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15/02/2002 - 15h03

Nada como um tiroteio virtual para aliviar o estresse

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FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

Sou um terrorista. Minha missão é invadir as instalações de uma fábrica e plantar uma bomba para destruir equipamentos. O dinheiro que ganho pelo serviço permite comprar mais pistolas, metralhadoras, rifles, granadas e coletes à prova de balas.

Essa vida de bandido dura meia hora. Canso de ser o "mau rapaz", decido me tornar o policial que tem de impedir os terroristas de plantarem a bomba. Ando sorrateiro, devagar, na sombra. Fico agachado num canto, com meu rifle de mira telescópica, esperando que os maus elementos apareçam em alguma janela para acabar com a raça deles.

Para quem já jogou "Counter Strike" algumas vezes, basta essa descrição para lembrar do game. Um título recente de tiroteio que tomou conta de muitos "fliperamas" modernos, lotados de computadores ligados em rede.

É uma das muitas formas modernas de aliviar o estresse: uma arma na mão, um time contra o outro. Se morrer, espero terminar a rodada e tudo começa de novo. Se quiser ser o mocinho, sou. Se quiser ser o bandido, também sou.

Posso "matar" aquele sujeito que me insultou na rua semana passada com dois pares de cliques no mouse. Também posso levar um tiro na cabeça e ainda dar risada. Tudo é efêmero. Nada é real. E tem quem saia mais leve de tudo isso.

Como só tenho uma dúzia de cenários de "Counter Strike", canso rápido e passo então a "Retorno ao Castelo Wolfenstein". Mais tiroteio —dessa vez, sou um soldado norte-americano preso em um castelo nazista. Preciso escapar de qualquer forma. Homens de Hitler por todos os lados, tesouros nazistas escondidos, passagem secretas para o fundo do bar, tiros no balcão do botequim.

Mas tem aquela fase difícil, que demora para passar. Isso cansa também. Sempre o mesmo inimigo, ele chega até você quando sua energia é quase zero, mira bem na sua cabeça e você, de tanto que já passou pela cena, nem pisca quando leva o tiro.

É então que esse fulano, que nada mais é do que uma série de códigos de programação, um robô, vira gente. Você começa a ter raiva dele. Ele impede que você vá em frente. Rostos de quantas pessoas já não encarnaram esses robôs... chefes, professores, parentes chatos! Argh! Matei ele!

Cansado de emoções artificiais, tiro o CD atual do computador e coloco o de "Medal of Honor", outro tiroteio que simula a Segunda Guerra. Mas esse sim, é adrenalina na veia! Estou numa embarcação norte-americana rumo à costa da Normandia! Vamos tomar a França de volta e expulsar os homens de Hitler!

Com o fone de ouvido —afinal, poderiam pensar que tinha ladrão na casa—, fico pasmo com os morteiros matando meus colegas de batalhão. O ricochetear das balas nos tubos de metal fincados na praia são assustadores. As minas terrestres jogam companheiros às alturas. Vejo um médico do batalhão e me aproximo. Estou aliviado.

Corro para chegar ao próximo pilar sem tomar tiros. Mas não adianta —dessa vez, um morteiro caiu bem na minha cabeça.

Olho para o relógio. Uma e meia da manhã. Preciso acordar cedo amanhã.

Shut down.

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