Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/01/2001 - 04h48

"No Limite 2", pobre de espírito, inspira tédio de domingo

Publicidade

ESTHER HAMBURGER, especial para a Folha

É fim de férias e, como no último final de julho, tempo de estréia da segunda versão de "No Limite". O cenário mudou -das praias cearenses para uma fazenda no Mato Grosso. Os personagens participantes possuem outros nomes e biografias, mas o programa é o mesmo, de novo.

O sucesso de público da primeira gincana embalou em grande estilo a aparição do segundo. "No Limite 2" foi notícia de blocos do "Fantástico", foi lançado com um novo modelo de perua e precedeu a exibição de uma entrevista do presidente da República.

Com o tempo, as imitações que "No Limite" inspirou em outras emissoras e as inevitáveis e infindáveis especulações sobre a autenticidade dos desdobramentos da trama, o programa inspira aquele tédio de domingo.

O programa é pobre de espírito. Pessoas deixam seus contextos para tentar a sorte em um esporte radical, em que o desafio não é reunir forças interiores para vencer profundidades, temperaturas ou velocidades extremas, mas emplacar um dedo de fama. Longe de inspirar algum crescimento interior, as pessoas-personagens serão reduzidas a objeto da brincadeira alheia.

As provas são pobres de sentido e emoção. São testes que envolvem algum movimento, escalada, remo, corrida e que tais, sem implicar risco real.
São tarefas infantis, brincadeiras de quermesse, deslocadas para o cenário do Planalto Central. Sem crianças, os adultos, infantilizados, representam um pouco o seu papel.

Como a aventura em si não pode ser o assunto, a atenção se volta às relações humanas. Cada participante é anunciado com uma rápida descrição de sua personalidade. Em cena, a câmera procura registrar tudo o que acontece nos acampamentos. As redes, a sede, a fome, brigas e amores.

Humanos aqui são como os camundongos das experiências médicas. Cabe observar suas reações ao brilho dos holofotes e aos olhares de outros milhares de humanos que, durante oito domingos, estarão sobre eles. Os trechos do material gravado são editados, ganham narração em off e uma trilha sonora que provavelmente é o que há de melhor no programa.

O resultado é fraco. Mal dá para entender como o barco afundou na primeira prova e como isso levou à desclassificação da equipe amarela. É estranho que os membros da equipe perdedora que não foram votados sejam aqueles que desempatam a votação sobre quem será o primeiro excluído. A lógica que levou à escolha final e rápida de Leon, jovem atlético, que, aparentemente, poderia ajudar a equipe, tampouco é clara.

O jogo é movido por uma sucessão de operações intrincadas regidas por regras, em grande parte, arbitrárias, ditadas pela produção do programa. Mas as regras do jogo aparecem como pressuposto inquestionável e não são motivo de contestação.

O foco do programa nas relações humanas não inclui as relações entre os participantes da gincana e os que promovem o espetáculo. O limite de "No Limite" aparece aqui de forma escancarada. Afinal trata-se de mais um espetáculo, um que lida com a fascinação pelo próprio espetáculo sem especular, nem de brincadeira, sobre suas regras.

Em um milênio em que os avanços científicos na área da biotecnologia prometem revoluções que inspiram questões éticas, a exposição de seres humanos a pequenos ensaios de fama talvez gere o mesmo tipo de consideração.

Leia mais notícias sobre o programa "No Limite"
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página