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17/09/2006
-
10h45
CAROLINA VILA-NOVA
da Folha de S.Paulo
Entre o fim de julho e o de agosto, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, empreendeu um tour internacional capaz de pôr o mochileiro mais destemido no chinelo. Foram cerca de 97 mil km percorridos --o equivalente a 2,4 voltas ao mundo--, da Rússia à China, de Angola a Mali e Benin, passando duas vezes por Cuba para visitar o amigo convalescente, Fidel Castro. Quando voltou a seu país, em 1º de setembro, não por acaso um jornalista venezuelano ironizou: "Hugo Chávez visita Caracas".
O fim imediato claro foi a obtenção de apoio à sua candidatura para um assento provisório no Conselho de Segurança da ONU, mas com um pano de fundo geopolítico de longo prazo tão intrincado quanto a profusão de acordos de cooperação e promessas de investimentos alardeados em cada escala.
"Desde que chegou ao poder, Chávez desenvolveu uma política exterior muito agressiva que se baseou em duas linhas", diz o analista político venezuelano Alberto Garrido. "A primeira foi criar alianças para confrontar os EUA e estabelecer uma nova ordem mundial de caráter multipolar."
O veículo-chave dessa estratégia é o que Elsa Cardoso, especialista em relações internacionais da Universidade Metropolitana (Caracas), chama de "instrumento persuasivo": o petróleo. A Venezuela é o quinto maior produtor.
"Chávez está se projetando muito internacionalmente e estabelecendo vínculos por meio do uso de recursos energéticos como instrumento persuasivo de solidariedade e cooperação. Sua proposta é se tornar líder dos que não têm voz."
Assim, enquanto na Síria assinou com o ditador Bashar Assad um comunicado conjunto declarando-se "firmemente unidos conta a agressão imperialista e as intenções hegemônicas do império americano", em Luanda, Chávez fechou um acordo "que permitirá à Angola se libertar das companhias petroleiras ocidentais".
Ao visitar países como o Irã, porém, seu interesse é maior do que ter um companheiro para esbravejar contra os EUA. Para manter sua política petroleira extravagante --reduzir a produção para manter alto os preços no mercado internacional-- precisa de aliados fortes na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) .
"Juntos, Irã e Venezuela podem fazer muitos países tremerem", diz Cardoso.
Acordos
Quanto à relevância econômica, o balanço dos acordos anunciados é dúbio --até porque, segundo muitos dos especialistas ouvidos pela Folha, os textos dos convênios não são conhecidos. "Alguns são improvisados. Se a gente segue as pistas pela imprensa e ouve os discursos, dá para armar um inventário", afirma Cardoso.
"Além disso, a Assembléia Nacional, que está nas mãos do governo, deixou de exercer a função que tinha de revisão de tratados internacionais para convertê-los em lei, de modo que esses compromissos se dão sem que haja muito controle."
"São firmados muitos acordos que depois não são implementados, assinados antes de que se faça um estudo de factibilidade", afirma ainda Francine Jácome, diretora-executiva do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos.
Por outro lado, é inegável a importância de alguns desses convênios. O mais notório foi a compra de 24 aviões e 53 helicópteros russos em um pacote de contratos militares no valor de mais de US$ 3 bilhões.
"A Rússia é hoje a maior fornecedora de armas e se apresta a ser o motor do desenvolvimento gasífero da Venezuela, visando se projetar ao sul no continente", diz Garrido.
Um dos acordos prevê que estatal russa do gás, a Gazprom, seja responsável pelo desenvolvimento tecnológico do projeto do gasoduto que interligará Venezuela, Brasil e Argentina.
Já a China promete investir US$ 5 bilhões nos próximos seis anos em projetos energéticos na Venezuela --aporte que, segundo Caracas, permitirá que as exportações de petróleo para o parceiro "cheguem a 500 mil barris por dia até 2009" (hoje são 150 mil).
Para isso, negocia-se o investimento chinês no gasoduto que passaria por Colômbia e Panamá, barateando o transporte petroleiro pelo Pacífico.
