coletivo "desafia a combalida hipótese de que somos criaturas racionais, no controle pleno e consciente de nosso comportamento".

Descontrole animal
O riso descontrolado de um grupo aproxima os seres humanos dos bandos de cães em que, quando um late, todos os outros latem em seguida. Ou dos pássaros, que subitamente imitam um líder, indo todos pousar na mesma árvore.

O bocejo e o choro também são contagiantes, mas num grau muito menor que a risada. Não é por outro motivo que a risada pode ser industrializada.

Os seriados norte-americanos de televisão, por exemplo, usam trilhas sonoras com risadas desde a década de 50. Colocadas no fim de piadas e situações cômicas, elas buscam contagiar o espectador que, sozinho, assiste ao programa em sua casa. Sozinho, o riso é mais difícil.
(MSC)
 

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