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09/03/2002 - 01h44

Meio bilhão de pessoas acessa a internet. E daí?

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FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

Durante essa semana muita gente se animou a dar destaque e comentar uma notícia surpreendente à primeira vista. Meio bilhão de pessoas já têm acesso à internet a partir de suas casas, segundo estudo divulgado pela Nielsen/Netratings. A maioria (190 milhões) na América do Norte, claro.

Impressionante, pode pensar o leitor desatento num primeiro momento. Cerca de seis bilhões de pessoas habitam o mundo atualmente, o que equivale a dizer que 16,6% dos habitantes do planeta Terra têm acesso à rede mundial de computadores a partir de suas casas.

Mais impressionante quem sabe seja comparar esses números a outros divulgados pela ONU em seu relatório anual de desenvolvimento humano para 2001.

Segundo o documento, 1,2 bilhão de pessoas sobrevive com menos um dólar por dia. Provavelmente esses seres humanos providos de encéfalo desenvolvido e polegar opositor nunca tenham chegado perto de um computador. Isso representa 33% da população mundial.

Dois anos antes, mais de dez milhões de crianças morreram em todo o mundo antes de chegarem aos cinco anos por doenças cujo tratamento já é conhecido. Cerca de 150 milhões estão abaixo do peso ideal para sua idade, característica de subnutrição.

Só no Brasil cerca de 35 milhões de pessoas (25% da população, observe bem leitor) vivem com menos de dois dólares por dia, segundo o mesmo relatório de da ONU. Outros 17 milhões vivem sem acesso a água potável no país.

Com que glória é possível dar destaque a incríveis 6,3 milhões de brasileiros que acessam a internet ao menos uma vez ao mês? Imagine então comparar esses números da ONU com os 500 mil brasileiros que acessam a internet por banda larga.

Os 35 milhões de miseráveis são estatísticas, não pessoas. Da mesma forma que os 6,3 milhões de internautas são apenas consumidores, são eles que dão lucro. O resto nem sequer faz parte da engrenagem econômica que importamos em nosso modelo desenvolvimentista. Hipocrisia falar de inclusão digital, portanto.

Nessas horas lembro daqueles discursos progressistas. Como o homem evoluiu! Como a tecnologia melhorou a condição de vida das pessoas! Sem internet eu não vivo!

Não vive? Pois é, você é um dos poucos.

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