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11/02/2007 - 10h22

Brasilianista vê antiamericanismo no governo Lula

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington

Americano bem informado sobre as relações Brasil-EUA e as intenções recíprocas dos países, o brasilianista Peter Hakim não vê uma nova ofensiva do governo Bush na América Latina e diz não ter dúvida de que existe antiamericanismo em ações do governo Lula.

Presidente do Inter-American Dialogue, de Washington, o especialista deu entrevista à Folha na sexta, não sem antes revelar ao repórter que o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, deve ir ao Brasil logo após a viagem de Bush, em março. "Seu propósito é fincar uma bandeira na região, pois há a sensação de que o secretário só pensa na China", brincou.

Folha - Estamos vendo uma ofensiva nova do governo Bush para reconquistar a América Latina?

Peter Hakim - Eu não iria tão longe. O que há é o reconhecimento de que existem algumas dificuldades na região hoje, que os EUA deveriam estar fazendo mais do que fazem. Imagino que membros do governo tentam convencer Bush a ir à América Latina já há algum tempo. Mas não se iluda: o motivo principal da viagem de março é Bush ainda não ter visitado o novo presidente mexicano.

Folha - Mas o subsecretário de Estado Nicholas Burns e o secretário-adjunto Thomas Shannon, que estiveram no Brasil nesta semana, chegaram a dizer que "2007 será o ano do compromisso" dos EUA com a América Latina...

Hakim - O que Shannon diz em cada país que visita é sempre uma reafirmação de que o governo tem, sim, uma política para a região e de que ela é eficaz. Que vamos continuar dando dinheiro para o desenvolvimento, fazendo acordos bilaterais. Importante, mas nada novo. Em relação ao Brasil, a única novidade será haver algum tipo de colaboração maior em biocombustíveis.

Folha - Alguns analistas dizem que o presidente Bush pode usar a promessa dessa maior colaboração como moeda para que o presidente Lula se posicione de maneira mais firme em relação a Chávez.

Hakim - A melhor maneira de perder qualquer chance de colaboração do Brasil nessa questão é pedir que o país se oponha à Venezuela. Seria um desastre. Não consigo imaginar politicamente como Lula poderia se virar contra Chávez a essa altura sem dizer "eu estava errado o tempo todo". Isso simplesmente não acontecerá. Nós todos ouvimos Celso Amorim dizer que a Venezuela é uma democracia, que ninguém questiona isso. E é claro que isso é exatamente o que os EUA querem questionar. Ou seja, não há acordo no momento.

Folha - O sr. vê os EUA tomando uma medida mais dura em relação à Venezuela?

Hakim - Não. Toda vez que os EUA atacam Chávez diretamente, deixam-no mais forte não só na Venezuela como na América Latina. O melhor que podem fazer contra ele é dar mais atenção em geral à região, mostrar que há uma preocupação dos EUA, trabalhar na região, criar uma relação construtiva. Usar essa relação para se opor a Chávez é suicídio.

Folha - Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Jimmy Carter (1977-1981), escreveu recentemente que os EUA deveriam eleger um ou dois parceiros estratégicos em cada região, como faz com a Arábia Saudita no Oriente Médio. O Brasil poderia ocupar esse posto na América Latina?

Hakim - O Brasil nunca concordaria com esse papel. A maioria dos outros países da região não ficaria feliz se o Brasil assumisse esse papel. Todos querem ter sua própria relação com os EUA. E o Brasil não aceitaria porque valoriza muito sua independência econômica.

Folha - O senhor leu declarações recentes do ex-embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur, de que a política externa do Brasil é contaminada pelo antiamericanismo?

Hakim - Concordo com quase tudo o que ele falou. Não há dúvida de que há um caráter de antiamericanismo em algumas políticas brasileiras. Isso não quer dizer que venham do presidente Lula ou sejam dominantes, pois os EUA e o Brasil têm uma relação basicamente boa. Mas ao mesmo tempo há elementos antiamericanos na política, nas relações estratégicas com países asiáticos, com a Venezuela em vários setores. Se não antiamericano, pelo menos marcando a posição de que o Brasil é realmente autônomo dos Estados Unidos, age à parte do país.

Folha - E a razão é mais ideológica ou comercial?

Hakim - Há traços ideológicos, sim, um desejo que o Brasil tem de ter outros parceiros. A ironia é que o país na América Latina que atingiu a maior diversidade em suas relações é também o que tem a melhor relação com os Estados Unidos, o Chile.
Ou seja, é possível fazer ambos, mas ideologicamente eles pensam que... Bem, algumas pessoas pensam que ter uma boa relação com a China é ter uma má relação com os EUA. Não vêem que elas são complementares.

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