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29/01/2001 - 11h47

"O Auto da Compadecida" vence 4ª Mostra de Cinema de Tiradentes

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

"O Auto da Compadecida", de Guel Arraes, foi eleito o melhor filme da 4ª Mostra de Cinema de Tiradentes, de acordo com o júri popular. O festival foi encerrado na noite do último sábado, depois de exibir gratuitamente na cidade mineira, durante nove dias, 30 longas, 41 curtas e 52 vídeos da produção nacional.

A programação mesclou filmes ainda não lançados comercialmente ("Condenado à Liberdade" de Emiliano Ribeiro, "Bufo & Spalanzanni", de Flávio Tambellini), sucessos recentes nas telas ("Eu Tu Eles", de Andrucha Waddington) e fitas antigas como "Copacabana me Engana", dirigida por Antônio Carlos da Fontoura em 1969. O elenco de "Copacabana" é encabeçado por Odete Lara, que foi homenageada pela mostra, juntamente com a cineasta Ana Carolina.

Entre os curtas, a escolha do público recaiu sobre "A Invenção da Infância", de Liliana Sulzbach. O melhor vídeo foi "Secos e Molhados", de Armando Mendzz. Os autores dos trabalhos preferidos pelo público receberam o troféu Barroco. Os responsáveis pelos melhores curta e vídeo receberam também apoio à produção de novos trabalhos, na forma de latas de negativo e serviços de iluminação e revelação, oferecidos por parceiros da mostra.

A organização do festival estima que as 48 sessões realizadas em praça pública e numa tenda montada especialmente para a ocasião tenham tido público superior a 33 mil pessoas. No entanto, as projeções feitas no Cine Tenda nas três últimas noites do festival tiveram público fraco. A instalação da estrutura para exibição cinematográfica na cidade, que não conta com telas de cinema, consome 70% do orçamento do festival, de R$ 405 mil, de acordo com a coordenadora geral da mostra, Raquel Hallak.

O festival de Tiradentes estabelece como seu principal objetivo o incentivo à formação de público, mas essa quarta edição inspirou também alguma discussão sobre as condições de produção e distribuição do cinema nacional.

Em debate com cineastas ocorrido na última sexta-feira, o crítico e professor de cinema Ismail Xavier questionou alguns consensos recentes. Disse que é "ilusória" a proclamada diversidade alcançada pela cinematografia brasileira desde a retomada da produção, na década de 90.
Xavier afirmou que há um perfil homogêneo na produção recente, orientado para atingir o grande público, embora os mecanismos de renúncia fiscal permitam aos cineastas o desapego desse objetivo. "Mas não se vê nos realizadores mais jovens nenhuma tendência de proclamar rupturas", disse.

"Essa procura dos filmes pelo diálogo com o público transformou-se numa falácia", disse o diretor Toni Venturi ("Latitude Zero"). "Porque não há um mercado de cinema brasileiro e todos os filmes estão feitos para uma classe média que vai ao shopping."

O cineasta Ruy Guerra afirma que "o cinema tem de ter vocação para o público". E que o equívoco brasileiro é confundir público com mercado. "Está se caindo nessa arapuca de querer conquistar o mercado brasileiro com produtos inteiramente vinculados à estética americana e que são subprodutos americanos de má qualidade."

O cineasta e roteirista Antônio Carlos da Fontoura diz que não acha "muito importante que haja diversidade". "Os filmes brasileiros não têm público porque o cinema é uma atividade narrativa e nossas histórias são mal contadas e não muito interessantes", diz.
 

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