Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/07/2002 - 17h01

Logotipos virtuais enfeitam e-mail

Publicidade

ESTHER DYSON

Agora que a era do ponto.com chegou ao fim, não está fácil vender qualquer coisa a anunciantes ou a investidores. Como consequência, os empresários digitais procuram coisas pelas quais os internautas concordem em pagar on-line. O problema é que a maior parte do conteúdo e dos serviços on-line pode ser copiada -legalmente ou não- sem muitos problemas. Com isso, torna-se difícil ganhar dinheiro.

Mas o criativo empreendedor Steve Bowbrick, de Londres, teve uma idéia diferente. Três anos atrás, quando não estava tão difícil conseguir dinheiro, Bowbrick levantou cerca de US$ 10 milhões (mais outros US$ 2 milhões no ano passado) para lançar a Another.com. Há um ano, mais ou menos, ele afirmou ter 22% de todos os adolescentes britânicos que navegam pela rede -ou seja, cerca de 900 mil jovens- como usuários registrados.

Do gratuito ao pago
Entretanto o serviço que ele oferecia era gratuito, e os investidores não se dispuseram a lhe dar ainda mais dinheiro. Assim, em fevereiro passado, apesar de seus receios, Bowbrick começou a cobrar de seus usuários.

Os resultados vêm sendo encorajadores. Cerca de 20 mil usuários (ou seja, 10% de seus clientes ativos) já fizeram suas assinaturas, pagando cerca de US$ 20 por ano. Ainda significa apenas US$ 400 mil por ano, mas é um começo. E Bowbrick está trabalhando para conseguir o que falta.

Mas o que é que a Another.com vende, afinal? Não são livros. Não é música. São nomes. Não nomes de domínio caros, mas simples nomes de endereços de e-mail.

O que há em um nome?
A idéia é simples. Os usuários assinam o serviço da Another. com por cerca de US$ 2 mensais (ou US$ 20 por ano). Por essa taxa, eles ganham o direito a um endereço de e-mail com a Another.com (por exemplo: fulano@another.com), mais 19 outros selecionados entre 15 mil nomes de domínio, como @misspiggy. co.uk (Miss Piggy, personagem de ""Muppet Babies"), @internationalmanofmystery.co.uk (do título original de ""Austin Powers, um Agente Nada Discreto"), snow ball.co.uk (bola de neve) ou @daftasabrush.co.uk (louco varrido).

Bowbrick dirige o serviço aos jovens modernos -os ""digitalmente in". Dê uma olhada nas aulas de antropologia digital e nas teorias comerciais que compõem os textos do site:

""Os endereços de e-mail são as camisetas modernas. Durante décadas, os jovens vestiram camisetas que comunicassem sua personalidade, os grupos aos quais eram filiados, seu caráter indefinidamente bacana. Em 2001, os mesmos jovens tiram da Another. com endereços de e-mail que os distingam.

Eles não querem ser vistos em público como uma identidade de e-mail padronizada e chata, com uma série de números em frente ao símbolo @ ou com o nome de marca de uma empresa qualquer em seu endereço".

A referência às camisetas não é aleatória. Afinal o endereço de e-mail é o que você ""veste" quando está no ciberespaço.

Estatísticas
Bowbrick está repleto de estatísticas interessantes tiradas de seus clientes. Ele diz que 45% dos usuários têm entre 15 e 24 anos, e 50%, mais de 18.

O usuário gratuito médio tem 16 anos e seis identidades; o usuário pagante médio tem 22 anos e também utiliza cerca de seis identidades, embora esse número comece a diminuir à medida que a idade avança.

De um modo geral, as meninas e as mulheres tendem a ter mais identidades. ""Elas captam melhor o conceito", diz Bowbrick.

""Já os homens, quando chegam aos 25 anos, já sabem exatamente quem são."

Chamariz
Mas o plano do empresário não se limita a vender nomes. Como antigo editor de uma revista de informática, ele compreende o modelo comercial das assinaturas e quer que os usuários sempre renovem as suas.

Além do serviço principal, que vai funcionar como chamariz, a empresa, que tem dez funcionários, está começando a obter receita de serviços secundários, como o encaminhamento de mensagens (para que você possa acessar suas mensagens eletrônicas sem entrar no site da Another. com), espaço extra para armazenagem de e-mails, páginas pessoais (weblogs) e uma série de outros serviços.

Ele não quer apenas que a Another.com forneça os nomes que seus clientes vão usar no ciberespaço -quer que o site os ajude a anunciar sua presença global no mundo virtual -como assinantes, é claro.

O ciclo de vida na net
""Somos uma plataforma de gerenciamento de assinaturas. Quando possui uma plataforma de assinaturas, você pode vender qualquer coisa por meio dela", diz Bowbrick. ""Estamos tentando construir o conceito de tempo na internet, um ciclo de vida.

Nossos clientes já têm um conceito bastante bom da passagem do tempo; era a indústria que não o tinha."

Ele acrescenta que o modo de pensar da indústria reflete ""o caráter extra-real do mundo ponto. com, um mundo feito de espelhos". Esses outros sites -como os da Yahoo!, da Microsoft Network e da Lycos- ainda precisam criar modelos comerciais que funcionem no mundo real.

""Eles criaram grandes sites, ricos em conteúdo, mas destituídos de qualquer noção do ciclo de vida dos consumidores -a assinatura, a renovação dela, o atrito e a reativação", diz. ""Agora, até mesmo os maiores sites estão tendo de acrescentar a seus produtos esses conceitos comerciais básicos. O negócio muito simples de receber uma quantia em dinheiro uma vez por mês ou por ano era estranho aos sites movidos por anúncios."

Idéia inteligente
A idéia de Bowbrick é inteligente. E ficou claro que ele conseguiu chamar a atenção de seu mercado-alvo. Agora, porém, ele terá de executar o conceito suficientemente bem para conseguir sobreviver -que dirá para fazer sucesso.

O número de clientes pagantes que tem ainda é pequeno. Mas, felizmente para ele, com o fim da expansão das ponto.com e a escassez de dinheiro atual, é pouco provável que enfrente concorrência de outros serviços gratuitos.

""O clima todo mudou. Quando fizemos aquela transição, nós realmente nos destacamos", explica Bowbrick. ""Agora a Yahoo! e a Hotmail também estão cobrando taxas."

Bowbrick afirma que seu modelo comercial tornará a empresa rentável quando alcançar o dobro de seu volume atual. ""Nossa base de custos é uma fração do que era na época do boom", explica. Se ele conseguir alcançar esse volume e apresentar lucro -e continuar a lucrar-, então terá de fato conquistado o direito de afirmar que a Another.com é mais do que apenas mais uma empresa pontocom.

Esther Dyson edita o boletim tecnológico ""Release 1.0" e é autora do best-seller "Release 2.0". É presidente da EDventure Holdings. E-mail: edyson@edventure.com
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página