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31/10/2006
-
20h17
ANDREA MURTA
da Folha Online
Com a promoção do arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 72, para a liderança da Congregação para o Clero, no Vaticano, a arquidiocese paulista enfrentará agora um período de incerteza quanto à definição do novo arcebispo. Bispos na Igreja Católica são nomeados diretamente pelo papa Bento 16, e as listas com sugestões de novos nomes para o posto são secretas.
À arquidiocese é permitido elaborar uma lista tríplice de nomes para ser enviada ao Vaticano. Além dessa lista, uma outra também é preparada por um conjunto de bispos do Brasil.
Todos os nomes são submetidos ao escrutínio de Roma, mas o mistério permanece até a nomeação oficial. Segundo o teólogo e professor da Puc (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo Fernando Altemeyer, 50, como os nomes não são divulgados, também não é possível ter certeza de que o escolhido veio mesmo de uma das sugestões locais.
"Pode haver consultas locais, mas não há nenhuma decisão que venha do Brasil", diz Altemeyer. Ele afirma que, apesar de não haver prazo determinado para a nomeação, ela provavelmente será feita em até um mês. "Pelo que conversei com d. Cláudio, não deve demorar."
O teólogo diz também que está muito preocupado com a saída do cardeal. "Para São Paulo, este momento é muito delicado. Esperamos que venha alguém que mantenha a autonomia que tinha d. Cláudio para pressionar o Estado e não fique 'lambendo botas'."
Trabalho
No novo cargo, d. Cláudio Hummes tem agora a responsabilidade de acompanhar o trabalho dos mais de 400 mil sacerdotes católicos em todo o mundo.
A escolha de seu nome para ocupar o cargo em Roma foi feita diretamente pelo Vaticano. Como será assessor direto do papa Bento 16, o próprio pontífice indicou (com a ajuda de assessores) d. Cláudio para o novo trabalho. Hummes será o quarto brasileiro trabalhar em congregações no Vaticano, e na Congregação para o Clero, ele será o primeiro brasileiro a ocupar a liderança.
O Vaticano estabelece três funções fundamentais para o cargo de d. Cláudio. A primeira é sugerir e promover iniciativas para a santidade e o aprimoramento intelectual do clero. Isso significa que o brasileiro vai cuidar da formação contínua dos padres, que inclui assuntos que vão desde tecnologia aos desafios do matrimônio.
A segunda função é cuidar de tudo que concerne à pregação da palavra de Deus no apostolado e organização da catequese --ou seja, o trabalho do padre junto aos fiéis. Segundo o teólogo, essa é uma questão séria na América Latina, onde há problemas de esgotamento físico devido à pregação. Há poucos padres e milhões de fiéis, e calcula-se que cada padre atenda de 20 mil a 30 mil católicos.
Por fim, a última tarefa específica dessa função é a conservação e administração dos bens da igreja, especialmente os artísticos como as peças sacras clássicas de Minas Gerais e da Bahia.
Além dessas tarefas, d. Cláudio terá que cuidar de todos os problemas que envolvem padres católicos mundialmente, como os escândalos de pedofilia, padres presos na China ou sacerdotes assassinados no Iraque.
Como assessor direto do papa, d. Cláudio ficará sediado no Vaticano. Ainda assim, dependendo de trabalhos específicos ou da realização de encontros católicos pelo mundo, ele poderá vir a enfrentar constantes viagens.
Candidato a papa
Arcebispo de São Paulo, Hummes era considerado um dos principais candidatos à sucessão no conclave que elegeu Bento 16, em abril de 2005, como sucessor de João Paulo 2º.
A promoção de Hummes aumenta as chances de que o brasileiro se torne candidato a papa caso haja um novo conclave antes de ele completar 80 anos --idade máxima para que um cardeal participe do conclave.
Hummes --que é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva-- apoiou a Teologia da Libertação na América Latina no início da década de 60, quando papa Bento 16 escreveu um documento polêmico condenando o envolvimento de padres em questões políticas.
Filho de imigrantes alemães, Hummes ajudou grupos de esquerda durante a luta contra a ditadura, nas décadas de 70 e 80, e hoje defende o Movimento Sem Terra (MST).
O arcebispo ganhou fama no Brasil na década de 70, quando foi bispo de Santo André, na grande São Paulo. Nessa época, ele permitiu que sindicatos utilizassem igrejas para suas reuniões, o que era ilegal durante a ditadura.
Ele sucede o cardeal colombiano Dario Castrillon Hoyos como prefeito da Congregação para o Clero. Segundo o Vaticano, Castrillion Hoyos continuará a chefiar o departamento Ecclesia Dei, que tenta resolver um cisma com católicos ultratradicionalistas ocorrido em 1988.
