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10/02/2007 - 02h22

Universidade Harvard deve indicar mulher para a presidência

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ALAN FINDER E SARA RIMER
DO "NEW YORK TIMES"

A Universidade Harvard parece preparada para indicar uma mulher para o posto de presidente pela primeira vez nos 371 anos de história da instituição Drew Gilpin Faust, historiadora que dirige um instituto de pesquisa na universidade.

O Conselho de Supervisão de Harvard vai se reunir no domingo e deve ratificar a escolha, de acordo com dirigentes familiarizados com o processo.

A indicação da Dra. Faust surgiria um ano depois que o ex-secretário do Tesouro Lawrence H. Summers renunciou ao posto, em meio a sério descontentamento de parte do corpo docente. A oposição irrompeu em parte porque o Dr. Summers sugeriu que a capacidade intrínseca poderia explicar por que o número de mulheres que chega aos mais altos postos científicos e matemáticos nas universidades é inferior ao de homens.

A Dra. Faust no momento dirige o Instituto Radcliffe de Estudos Avançados, de longe a menor das escolas que formam a universidade. Boa parte das pesquisas promovidas pelo instituto --cujo nome celebra o Radcliffe College, que no passado abrigava as mulheres que estudavam em Harvard-- enfatizam os estudos femininos, sociais e de questões sexuais.

O instituto é uma organização de pesquisa, e patrocina o trabalho de cerca de 50 pesquisadores a cada ano. Com uma equipe de cerca de 80 pessoas e orçamento anual de US$ 17 milhões, Radcliffe mal responde por 0,5% do orçamento anual de US$ 3 bilhões da Universidade Harvard. A despeito de sua falta de experiência no comando de uma grande organização, a Dra. Faust aparentemente foi considerada pelo comitê de seleção de nove membros como uma administradora capacitada, e especialmente talentosa na construção de bons relacionamentos pessoais --um traço de comportamento valorizado, depois da polarização que surgiu durante o período do Dr. Summers como presidente, especialmente no que tange às mulheres do corpo docente.

A expectativa de que Faust seja indicada foi noticiada pelo "Harvard Crimson", o jornal da universidade. John Longbrake, porta-voz de Harvard, não confirmou ou negou a informação.

Os colegas da Dra. Faust a descrevem como formadora de consensos, o que representa acentuado contraste com relação ao Dr. Summers, que fez muitos inimigos entre os professores devido ao seu estilo enérgico e abrasivo, e ao seu esforço por promover mudanças na cultura do campus, vista por muitos como complacente em excesso.

O Dr. Summers recorreu à Dra. Faust dois anos atrás para ajudar a acalmar a indignação causada pela sua declaração sobre as mulheres nos campos da matemática, engenharia e ciências. Ele pediu que ela presidisse dois comitês que criou para desenvolver novas maneiras de recrutar, reter e promover mulheres que trabalhem nesses campos, na universidade.

"Ela tem realmente o potencial de se tornar uma presidente sábia e bem sucedida", disse Amy Gutmann, presidente da Universidade da Pensilvânia, ela mesma uma das dezenas de possíveis candidatos à presidência de Harvard, de acordo com uma lista divulgada em dezembro.

"Instituições complexas precisam de líderes sábios e dotados de visão, capazes de inspirar a colaboração necessária a promover mudanças", disse a Dra. Guttman, que anunciou repetidas vezes sua intenção de manter seu cargo atual. "E Drew tem tudo que é necessário para se tornar essa líder. Ela é muito determinada, muito sensata e muito sensível".

Harvard será a quarta das oito universidades que formam a chamada Ivy League a elite do ensino superior norte-americano a apontar uma mulher para a presidência, e alguns integrantes de seu corpo discente esperam que isso ajude a derrubar as barreiras de sexo.

Nas últimas semanas, cresceram os rumores entre o corpo docente e o pessoal administrativo de que o comitê de seleção estava inclinado a escolher a Dra. Faust. O interesse se intensificou na semana passada, quando outro candidato que era visto como um dos possíveis finalistas abandonou a competição.

