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30/01/2001 - 05h14

Moda: Uma odisséia no jeans

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JACKSON ARAUJO, da Folha de S.Paulo

Se no verão o produto nacional de exportação é o biquíni, no inverno o jeans ganha ares de estrela e pontua as principais coleções brasileiras com novas texturas, tramas e até estampas.

Sempre aliado à moda jovem, ao inconformismo e à rebeldia de gerações, o jeans se transforma na melhor estratégia para que as marcas de moda se rejuvenesçam ou atinjam um segmento mais "edgy" (moderno). Jean Baudrillard, o filósofo do pós-modernismo, acredita que o jeans é a única peça de roupa que "tem criado uma unanimidade imaginária em substituição à boa e velha característica universal do pensamento e da filosofia".

Justamente no lançamento da primeira coleção do novo milênio no país, a moda volta a falar no tecido que vestiu garimpeiros na corrida do ouro, virou peça de resistência nos movimentos estudantis nos anos 60/ 70, ultrapassou a divisão entre masculino e feminino e acompanhou a diversão hedonista da juventude urbana no final do século passado. Agora, tudo não passa de produto. Até a costumização individual do jeans que já foi tatuado com palavras, desenhos e símbolos hoje é tendência. Ele já vem rasgado, sujo, manchado ou escrito (como nos textos de Arnaldo Antunes para a Ellus).

O melhor do mundo
Destaque em reportagens na imprensa francesa sobre o boom da moda brasileira no mercado internacional, a Zoomp foi citada no jornal "Le Monde" como a marca da calça jeans "que levanta o bumbum e deixa sexy o corpo das mulheres brasileiras". Para a stylist francesa Carine Roitfeld, 41, responsável pela imagem das grifes Gucci e YSL na Europa, e pelo styling da Zoomp no Brasil, "o jeans da Zoomp é o melhor do mundo". Entre as adeptas do jeans Zoomp no mundo fashion, está a top model inglesa Kate Moss, que ganhou de Roitfeld um modelo exclusivo da calça com raio no bolso, um clássico nacional desde os anos 80. "A próxima a receber um jeans Zoomp será Madonna", disse Roitfeld à Folha.

Na Ellus, o jeans também recebe tratamento exportação por parte de
Nelson Alvarenga, o diretor criativo da marca e de sua equipe de estilistas. "Vamos levar para Europa o espírito jeans em peças que nunca foram feitas em índigo." Calças ganham bordados a mão feitos por artesãs em Minas Gerais, como a bandeirinha do Brasil, que reforça a idéia do "made in Brazil" para a exportação.

Para o inverno 2001 da Ellus, Alvarenga convenceu seus fornecedores a "destecnologizar" o índigo. "Fizemos o jeans voltar às origens, ele vem mais bruto em construções primitivas feitas em teares mais rústicos; o resultado são texturas teladas com pontos largos de efeito "shantungado'", conceitua Alvarenga.

Hiperrealismo fashion
Nas lavagens, o jeans de inverno da Ellus traz desbotamento localizado. "Ora arrancando um tom verde do azul, ora puxando pelo branco; o aspecto é de segunda mão", define.

A inspiração colegial da coleção é levada às últimas consequências. Hiperrrealista, o jeans ganha mancha de pó de giz, que depois de fixada com silicone se transforma numa espécie de pedaço de lousa vestível em forma de saia rodada com pregas.

Também experimentando sobre o índigo, Lino Villaventura desenvolve por meio de tratamentos artesanais de estamparia, o jeans engraxado e o novo camuflado, com manchas e aspecto de couro, em modelagens absolutamente jeans couture. Num plano mais industrial, Villaventura desenvolve há dois anos sua linha exclusiva de índigo com a Santana Têxtil, pioneira na introdução de novas tramas e texturas no jeans brasileiro. "Para o inverno 2001 de Lino Villaventura, criamos tecidos com desenhos assimétricos e com aplicação de fios de lurex em diversas cores, produzindo efeito furtacor em lilás, cobre e vermelho", diz Luiz Henrique Gordiano, 24, gerente de marketing da Santana Têxtil. "O tecido é batido de forma que o desenho é feito no próprio tear; num jeans normal, você vê a sarja bem definida na diagonal, nesse jeans que desenvolvemos para Lino, o desenho está no próprio tecido, criando formas assimétricas e geométricas, de silhuetas abstratas a retângulos e quadrados", explica.

Herchcovitch faz cyberblue
Já Alexandre Herchcovitch mantém parceria com a Vicunha, empresa para qual presta serviço como consultor de estilo. Para o inverno 2001, Herchcovitch apresenta seis tipos de índigo, presente tanto na coleção feminina como na masculina. São eles: o "space blue", com efeito bouclê; o "vichy", mistura de fios sintéticos com algodão, onde o fio índigo compõe o padrão vichy com fios nas cores rosa-choque e branco-ótico; a "anarruga", imitando a tradicional construção enrugada do tecido homônimo e é perfeito para roupas justas; o "tela tripla", usado na confecção de roupas que conjugam tanto o jeanswear como a alfaiataria; o "bouclê", com jeito de lixado ou desfiado, e, finalmente, o "olho-de-peixe", que usa técnicas de tecelagem usadas na fabricação de lãs sofisticadas.

Conhecido pelo uso de tecidos de alta tecnologia, Herchcovitch mostrará em seu desfile no São Paulo Fashion Week, amanhã, o "cyberblue-Tactel", que é basicamente a mistura do jeans com o tactel, permitindo secagem rápida.

No jeans da Iódice para o inverno, o destaque é o jeans jacquard com fio índigo e lurex na trama, desenvolvido pela tecelagem Indústria e Comércio Jorge Camasmie. O jeans jacquard é um tecido com cores e desenhos em sua estrutura, que permite o desenvolvimento do índigo com bordados, aplicações e também com a introdução de logos na trama, conseguidos por meio da utilização de computadores de última geração com softwares de desenho e comunicação visual. A Camasmie também é a responsável pelo jeans jacquard das marcas Zoomp, Forum e M. Officer.

Calças para cowgirls
Tufi Duek aciona tramas e lavagens especiais no jeans para a construção da inspiração na cultura popular nordestina e no cangaço, da Forum, e da imagem Sexy Urban Cowgirls, da Triton. As novas tramas e texturas da linha índigo são "wild denim", "denim cross", "cyber bleu", "indiblue" e "confort denim". As lavagens são envelhecidas, como a "rock", "whisky" e "destroyer", todas com novos tratamentos em lavanderia, em que o índigo é amaciado artesanalmente para garantir mais conforto e aspecto envelhecido ao tecido.

"Na Forum e na Triton, o jeanswear sempre teve um alto grau de importância, tanto na criação como na participação de vendas", diz Duek. Para o inverno 2001, o jeanswear das duas marcas vem ajustado, com bocas afuniladas em inspiração anos 80 e cintura baixa. Os brilhos e cristais, que decoraram o jeans barroco do último verão, são substituídos por detalhes em metal ouro velho, aplicações de couro e bordados.
 

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