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da Folha Online
Com a promoção do arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 72, para a liderança da Congregação para o Clero, no Vaticano, a arquidiocese paulista enfrentará agora um período de incerteza quanto à definição do novo arcebispo. Bispos na Igreja Católica são nomeados diretamente pelo papa Bento 16, e as listas com sugestões de novos nomes para o posto são secretas.
À arquidiocese é permitido elaborar uma lista tríplice de nomes para ser enviada ao Vaticano. Além dessa lista, uma outra também é preparada por um conjunto de bispos do Brasil.
31.out.2006/FI |
Papa Bento 16 promove cardeal brasileiro Cláudio Hummes para cargo no Vaticano |
"Pode haver consultas locais, mas não há nenhuma decisão que venha do Brasil", diz Altemeyer. Ele afirma que, apesar de não haver prazo determinado para a nomeação, ela provavelmente será feita em até um mês. "Pelo que conversei com d. Cláudio, não deve demorar."
O teólogo diz também que está muito preocupado com a saída do cardeal. "Para São Paulo, este momento é muito delicado. Esperamos que venha alguém que mantenha a autonomia que tinha d. Cláudio para pressionar o Estado e não fique 'lambendo botas'."
Trabalho
No novo cargo, d. Cláudio Hummes tem agora a responsabilidade de acompanhar o trabalho dos mais de 400 mil sacerdotes católicos em todo o mundo.
A escolha de seu nome para ocupar o cargo em Roma foi feita diretamente pelo Vaticano. Como será assessor direto do papa Bento 16, o próprio pontífice indicou (com a ajuda de assessores) d. Cláudio para o novo trabalho. Hummes será o quarto brasileiro trabalhar em congregações no Vaticano, e na Congregação para o Clero, ele será o primeiro brasileiro a ocupar a liderança.
O Vaticano estabelece três funções fundamentais para o cargo de d. Cláudio. A primeira é sugerir e promover iniciativas para a santidade e o aprimoramento intelectual do clero. Isso significa que o brasileiro vai cuidar da formação contínua dos padres, que inclui assuntos que vão desde tecnologia aos desafios do matrimônio.
A segunda função é cuidar de tudo que concerne à pregação da palavra de Deus no apostolado e organização da catequese --ou seja, o trabalho do padre junto aos fiéis. Segundo o teólogo, essa é uma questão séria na América Latina, onde há problemas de esgotamento físico devido à pregação. Há poucos padres e milhões de fiéis, e calcula-se que cada padre atenda de 20 mil a 30 mil católicos.
Por fim, a última tarefa específica dessa função é a conservação e administração dos bens da igreja, especialmente os artísticos como as peças sacras clássicas de Minas Gerais e da Bahia.
Além dessas tarefas, d. Cláudio terá que cuidar de todos os problemas que envolvem padres católicos mundialmente, como os escândalos de pedofilia, padres presos na China ou sacerdotes assassinados no Iraque.
Como assessor direto do papa, d. Cláudio ficará sediado no Vaticano. Ainda assim, dependendo de trabalhos específicos ou da realização de encontros católicos pelo mundo, ele poderá vir a enfrentar constantes viagens.
Candidato a papa
Arcebispo de São Paulo, Hummes era considerado um dos principais candidatos à sucessão no conclave que elegeu Bento 16, em abril de 2005, como sucessor de João Paulo 2º.
A promoção de Hummes aumenta as chances de que o brasileiro se torne candidato a papa caso haja um novo conclave antes de ele completar 80 anos --idade máxima para que um cardeal participe do conclave.
Hummes --que é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva-- apoiou a Teologia da Libertação na América Latina no início da década de 60, quando papa Bento 16 escreveu um documento polêmico condenando o envolvimento de padres em questões políticas.
Filho de imigrantes alemães, Hummes ajudou grupos de esquerda durante a luta contra a ditadura, nas décadas de 70 e 80, e hoje defende o Movimento Sem Terra (MST).
O arcebispo ganhou fama no Brasil na década de 70, quando foi bispo de Santo André, na grande São Paulo. Nessa época, ele permitiu que sindicatos utilizassem igrejas para suas reuniões, o que era ilegal durante a ditadura.
Ele sucede o cardeal colombiano Dario Castrillon Hoyos como prefeito da Congregação para o Clero. Segundo o Vaticano, Castrillion Hoyos continuará a chefiar o departamento Ecclesia Dei, que tenta resolver um cisma com católicos ultratradicionalistas ocorrido em 1988.
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