Thomas R. Cech, bioquímico da Universidade do Colorado e também presidente do Instituto Médico Howard Hughes, uma organização filantrópica e de financiamento de projetos de pesquisa médica dotada de quase US$ 15 bilhões em capital, tomou a incomum decisão de anunciar publicamente que não desejava o cargo. O Dr. Cech telefonou ao "Harvard Crimson", jornal produzido por alunos, e disse que estava decidido a abandonar a disputa devido aos seus compromissos para com o instituto médico e ao seu desejo de continuar suas pesquisas em laboratório.

A Dra. Faust dirige o Instituto Radcliffe desde 2001. Antes disso, ela lecionou história dos Estados Unidos por mais de 20 anos na Universidade da Pensilvânia, onde ela fez seus estudos de pós-graduação. Especialista em história do sul do país e natural da Virgínia, ela escreveu livros sobre as mulheres sulistas durante a Guerra Civil norte-americana, sobre os intelectuais e a ideologia do sul confederado e também uma biografia de James Henry Hammond, um fazendeiro da Carolina do Sul na era da Secessão.

A Dra. Gutmann, presidente da Universidade da Pensilvânia e colega da Dra. Faust por mais de uma década, a descreve como administradora hábil, experiente em trabalhos cooperativos mas também tenaz o suficiente para comandar uma universidade tão grande, diversificada e difícil quanto Harvard. Outros professores de Harvard e da Universidade da Pensilvânia fizeram observações semelhantes.

Alguns membros do corpo docente de Harvard, que pediram que seus nomes não fossem mencionados, disseram temer que a Dra. Faust não tivesse a visão e a rigidez de espírito necessárias para se tornar uma líder forte.

A busca por um presidente começou pouco depois da renúncia do Dr. Summers, em fevereiro do ano passado, devido a uma rebelião na prestigiosa escola de artes e ciências, causada por seu estilo de gestão e por gafes como sua declaração sobre as mulheres. O corpo docente já apresentara um voto de desconfiança quanto a ele, depois que Summers fez sua declaração sobre as mulheres, e havia a ameaça de uma segunda moção.

Derek Bok, ex-presidente da universidade, assumiu o cargo interinamente durante este ano letivo. A busca de um presidente se tornou um dos temas mais debatidos no mundo acadêmico, e chegou a gerar apostas em um site de jogo. O comitê de seleção inclui seis membros da Corporação de Harvard, que governa a universidade, e três membros do Conselho de Supervisão, um órgão consultivo muito mais amplo, cujos poderes formais são limitados.

Tentando acalmar a situação na universidade, o comitê lançou um amplo apelo no segundo trimestre de 2006, pedindo que o corpo docente e os antigos alunos sugerissem candidatos. Centenas de sugestões foram avaliadas e, em uma reunião conduzida em dezembro, o comitê divulgou ao Conselho de Supervisão uma lista de algumas dezenas de possíveis candidatos. O conselho tem o direito de ratificar ou rejeitar a escolha do comitê de seleção, mas uma rejeição é considerada improvável.

A Dra. Faust assumirá o posto em um momento no qual Harvard enfrenta diversos desafios, incluindo a reforma de seu currículo de graduação e a promoção de maior ênfase na missão de ensino. Harvard também está expandindo sua pesquisa sobre células-tronco e outros projetos científicos avançados, em um novo campus construído no bairro de Allston, em Boston.

Entre os nomes mencionados na lista havia três mulheres que presidem universidades da Ivy League: Gutmann, da Pensilvânia; Shirley M. Tilghman, de Princeton; e Ruth J. Simmons, da Universidade Brown. Três administradores de primeiro escalão de Harvard também constavam da relação: a Dra. Faust; o diretor administrativo Steven E. Hyman; e Elena Kagan, diretora da escola de Direito.

As mulheres que presidem outras universidades da Ivy League deram declarações públicas se dizendo satisfeitas com suas posições, e afirmando que não se viam como candidatas ao posto em Harvard.

Outros possíveis candidatos que optaram por retirar seus nomes da disputa incluem Alison F. Richard, vice-chanceler da Universidade de Cambridge, na Inglaterra e ex-diretora de Yale; John Etchemendy, diretor administrativo da Universidade de Stanford; e Lawrence S. Bacow, presidente da Universidade Tufts.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

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