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05/01/2001 - 11h20

Crítica: Filme sobre Marquês de Sade não aprofunda tabus

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da Reuters
em São Paulo

O cinema norte-americano parece sempre sofrer de um ligeiro mal-estar ao lidar com tabus como sexualidade não-convencional e os limites da liberdade de expressão. Foi assim com a Aids em "Filadélfia"(1993) e parece ser este o caso em "Contos Proibidos do Marquês de Sade" ("Quills"), lançamento da Fox dirigido por Philip Kaufman ("Henry e June"), que estréia hoje no Brasil.

Baseado na peça de Doug Wright, "Contos Proibidos do Marques de Sade" tem tudo para emplacar no circuito comercial de cinema por discutir os limites da obscenidade e a hipocrisia da censura.

Bem recebido pela crítica no exterior, o filme está concorrendo a duas indicações para o Globo de Ouro e Geoffrey Rush - que levou a estatueta de melhor ator por "Shine" (1996) - está sendo apontado como um forte candidato ao Oscar por seu papel como o Marquês de Sade.

No entanto, o filme parece censurar o seu próprio teor subversivo ao inserir tons de comédia e tragédia no seu complexo conteúdo, e não ir além na exploração da tensão sexual entre os personagens principais: o Marquês de Sade (Rush), o padre progressista Abbé Coulmier (Joaquin Phoenix) e a camareira Madeleine (Kate Winslet).

Mas a controvérsia em torno do que é ser obsceno e vulgar, e as diferenças entre pensar um ato sombrio e executá-lo ressaltam a atualidade e o mérito do filme, à luz de uma época em que obras como "Clube da Luta" (1999) continuam a gerar polêmica, e ícones como Marilyn Manson são acusados pela veia mais reacionária da sociedade de incentivar a violência.

"Contos do Marquês de Sade" se passa em Paris de 1807 e aborda de forma fantasiosa os últimos anos de vida do polêmico escritor francês no asilo em Charenton.

O médico torturador Royer-Collard, bem interpretado por Michael Caine, é enviado pelo próprio Napoleão para Charenton para aplicar uma terapia de choque para inibir o ímpeto literário do Marquês, contrariando a vontade do padre Abbé, que chega a autorizar a realização de peças teatrais no asilo organizadas por Sade.

A atriz Kate Winslet, no papel da camareira Madeleine, é quem ajuda o Marquês a publicar os seus escritos. É justamente com a publicação anônima de "Justine" - uma das obras mais famosas de Sade sobre a libertação sexual de uma mulher - que a temática da censura versus liberdade de expressão se faz presente.

Winslet, a personagem mais equilibrada da trama, envolveu-se em uma espécie de triângulo intelectual e sexual com Sade e Abbé. Estes, por sua vez, travam um debate amigável sobre a moral e o pecado que transforma-se em disputa e ódio para virar cumplicidade. A relação conflituosa entre Rush e Joaquin Phoenix é um dos pontos altos do filme, mas ela deixa de ser aprofundada em nome do entretenimento.

A densidade do filme é construída na tensão que cresce em torno do aumento da repressão a Sade. Quando tiram os móveis na sua confortável cela de dois quatros em Charenton, Sade passa a escrever nos lençóis, e depois na roupa, na própria pele com sangue e chega a utilizar o seu próprio excremento para escrever nas paredes do porão onde é confinado.

Na tentativa de obter uma certa simpatia do público para uma personalidade ao mesmo tempo furiosa, brilhante e provocadora, mas demasiadamente humana, está o mérito da atuação de Geoffrey Rush.

O Marquês de Sade nasceu Donatien-Alphonese-Francois de Sade, em 1740, e viveu durante os conturbados anos da Revolução Francesa. Ele inspirou a palavra sadismo, relacionada aos prazeres sexuais derivados da dor.

Escritor de literatura erótica, Sade passou mais de 27 anos na prisão e escapou de sentenças de morte, tendo passado os últimos 10 anos de sua vida preso no asilo em Charenton.
 

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