Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/01/2005 - 16h53

Ingleses levam "Halo 2" à telona para ajudar vítimas de maremoto

Publicidade

JULIANO ZAPPIA
da Folha de S.Paulo

Tiros de rifle de assalto, disparos de lançadores de foguete modelo M19 SSM e explosões de granada fizeram o chão tremer. O barulho era quase ensurdecedor. As rajadas de bala destroçavam um corpo atrás do outro, sem piedade. Nas duas horas em que a reportagem da Folha passou no local, 147 soldados foram assassinados.

Tudo isso aconteceu neste último final de semana no interior do maior complexo de salas de cinema do centro de Londres, o Vue Cinema. E em prol das vítimas do tsunami de 26 de dezembro.

Confuso? É que a barbárie descrita acima faz parte das cenas de batalha de "Halo 2", jogo escolhido para cativar os jovens britânicos a participar do primeiro "Game Tournament Tsunami Disaster Appeal", um torneio de videogame disputado dentro de um cinema e com a intenção de levantar fundos para ajudar na reconstrução dos países afetados pelo maremoto que atingiu a Ásia.

"No dia em que vi as terríveis imagens da tragédia fui dormir pensando no que eu poderia fazer para ajudar os sobreviventes", conta Wesley Yin-Poole, organizador do evento.

"Um campeonato de videogame me pareceu uma boa opção. Não só por se tratar de algo diferente mas também para chamar a atenção de uma faixa etária que às vezes parece não se importar com o que está rolando ao redor do mundo."

Para disputar as violentas partidas no escurinho do cinema e com a enorme tela dividida em quatro, era só pagar as três libras pedidas na entrada e esperar a vez de ser chamado.

Cada rodada contava com quatro jogadores, que usavam todas as armas virtuais possíveis para eliminar o oponente. O vencedor passava para a próxima fase.

Já quem quisesse apenas assistir (ou torcer), bastava desembolsar metade do preço. Todo o dinheiro arrecadado foi repassado ao Disasters Emergency Commitee, uma instituição que coordena e gerencia as doações do Reino Unido em resposta a grandes desastres no mundo e engloba organizações como a Oxfam, a Save the Children e a Christian Aid.

Apesar do caráter beneficente por trás do torneio, muitos dos competidores estavam ali apenas pela oportunidade de jogar em uma tela grande um de seus jogos preferidos.

"Passei pela frente do cinema com meus amigos e vi o flyer do campeonato. Costumamos passar horas jogando "Halo 2" todo final de semana. Não podíamos perder a chance de jogar numa tela gigante!", disse o estudante James Walsh, 16, que comemorava uma vitória na semifinal.

A final, disputada pelos quatro melhores jogadores do final de semana, fez a platéia no cinema ficar vidrada na telona, torcendo e vibrando com cada matança como se estivesse diante de um filme de ação estrelado por Vin Diesel.

Enquanto a violência dava alegrias à maioria dos presentes, para alguns a quantidade de sangue esparramado na tela assustava. "Não sabia que esses jogos eram assim tão violentos. A única coisa boa é que você pode ressuscitar várias vezes", diz Helem Kyriazis, namorada de um concorrente.

Perguntado sobre a escolha de um jogo em que o tema é matar um ao outro para servir como meio de levantar fundos humanitários, Wesley é enfático: "Isso é apenas um jogo! As pessoas não pararam de assistir a filmes violentos só por causa do que aconteceu. Minha preocupação com o evento foi arrecadar a maior quantidade de dinheiro possível, por isso escolhi um jogo consagrado no mundo dos games e perfeito para disputas em grupos".

Apesar de ter levantado apenas R$ 15 mil durante as 16 horas de jogatina (quantia quase irrisória perto dos mais de US$ 5 bilhões de doações oficiais prometidas), Wesley acredita que é de pequenas ações como a sua que dão um sentido de união para um mundo tão dividido como o de hoje.

"Vamos voltar em breve com um campeonato maior, com mais jogadores, prêmios e mais dinheiro arrecadado para os sobreviventes do tsunami", promete.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Halo 2
  • Confira o especial sobre a tragédia na Ásia
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página