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21/11/2001
-
04h57
SANDY BRUNDAGE
da "Salon"
Será uma noite para adultos: depois de trabalhar o dia todo, o técnico de computação Tom, 28, vai buscar seu PC em casa e o coloca no carro.
Ele pega outras coisas necessárias —dinheiro, cerveja e maconha— e dirige 45 minutos até a casa de seu amigo Alan, onde a festa de games em rede (LAN party) já está acontecendo. Tom paga US$ 30 pelo ingresso, entra e começa a conectar seu micro.
Espaçosa, a sala parece um laboratório universitário de informática: 50 rapazes, a maioria dos quais trouxe seus próprios computadores, estão disputando partidas em rede. O ambiente é ruidoso, preenchido por cliques de mouse e papo furado, e cheira a pizza e meias sujas.
Os jogadores sentam-se em cadeiras de plástico, mas é possível alugar almofadas por US$ 5. Alguns participantes trouxeram sacos de dormir. Tom sai da sala para trocar algumas dicas sobre o game Counter Strike com potenciais parceiros de jogo e acender um baseado. A maratona está começando.
Três dias depois, Tom vai embora, exausto pela falta de sono e pelas horas passadas em frente ao PC. Depois de passar o final de semana mergulhado num universo de alteração sensorial, Tom precisa voltar à sua rotina de trabalho, mas pretende repetir a dose na próxima sexta-feira.
A cada mês, milhares de jogadores como ele participam de festas parecidas, que acontecem em casas ou hotéis e chegam a reunir 2.000 pessoas.
Até a década de 60, pouca gente poderia prever que o uso de drogas se tornaria parte de eventos culturais. Hoje, as drogas também fazem parte do mundo dos games de computador, configurando uma tendência que não chega a ser surpreendente. Para os jogadores mais renhidos, as festas de games em rede proporcionam a formação de uma identidade tribal, em que consumir ácido e anfetaminas é tão importante quanto ter habilidade com o mouse.
É provável que alguns jogadores sempre tenham usado drogas, mas seu consumo em festas dedicadas a games é relativamente recente. Observe, por exemplo, a experiência Quake II On Drugs, que foi realizada por dois alemães: visitando o site www.networkz.ch/quakeondrugs, é possível ler relatos que classificam o efeito de diferentes drogas para usuários do game Quake II.
O game sobre terrorismo Counter Strike (www.counter-strike.net) e a maconha são uma combinação comum, mas os jogadores drogados também se divertem usando outros sistemas: com gráficos toscos e brilhantes, os games do sistema Atari 2600 hipnotizam usuários de LSD e maconha.
Identificado pelo codinome NetSushi, um ex-jogador profissional compara a influência de várias substâncias ilegais: "No meu tempo de escola, minha turma tomava ácido e jogava até sete ou oito da manhã. Mas o ácido nos fazia vomitar. Nós nunca conseguíamos chegar ao final do game Street Fighter. Minhas melhores partidas foram sob o efeito de maconha. Eu finalmente parei de fumar, mas aí fiquei seis meses sem jogar porque não tinha mais graça. Se não fosse tão responsável quanto sou hoje, eu voltaria a fumar", afirma.
A Cyberathlete Professional League (CPL), organização que promove campeonatos de jogadores profissionais, proíbe o uso de drogas ilegais ou álcool durante torneios. "Nós contratamos seguranças para vigiar os participantes", diz Angel Munoz, diretor da entidade. A CPL não fiscaliza o uso de drogas antiansiedade, que só são vendidas com receita médica, mas podem ser empregadas por alguns jogadores em busca de vantagens na competição.
Para atrair público, a CPL oferece prêmios que chegam a US$ 150 mil e transmite algumas de suas partidas pelo canal a cabo ESPN. Os torneios, que também podem ser acompanhados pelo site www.thecpl.com, são exaustivos, pois os principais "atletas" chegam a ficar vários dias em ação. "Eu diria que aproximadamente 20% dos jogadores profissionais de games usam drogas", diz um participante australiano.
