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19/06/2000 - 12h41

Napster é revolução ou roubo?

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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
da Folha de S. Paulo, em Los Angeles

No coração do capitalismo de alta tecnologia, retratos do líder da revolução cubana Che Guevara brilham em telas de computadores distribuídos por uma sala espartana.

Em letras maiúsculas, o slogan, "LA REVOLUCIÓN", não deixa dúvidas sobre as intenções desta empresa de 30 funcionários, criada em 1999 por um garoto que tem hoje 19 anos.

A companhia se chama Napster. Nos últimos meses, ela despejou sobre a indústria da música uma tempestade classificada na revista americana "Fortune" como "dez vezes mais importante do que a invenção do CD".

Em seis meses de operação, já tinha 9 milhões de usuários, número que um gigante das comunicações como o grupo America Online só conseguiu depois de 12 anos.

O veterano Metallica toma posição contra; os jovens do Limp Bizkit, a favor. As gravadoras estão em pânico e, na semana passada, pediram à Justiça que mande fechar a Napster. "A cadeia é o lugar para todos os diretores e altos executivos da Napster" , fulminou Howie Klein, presidente da Reprise Records, à revista "Newsweek".

Por que essa reação violenta? Porque o Napster é um programa que permite a computadores do mundo inteiro compartilhar seus arquivos musicais.

Em última análise, quem instala o Napster não precisa mais comprar CDs.
Por exemplo, você tem o programa e quer achar a canção "Yesterday", dos Beatles.

Em vez de ir a uma loja de discos, é só escrever "Yesterday" no campo de busca e dar a ordem para que o Napster procure. No resultado, vai aparecer todo mundo que usa o programa, está ligado à rede e tem a música guardada em seu computador.

É só dar dois cliques no mouse e, se a sua conexão for boa, esperar cerca de 20 minutos. Pronto, "Yesterday" já faz parte dos seus arquivos.

Tudo ótimo, não fosse pelo detalhe que enlouquece as gravadoras: é de graça!

"Isso vai contra todos os princípios do capitalismo ocidental", esbravejou Lars Ulrich, do Metallica, em protesto organizado na porta da Napster.

A banda foi entregar uma lista com os nomes de mais de 300 mil fãs que, segundo eles, baixaram músicas ilegalmente, usando o programa maldito. Ulrich diz que se revoltou porque não aceita "trabalhar de graça", mas há quem pense diferente.

"Estou sempre baixando músicas pelo Napster, principalmente do meu grupo favorito, o Future Sound of London." Quem conta, em entrevista exclusiva ao Folhateen, é o guitarrista Wes Borland, da banda americana Limp Bizkit, que vendeu mais de 6 milhões de cópias e chegou ao topo da parada dos EUA com o álbum "Significant Other" (1999).

Liderado pelo vocalista Fred Durst, o grupo vai fazer 30 shows gratuitos nos EUA, graças a um patrocínio de R$ 3,6 milhões vindo... da Napster!

"A velha geração tem medo da tecnologia", espetou Durst, em conversa com o Folhateen, numa referência nada sutil ao Metallica.

A indústria do entretenimento sempre foi rápida no ataque a novas formas de reprodução. Nos anos 60, jogou pesado contra a fita cassete. Depois, se opôs à chegada do videocassete.

E, mais recentemente, combateu a gravação digital de DATs e minidiscs. Em todos os casos, sempre chegou a acordos que mantiveram (ou aumentaram) os lucros das grandes gravadoras e produtoras de filmes.

"A associação das gravadoras "esquece" que as vendas de CDs cresceram 8% no primeiro trimestre de 2000, com o Napster já em operação", disse, em comunicado oficial, o principal executivo da empresa, Hank Barry, ironicamente, um ex-advogado especialista em direitos autorais.

Segundo pesquisa da Napster, 95% das músicas que os usuários obtêm são apagadas poucos dias depois. Isso indicaria que as pessoas usam o programa apenas como um mostruário, para então decidirem qual CD comprar, e não para fazer arquivos permanentes de suas canções prediletas.

A empresa já conseguiu US$ 17 milhões em investimentos, nada mau para um negócio que começou de modo tão despretensioso que até o nome do programa, "Napster" ("pixaim", em inglês), era uma brincadeira com os cabelos encaracolados do fundador, Shawn Fanning.

Hoje, o rapaz vê cada vez mais distantes seus dias de criança pobre, que chegou a morar com pais adotivos porque os naturais não tinham condição de mantê-lo. Ainda adolescente, Fanning vive no centro de um debate em que os protagonistas são alguns dos músicos mais famosos do mundo.

A seu lado, além do Limp Bizkit, estão os rappers do Cypress Hill e Chuck D, do Public Enemy. No campo oposto, além do Metallica, nomes tão diversos como o rapper Dr. Dre, os roqueiros Creed, Sevendust e Black Crowes, a introspectiva Kristin Hersh e a vocalista do Blondie, Debbie Harry.

Em meio à discussão feroz, Hank Barry, da Napster, tem uma certeza: "A tecnologia de distribuição de informação é o futuro. A tecnologia para compartilhamento de arquivos chegou para ficar".

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