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05/01/2001 - 05h05

Alemães habitam os morros do Rio por um mês

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ANA FRANCISCA PONZIO, da Folha de S.Paulo

Artistas alemães, como o coreógrafo e bailarino Tom Plischke, devem neste ano morar temporariamente em favelas cariocas, para depois interpretar tal experiência nos palcos. A idéia, que integra o projeto A Cultura da Favela, é de Klauss Vetter, cineasta e diretor do Instituto Goethe do Rio.

Artistas brasileiros e alemães estão envolvidos no projeto, cujo custo aproximado de R$ 500 mil deverá ser parcialmente patrocinado pelas Casas de Cultura de Berlim. Segundo Vetter, entre os participantes está o diretor teatral Gerald Thomas, que neste semestre estreará uma peça afinada com a temática do projeto.

Outro envolvido é o artista plástico Tunga. Ele também colherá nas favelas material para quadros, objetos e instalações que comporão uma exposição que será apresentada no Rio e em Munique. "O primeiro local que acolherá a mostra será uma galeria na favela do morro do Catete, criada há alguns anos pelo jornalista anglo-hindu Bob Nadcarni", diz Vetter.

Antes de dirigir o Goethe do Rio, Vetter exerceu cargo semelhante na sede paulista do instituto. Na época, há quase dez anos, fez um documentário sobre a periferia de São Paulo, que foi exibido na Alemanha. "Tal filme me revelou a periferia como um lugar clandestino e até certo ponto enigmático. Depois, no Rio, me deparei com o único lugar no mundo onde a periferia está localizada no coração da cidade. Em meio a um mundo fechado em suas próprias leis, com um sistema de prestação de serviços que só a favela conhece."

Acreditando que a cultura é uma saída para estimular um sentido mais elevado da vida entre as populações de favelas, Vetter cita o trabalho da coreógrafa Carmen Luz, que nos anos 90 fundou no Rio a Cia. Étnica de Dança e Teatro do Morro do Andaraí. "Carmen já formou 52 dançarinos e atores. Sem fazer uma tradução linear do dia-a-dia, ela elabora suas peças a partir da linguagem corpórea, da gestualidade, da mímica, do ritmo musical, além das histórias e sonhos contados por moradores de favelas", diz Vetter.

Incluído no projeto, o trabalho de Carmen também deverá ser mostrado na Alemanha este ano, assim como o da coreógrafa e pedagoga Teresa Aguilar, que desenvolve atividade similar no Rio. No morro do Cantagalo, Teresa dirige a companhia Dançando para Não Dançar.

Sobre os problemas de segurança que os artistas poderão enfrentar durante os 30 dias nas favelas, Vetter demonstra pouca preocupação. "Mais problemático será cuidar da saúde, pois, nos morros da zona norte, as favelas ficam em baixadas, onde a sujeira se acumula nas épocas de chuvas." Apesar dos percalços, Vetter acha fundamental a vivência desse cotidiano. "É um ambiente com ruídos, sons e cheiros próprios." Para registrar tal sonoridade, ele convidou o criador de "soundscapes" Michael Fahres.

Ainda sem datas de apresentações, o projeto completará sua proposta multidisciplinar com exposições de vídeos e fotografias. "Estão confirmados participantes do Bauhaus Kolleg", diz Vetter. Da Alemanha, também vem o coreógrafo brasileiro Ismael Ivo, que volta para criar um espetáculo com mulheres da Velha Guarda da Mangueira.
 

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