Segundo Munoz, que promete para dezembro um campeonato mundial de games, a CPL poderá instituir testes antidoping durante o torneio.
Tradução de Bruno Garattoni
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da "Salon"
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Ele pega outras coisas necessárias —dinheiro, cerveja e maconha— e dirige 45 minutos até a casa de seu amigo Alan, onde a festa de games em rede (LAN party) já está acontecendo. Tom paga US$ 30 pelo ingresso, entra e começa a conectar seu micro.
Espaçosa, a sala parece um laboratório universitário de informática: 50 rapazes, a maioria dos quais trouxe seus próprios computadores, estão disputando partidas em rede. O ambiente é ruidoso, preenchido por cliques de mouse e papo furado, e cheira a pizza e meias sujas.
Os jogadores sentam-se em cadeiras de plástico, mas é possível alugar almofadas por US$ 5. Alguns participantes trouxeram sacos de dormir. Tom sai da sala para trocar algumas dicas sobre o game Counter Strike com potenciais parceiros de jogo e acender um baseado. A maratona está começando.
Três dias depois, Tom vai embora, exausto pela falta de sono e pelas horas passadas em frente ao PC. Depois de passar o final de semana mergulhado num universo de alteração sensorial, Tom precisa voltar à sua rotina de trabalho, mas pretende repetir a dose na próxima sexta-feira.
A cada mês, milhares de jogadores como ele participam de festas parecidas, que acontecem em casas ou hotéis e chegam a reunir 2.000 pessoas.
Até a década de 60, pouca gente poderia prever que o uso de drogas se tornaria parte de eventos culturais. Hoje, as drogas também fazem parte do mundo dos games de computador, configurando uma tendência que não chega a ser surpreendente. Para os jogadores mais renhidos, as festas de games em rede proporcionam a formação de uma identidade tribal, em que consumir ácido e anfetaminas é tão importante quanto ter habilidade com o mouse.
É provável que alguns jogadores sempre tenham usado drogas, mas seu consumo em festas dedicadas a games é relativamente recente. Observe, por exemplo, a experiência Quake II On Drugs, que foi realizada por dois alemães: visitando o site www.networkz.ch/quakeondrugs, é possível ler relatos que classificam o efeito de diferentes drogas para usuários do game Quake II.
O game sobre terrorismo Counter Strike (www.counter-strike.net) e a maconha são uma combinação comum, mas os jogadores drogados também se divertem usando outros sistemas: com gráficos toscos e brilhantes, os games do sistema Atari 2600 hipnotizam usuários de LSD e maconha.
Identificado pelo codinome NetSushi, um ex-jogador profissional compara a influência de várias substâncias ilegais: "No meu tempo de escola, minha turma tomava ácido e jogava até sete ou oito da manhã. Mas o ácido nos fazia vomitar. Nós nunca conseguíamos chegar ao final do game Street Fighter. Minhas melhores partidas foram sob o efeito de maconha. Eu finalmente parei de fumar, mas aí fiquei seis meses sem jogar porque não tinha mais graça. Se não fosse tão responsável quanto sou hoje, eu voltaria a fumar", afirma.
A Cyberathlete Professional League (CPL), organização que promove campeonatos de jogadores profissionais, proíbe o uso de drogas ilegais ou álcool durante torneios. "Nós contratamos seguranças para vigiar os participantes", diz Angel Munoz, diretor da entidade. A CPL não fiscaliza o uso de drogas antiansiedade, que só são vendidas com receita médica, mas podem ser empregadas por alguns jogadores em busca de vantagens na competição.
Para atrair público, a CPL oferece prêmios que chegam a US$ 150 mil e transmite algumas de suas partidas pelo canal a cabo ESPN. Os torneios, que também podem ser acompanhados pelo site www.thecpl.com, são exaustivos, pois os principais "atletas" chegam a ficar vários dias em ação. "Eu diria que aproximadamente 20% dos jogadores profissionais de games usam drogas", diz um participante australiano.
Segundo Munoz, que promete para dezembro um campeonato mundial de games, a CPL poderá instituir testes antidoping durante o torneio.
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