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12/01/2001 - 05h26

Anna Magnani monopoliza filme de 51 de Luchino Visconti

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da Folha de S.Paulo

Como esquecer as atuações de Clara Calamai em "Ossessione" (1942), de Alida Valli em "Sedução da Carne" (1954) e, especialmente, de Maria Schell em "Um Rosto na Noite" (1957)? Temperamental, explosivo, tirânico, Luchino Visconti era capaz de fazer até mesmo de Claudia Cardinale uma grande atriz.

Visconti domava qualquer fera, mas Anna Magnani era, se me perdoam a expressão, a "megera indomável". Criatura passional, insana, possessiva, Magnani fascinava e esgotava qualquer diretor. Se "Belíssima" é o único filme de Visconti em que, como confessou o próprio, ele improvisou, é porque aqui o diretor não fez mais do que se render, como tantos outros, ao talento voraz de Magnani.

O fato é que nenhum cineasta conseguiu fazer um filme com ela que não fosse um filme sobre ela. Magnani é muitas mulheres ao mesmo tempo, mas, justamente por ser assim múltipla, é que ela interpreta sempre a si mesma. A atriz já é ela própria uma (shakespeariana) personagem -por isso, como faria aliás Tennessee Williams em "Rose Tatoo", é preciso escrever o texto especialmente para ela.

Não se trata, com ela, de um filme de Visconti, de Rossellini ("O Amor"), de Pasolini ("Mama Roma"), mas de um filme de Magnani. Diante dela todos são edipianos, pois ela não representa, para todos, senão uma grande, uma inesgotável mãe romana.

Rossellini, seu ex-namorado, ao testemunhar, por exemplo, a grande
comoção causada em Roma pela morte de Magnani, passava quase que inconscientemente, em sua autobiografia, a falar da relação umbilical e despótica que ligava mães e filhos na Itália. "É a mamma", dizia ele. "É a mãe mediterrânea que explica, provavelmente, o agarramento feroz dos italianos à vida, ao real. Os italianos estão agarrados ao útero."

Foi do pranto maternal de Magnani em "Roma, Cidade Aberta" (Rossellini, 1945) que nasceu o neo-realismo italiano. Três anos antes, durante a guerra, Visconti realizara o filme precursor do movimento, "Ossessione".
Magnani era a atriz escolhida para o papel central, mas o nascimento do filho, Luca, impediu a atriz de protagonizar o filme. Vítima de poliomielite, Luca viveria eternamente agarrado à barra da saia de Magnani.

Homossexual, Visconti tinha em Magnani uma de suas duas divas (a outra era Callas). A atriz, confessava ele, lembrava-lhe da mãe possessiva e protetora de sua infância. Inspirando-se em mais um daqueles tantos argumentos criados por Cesare Zavattini, o grande manancial do neo-realismo, Visconti resolveu realizar com Magnani essa história de uma mãe romana suburbana que, aficionada por cinema, decide transformar a filha pequena numa estrela (um fato, aliás, recorrente na história do cinema).

Magnani deitou e rolou. Em "Belíssima", como sempre, ela exerce um monopólio absoluto: acrescenta "cacos" ao texto, revira os cenários, chora e grita feito louca -como fazia nos bastidores, aliás, apaixonada que estava pelo eletricista da equipe.

O filme é estridente, histérico, romano até o limite do insuportável. Luchino Visconti aproveita aqui para fazer uma crítica velada à indústria do cinema, criando, numa auto-ironia, o personagem de um playboy aproveitador da Cinecittá e colocando, sobre a participação do colega cineasta Alessandro Blasseti (que faz aqui o papel dele mesmo), o tema da ária do charlatão de uma ópera de Donizetti.
(TIAGO MATA MACHADO)

Belíssima
Bellissima
Direção:
Luchino Visconti
Produção: Itália, 1951
Com: Anna Magnani, Walter Chiari, Tina Apicella
Quando: a partir de hoje no Vitrine (r. Augusta, 2.530, Cerqueira César, tel. 3085-7684)
 

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