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07/01/2001 - 12h12

Série "definitiva" sobre o jazz estréia nos EUA

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S. Paulo, em Nova York

O programa deve ser tão importante para o jazz quanto os festivais da Record foram para a MPB nos anos 60, tamanha a sua qualidade e abrangência. É a série documental "Jazz", de Ken Burns, que estréia amanhã na PBS, a rede pública de TV norte-americana.

Tem dez horas de duração, editadas de uma versão final de 17 horas e meia, e o mesmo número de capítulos. Começa em 1890, quando negros americanos criam o "gumbo" em Nova Orleans, que depois viraria o jazz, e vai até o trompete contemporâneo de Wynton Marsalis, o principal nome dos anos 90 e 2000.

Levou seis anos para ser feito, custou US$ 13 milhões (70% veio da General Motors), mostra 498 músicas e exibe 2.400 fotos. É narrado pelo próprio Marsalis e pelos atores Samuel L. Jackson, Matthew Broderick, Delroy Lindo e Harry Connick Jr. (também músico).

Apresenta minibiografias de Charlie Parker, Sonny Rollins, Miles Davis, John Coltrane, Lester Young e Billie Holiday, que, como lembra o crítico Jack Newfield, conseguia bater em dois marinheiros racistas, mas não conseguiu se livrar da heroína.

Entre outras raridades, há uma sequência inédita de Charlie Parker tocando com Coleman Hawkins em 1950, um filme experimental de Benny Goodman em 1929 e um super-oito caseiro de Duke Ellington e banda na estrada.

Burns, 47, que vive em Walpole, no Estado de New Hampshire, não é novato na área. Seus dois documentários anteriores, "The Civil War" (11 horas), de 1990, e "Baseball" (17 horas e meia), de 1994, são igualmente exaustivos no tema abordado -daí a imodéstia e economia com que batiza as obras, como se fossem verbetes definitivos de dicionários.

"The Civil War", sobre a Guerra Civil norte-americana (1861-1865), tem outro mérito: é até hoje o documentário mais assistido na TV pública do país. "Sendo uma obra de Burns, é só colocar no ar e ver os índices subirem além do habitual", disse John Wilson, diretor de programação da emissora.

O documentarista já retratou a vida de Mark Twain, a construção da ponte do Brooklyn e a história do rádio, entre vários outros temas. O interesse por jazz veio do fato de ele ter sido proprietário de uma loja de discos nos anos 60 e continuar um fanático por Elvis Presley.

Se há algum fio condutor em "Jazz", além da música em si, é a figura do trompetista e cantor Louis Armstrong, cujo centenário de nascimento foi comemorado no mês passado. "Ele está para a música como Albert Einstein está para a física", diz Burns.

O diretor se preocupou em colocar no ar uma amostra relevante da enorme produção do autor de "Hello Dolly". Há hoje em dia 450 CDs de Armstrong disponíveis em lojas, 50 deles com título ou subtítulo de "best of".

Nenhum, no entanto, mistura selos ou gravadoras -e ele passou por várias ao longo da vida. Em "Jazz", são mostradas 20 das mais importantes composições dele.

Mesmo antes de ir ao ar, o documentário não é unânime. A velha guarda está adorando, por sua importância histórica e por achar que o programa pode atrair jovens para um gênero cujo público está envelhecendo. Já os vanguardistas acham que Burns foi conservador ao privilegiar o período das big bands (anos 30 e 40) em detrimento dos revolucionários anos 50, 60 e 70.

De qualquer maneira, para tirar um pedaço do barulho merecido que a série deve causar, as rivais Sony e Verve se uniram e lançaram cinco CDs baseados em "Jazz" e organizados pelo diretor. O pacote estreou em primeiro lugar na parada de jazz da revista "Billboard".

Ainda, uma série de 20 CDs com o "best of" dos artistas mais populares foi lançada na sequência. Não pára por aí: a liga de basquete NBA vai tocar as músicas antes e depois de cada jogo da temporada 2001 e até o final de janeiro sai uma coleção de DVD com os melhores "clipes", das primeiras imagens registradas no começo do século 20 até solos do pianista Herbie Hancock.

Para concluir, a Knopf lança um luxuoso livro, generoso em fotografias (são mais de 500, muitas inéditas), baseado em "Jazz", com o mesmo esmero empregado nos livros que acompanharam as outras duas megasséries de Burns ("Baseball" vendeu meio milhão de cópias).

Só não há ainda uma previsão de exibição do seriado no Brasil. Seu formato e qualidade são perfeitos para a TV Cultura e mesmo para o bem-cuidado festival de documentários "É Tudo Verdade". Fica a sugestão.

Na Web: www.pbs.org/jazz/index.htm
 

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