É um passo crucial para diversificar os mercados petroleiros venezuelanos. Hoje, 57% das exportações --petróleo na maioria-- vão para os EUA.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Hugo Chávez
Petropolítica move Hugo Chávez por jornada de 97 mil km
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da Folha de S.Paulo
Entre o fim de julho e o de agosto, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, empreendeu um tour internacional capaz de pôr o mochileiro mais destemido no chinelo. Foram cerca de 97 mil km percorridos --o equivalente a 2,4 voltas ao mundo--, da Rússia à China, de Angola a Mali e Benin, passando duas vezes por Cuba para visitar o amigo convalescente, Fidel Castro. Quando voltou a seu país, em 1º de setembro, não por acaso um jornalista venezuelano ironizou: "Hugo Chávez visita Caracas".
O fim imediato claro foi a obtenção de apoio à sua candidatura para um assento provisório no Conselho de Segurança da ONU, mas com um pano de fundo geopolítico de longo prazo tão intrincado quanto a profusão de acordos de cooperação e promessas de investimentos alardeados em cada escala.
"Desde que chegou ao poder, Chávez desenvolveu uma política exterior muito agressiva que se baseou em duas linhas", diz o analista político venezuelano Alberto Garrido. "A primeira foi criar alianças para confrontar os EUA e estabelecer uma nova ordem mundial de caráter multipolar."
O veículo-chave dessa estratégia é o que Elsa Cardoso, especialista em relações internacionais da Universidade Metropolitana (Caracas), chama de "instrumento persuasivo": o petróleo. A Venezuela é o quinto maior produtor.
"Chávez está se projetando muito internacionalmente e estabelecendo vínculos por meio do uso de recursos energéticos como instrumento persuasivo de solidariedade e cooperação. Sua proposta é se tornar líder dos que não têm voz."
Assim, enquanto na Síria assinou com o ditador Bashar Assad um comunicado conjunto declarando-se "firmemente unidos conta a agressão imperialista e as intenções hegemônicas do império americano", em Luanda, Chávez fechou um acordo "que permitirá à Angola se libertar das companhias petroleiras ocidentais".
Ao visitar países como o Irã, porém, seu interesse é maior do que ter um companheiro para esbravejar contra os EUA. Para manter sua política petroleira extravagante --reduzir a produção para manter alto os preços no mercado internacional-- precisa de aliados fortes na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) .
"Juntos, Irã e Venezuela podem fazer muitos países tremerem", diz Cardoso.
Acordos
Quanto à relevância econômica, o balanço dos acordos anunciados é dúbio --até porque, segundo muitos dos especialistas ouvidos pela Folha, os textos dos convênios não são conhecidos. "Alguns são improvisados. Se a gente segue as pistas pela imprensa e ouve os discursos, dá para armar um inventário", afirma Cardoso.
"Além disso, a Assembléia Nacional, que está nas mãos do governo, deixou de exercer a função que tinha de revisão de tratados internacionais para convertê-los em lei, de modo que esses compromissos se dão sem que haja muito controle."
"São firmados muitos acordos que depois não são implementados, assinados antes de que se faça um estudo de factibilidade", afirma ainda Francine Jácome, diretora-executiva do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos.
Por outro lado, é inegável a importância de alguns desses convênios. O mais notório foi a compra de 24 aviões e 53 helicópteros russos em um pacote de contratos militares no valor de mais de US$ 3 bilhões.
"A Rússia é hoje a maior fornecedora de armas e se apresta a ser o motor do desenvolvimento gasífero da Venezuela, visando se projetar ao sul no continente", diz Garrido.
Um dos acordos prevê que estatal russa do gás, a Gazprom, seja responsável pelo desenvolvimento tecnológico do projeto do gasoduto que interligará Venezuela, Brasil e Argentina.
Já a China promete investir US$ 5 bilhões nos próximos seis anos em projetos energéticos na Venezuela --aporte que, segundo Caracas, permitirá que as exportações de petróleo para o parceiro "cheguem a 500 mil barris por dia até 2009" (hoje são 150 mil).
Para isso, negocia-se o investimento chinês no gasoduto que passaria por Colômbia e Panamá, barateando o transporte petroleiro pelo Pacífico.
É um passo crucial para diversificar os mercados petroleiros venezuelanos. Hoje, 57% das exportações --petróleo na maioria-- vão para os EUA.
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