Publicidade
Publicidade
03/09/2000
-
10h13
MARCELO STAROBINAS
da Folha de S.Paulo
O chinês de pseudônimo Richard Long, 37, é um rebelde com causa.
Doutor em biologia molecular, participou do movimento da praça Tiananmen, em 89, em Pequim. Presenciou a repressão do Exército com tanques e soldados e o massacre de estudantes. Depois, tornou-se um perseguido político. Perdeu o emprego e, em 1991, buscou refúgio nos EUA.
No exílio, descobriu na Internet uma importante arma para a militância contra o regime do Partido Comunista. Edita hoje a "VIP Reference", uma newsletter distribuída por e-mail para centenas de milhares de chineses em todo o mundo -particularmente dentro da China.
O "spam" (distribuição agressiva e não requisitada de e-mails) promovido por Long é encarado com seriedade pelo governo de Pequim. Em janeiro, o dono de uma empresa de software de Xangai foi condenado a dois anos de prisão. Seu crime: ter enviado aos editores da "VIP Reference" lista com e-mails de 30 mil chineses.
Leia trechos da entrevista de Long, concedida por e-mail.
Folha - Por que o sr. decidiu começar a publicar a newsletter?
Richard Long - Estive envolvido nas atividades políticas estudantis de 1989 em Pequim. Naquela época, lecionava na Universidade de Medicina de Pequim. Fui forçado a abandonar essa atividade.
Folha - O sr. acredita que a Internet é capaz de trazer mudanças políticas na China?
Long - Isso é difícil de responder. A Internet alcança uma porção pequena da população chinesa. A grande massa de camponeses não está on line. A Internet ajuda a espalhar idéias ligadas à democracia, ao Estado de Direito e a outros valores ocidentais. Não posso prever os resultados desse livre fluxo de informação.
Folha - O sr. já teve problemas com o governo chinês? Já foi "hackeado" por agentes de Pequim?
Long - Sim, eles fazem essas coisas o tempo todo. Quase sempre, estou um passo à frente deles.
Folha - Como a sua newsletter chega aos e-mails das pessoas que vivem na China?
Long - Acumulamos uma imensa lista de e-mails, representativa da população de internautas da China. Entre vários métodos (para superar o bloqueio do governo), utilizamos truques de "spam" para conseguir introduzir os artigos no país.
Folha - Como os seus leitores na China lidam com a vigilância governamental? O que acontece se são pegos recebendo a publicação?
Long - Se eles receberam nossos e-mails como um "spam", eles podem honestamente alegar que não os requisitaram. Nós instruímos nossos leitores a dizer isso às autoridades se forem pegos.
Folha - Além da publicação, que outro tipo de atividades o sr. faz para promover a liberdade de expressão na China?
Long - Testamos um sistema de "IP dinâmico", para tornar impossível para os censores na China o bloqueio ao nosso site. Também estamos trabalhando em um projeto de programa similar ao Napster (software usado para a livre troca de músicas no formato MP3) para o intercâmbio de artigos não censurados.
Folha - O sr. se considera um hacktivista?
Long - Não. Tentamos o nosso melhor para produzir na "VIP Reference" uma cobertura de profundidade sobre a China.
Folha - O que o sr. pensa da atuação dos hacktivistas?
Long - É um bom jeito de fazer piadas com o governo de lá.
Folha - Há algum tipo de apoio do governo dos EUA (ou de outros países) a atividades em favor da democracia na China como as suas?
Long - De certa forma, sim. O povo americano apóia esforços como esse para espalhar seus valores a locais como a China. Mas a "VIP Reference" é financiada independentemente.
Clique aqui para ler mais notícias de informática na Folha Online.
Exilado combate Pequim via Internet
Publicidade
da Folha de S.Paulo
O chinês de pseudônimo Richard Long, 37, é um rebelde com causa.
Doutor em biologia molecular, participou do movimento da praça Tiananmen, em 89, em Pequim. Presenciou a repressão do Exército com tanques e soldados e o massacre de estudantes. Depois, tornou-se um perseguido político. Perdeu o emprego e, em 1991, buscou refúgio nos EUA.
No exílio, descobriu na Internet uma importante arma para a militância contra o regime do Partido Comunista. Edita hoje a "VIP Reference", uma newsletter distribuída por e-mail para centenas de milhares de chineses em todo o mundo -particularmente dentro da China.
O "spam" (distribuição agressiva e não requisitada de e-mails) promovido por Long é encarado com seriedade pelo governo de Pequim. Em janeiro, o dono de uma empresa de software de Xangai foi condenado a dois anos de prisão. Seu crime: ter enviado aos editores da "VIP Reference" lista com e-mails de 30 mil chineses.
Leia trechos da entrevista de Long, concedida por e-mail.
Folha - Por que o sr. decidiu começar a publicar a newsletter?
Richard Long - Estive envolvido nas atividades políticas estudantis de 1989 em Pequim. Naquela época, lecionava na Universidade de Medicina de Pequim. Fui forçado a abandonar essa atividade.
Folha - O sr. acredita que a Internet é capaz de trazer mudanças políticas na China?
Long - Isso é difícil de responder. A Internet alcança uma porção pequena da população chinesa. A grande massa de camponeses não está on line. A Internet ajuda a espalhar idéias ligadas à democracia, ao Estado de Direito e a outros valores ocidentais. Não posso prever os resultados desse livre fluxo de informação.
Folha - O sr. já teve problemas com o governo chinês? Já foi "hackeado" por agentes de Pequim?
Long - Sim, eles fazem essas coisas o tempo todo. Quase sempre, estou um passo à frente deles.
Folha - Como a sua newsletter chega aos e-mails das pessoas que vivem na China?
Long - Acumulamos uma imensa lista de e-mails, representativa da população de internautas da China. Entre vários métodos (para superar o bloqueio do governo), utilizamos truques de "spam" para conseguir introduzir os artigos no país.
Folha - Como os seus leitores na China lidam com a vigilância governamental? O que acontece se são pegos recebendo a publicação?
Long - Se eles receberam nossos e-mails como um "spam", eles podem honestamente alegar que não os requisitaram. Nós instruímos nossos leitores a dizer isso às autoridades se forem pegos.
Folha - Além da publicação, que outro tipo de atividades o sr. faz para promover a liberdade de expressão na China?
Long - Testamos um sistema de "IP dinâmico", para tornar impossível para os censores na China o bloqueio ao nosso site. Também estamos trabalhando em um projeto de programa similar ao Napster (software usado para a livre troca de músicas no formato MP3) para o intercâmbio de artigos não censurados.
Folha - O sr. se considera um hacktivista?
Long - Não. Tentamos o nosso melhor para produzir na "VIP Reference" uma cobertura de profundidade sobre a China.
Folha - O que o sr. pensa da atuação dos hacktivistas?
Long - É um bom jeito de fazer piadas com o governo de lá.
Folha - Há algum tipo de apoio do governo dos EUA (ou de outros países) a atividades em favor da democracia na China como as suas?
Long - De certa forma, sim. O povo americano apóia esforços como esse para espalhar seus valores a locais como a China. Mas a "VIP Reference" é financiada independentemente.
Clique aqui para ler mais notícias de informática na Folha Online.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Novo acelerador de partículas brasileiro deve ficar pronto até 2018
- Robôs que fazem sexo ficam mais reais e até já respondem a carícias
- Maratona hacker da ONU premia app que conecta médico a pacientes do SUS
- Confira lista de feeds do site da Folha
- Facebook e Google colaboram para combater notícias falsas na França
+ Comentadas