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05/01/2001
-
04h37
INÁCIO ARAUJO, da Folha de S.Paulo
Em "Santo Forte", seu filme anterior, Eduardo Coutinho eliminava a fronteira entre o ficcional e o documental. Em princípio, mostrava seres reais, "verdadeiros", mas tudo o que eles faziam era nos lançar no mundo imaginário da religiosidade em um morro carioca.
Em "Babilônia 2000", Coutinho volta ao morro, o método é o mesmo, mas o resultado é de certa forma o inverso.
As pessoas que se preparam para a chegada do ano 2000 (tudo é filmado entre 11h30 da manhã de 31 de dezembro e 0h35 de 1º de janeiro) numa favela de Copacabana são seres que existem antes de mais nada no imaginário da classe média, isto é, bandidos em potencial.
"Babilônia" nos mostrará o reverso dessa imagem: pessoas de carne e osso, com beleza, feiúra, cantos, sonhos e dores próprios -ainda que compartilháveis por qualquer mortal.
Esse reverso não é, porém, a imagem que desconstrói a visão histérica que as pessoas "do asfalto" (com o apoio da mídia) criaram dos pobres para, em seu lugar, instaurar "a verdade".
Coutinho acredita em Godard, quando diz que não existe imagem verdadeira, e partilha dessa angústia.
Seu método para combatê-la é escancarar a própria filmagem: mostrar a equipe, as câmeras, o entrevistador formulando as perguntas.
Isso não torna as pessoas mais verdadeiras. Cada um, diante da câmera, vai montando sua própria imagem, deixando aparecer o que deve ser visto.
Também nos inteiramos de que não existe objetividade possível: o entrevistador nutre pelas pessoas que mostra uma insofismável simpatia.
"Babilônia 2000" não é o primor que era "Santo Forte". Sua aposta na simultaneidade (diversas equipes filmam ao mesmo tempo a chegada do novo ano) tende a criar desequilíbrios evidentes (certas entrevistas são mais bem conduzidas do que outras).
Em razão disso, o filme tende à desigualdade, uma vez que certos personagens são vistos em profundidade (como o sambista Dody, por exemplo), enquanto a abordagem de outros tantos é bem mais formal.
Se em "Santo Forte" um número relativamente pequeno de personagens chegava a produzir uma idéia da religiosidade brasileira, em "Babilônia 2000" o número grande de entrevistados nem por isso produz um painel mais amplo ou mais claro.
"Babilônia 2000" esboça uma odisséia de um dia de algumas equipes de filmagem. O "tour de force" da realização antecipa-se, toma o lugar e quase ofusca seu objeto.
Faz parte da integridade dos filmes de Eduardo Coutinho mostrar as equipes de filmagem em ação. Aqui elas não faltam. Não raro, no entanto, o espectador se pilhará pensando justamente naquilo que o filme não mostra: o terrível lufa-lufa das equipes em sua batalha contra o correr do tempo.
Babilônia 2000
Direção: Eduardo Coutinho
Produção: Brasil, 2000
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco
Coutinho vai à favela fazer painel desigual sobre a passagem do ano
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Em "Santo Forte", seu filme anterior, Eduardo Coutinho eliminava a fronteira entre o ficcional e o documental. Em princípio, mostrava seres reais, "verdadeiros", mas tudo o que eles faziam era nos lançar no mundo imaginário da religiosidade em um morro carioca.
Em "Babilônia 2000", Coutinho volta ao morro, o método é o mesmo, mas o resultado é de certa forma o inverso.
As pessoas que se preparam para a chegada do ano 2000 (tudo é filmado entre 11h30 da manhã de 31 de dezembro e 0h35 de 1º de janeiro) numa favela de Copacabana são seres que existem antes de mais nada no imaginário da classe média, isto é, bandidos em potencial.
"Babilônia" nos mostrará o reverso dessa imagem: pessoas de carne e osso, com beleza, feiúra, cantos, sonhos e dores próprios -ainda que compartilháveis por qualquer mortal.
Esse reverso não é, porém, a imagem que desconstrói a visão histérica que as pessoas "do asfalto" (com o apoio da mídia) criaram dos pobres para, em seu lugar, instaurar "a verdade".
Coutinho acredita em Godard, quando diz que não existe imagem verdadeira, e partilha dessa angústia.
Seu método para combatê-la é escancarar a própria filmagem: mostrar a equipe, as câmeras, o entrevistador formulando as perguntas.
Isso não torna as pessoas mais verdadeiras. Cada um, diante da câmera, vai montando sua própria imagem, deixando aparecer o que deve ser visto.
Também nos inteiramos de que não existe objetividade possível: o entrevistador nutre pelas pessoas que mostra uma insofismável simpatia.
"Babilônia 2000" não é o primor que era "Santo Forte". Sua aposta na simultaneidade (diversas equipes filmam ao mesmo tempo a chegada do novo ano) tende a criar desequilíbrios evidentes (certas entrevistas são mais bem conduzidas do que outras).
Em razão disso, o filme tende à desigualdade, uma vez que certos personagens são vistos em profundidade (como o sambista Dody, por exemplo), enquanto a abordagem de outros tantos é bem mais formal.
Se em "Santo Forte" um número relativamente pequeno de personagens chegava a produzir uma idéia da religiosidade brasileira, em "Babilônia 2000" o número grande de entrevistados nem por isso produz um painel mais amplo ou mais claro.
"Babilônia 2000" esboça uma odisséia de um dia de algumas equipes de filmagem. O "tour de force" da realização antecipa-se, toma o lugar e quase ofusca seu objeto.
Faz parte da integridade dos filmes de Eduardo Coutinho mostrar as equipes de filmagem em ação. Aqui elas não faltam. Não raro, no entanto, o espectador se pilhará pensando justamente naquilo que o filme não mostra: o terrível lufa-lufa das equipes em sua batalha contra o correr do tempo.
Babilônia 2000
Direção: Eduardo Coutinho
Produção: Brasil, 2000
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco
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