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14/02/2007
-
09h01
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington
Se 2007 é mesmo o "ano do compromisso" dos Estados Unidos com a América Latina, como vêm dizendo reiteradas vezes diversos diplomatas norte-americanos, o mesmo não se traduz na proposta de Orçamento para gastos internacionais do Departamento de Estado.
O texto, enviado na semana passada ao Congresso pela titular da pasta, Condoleezza Rice, relata os principais gastos de diplomacia e programas de auxílio global do departamento para o ano fiscal de 2008, que começa em outubro. Nele, é proposto um aumento geral de US$ 31 bilhões em 2006 para US$ 36 bilhões em 2008, ou 16% a mais.
De acordo com o recorte feito pela Folha tendo como universo apenas os programas de ajuda destinados à América Latina e países do Caribe, o resultado é o inverso: de US$ 1,7 bilhão em 2006 para US$ 1,5 bilhão em 2008, ou uma queda de 11,8%. Os dados de 2007 não foram computados pelo departamento pelo ano ainda estar em curso.
Na introdução da proposta de Orçamento, Condoleezza afirma que a "assistência externa para a América Latina quase dobrou desde o início da administração [de George W. Bush], de US$ 862 milhões no ano fiscal de 2001 para US$ 1,6 bilhão no ano fiscal de 2008", incluídos gastos extraordinários projetados.
Em apenas um dos programas, no entanto, "Assistência para Desenvolvimento", o total vai de US$ 268 milhões em 2006 para US$ 198 milhões em 2008 --no caso do Brasil, passa de US$ de 2,9 milhões em 2006 para nada no mesmo período. A Folha procurou o porta-voz do departamento para a região para comentar os números do relatório; leia sua resposta aqui.
Outro caso polêmico, do programa "Iniciativa Anti-Narcóticos Andina" (ACI, na sigla em inglês), a diminuição é de US$ 727 milhões em 2006 para US$ 443 em 2008. Aqui, o grande prejudicado é a Venezuela, que deixará de receber ajuda EM 2008, ante os US$ 2 milhões que recebeu em 2006. Apesar de serem grandes parceiros comerciais, EUA e o país mantêm relações cada vez mais conturbadas.
Auxílio militar
Um dos únicos aumentos registrados na região é o do programa "Fundo de Apoio Econômico", que substitui em parte o "Assistência para Desenvolvimento", segundo informa o texto, e pula de US$ 138 milhões para US$ 364 milhões --o Brasil não recebe esse tipo de auxílio dos EUA.
O outro é a "Iniciativa Global contra HIV/Aids", que engloba de combate a tuberculose a ajuda a planejamento familiar. Vai de US$ 65 milhões para US$ 104 milhões --sempre na relação 2006/2008. Aqui, os dois únicos países beneficiados na região são o Haiti, que sozinho leva US$ 18 milhões, e a Guiana.
Dos quatro programas em que recebe alguma ajuda do Departamento de Estado, o Brasil só terá o total aumentado no "Educação e Treinamento Militares Internacionais", que no geral perde US$ 1 milhão de 2006 para 2008, mas no caso brasileiro sobe de 0 para US$ 188 mil.
Isso já é reflexo direto da retirada, em outubro, do país e de 20 outros de uma lista do Departamento de Estado que proibia que recebessem ajuda e treinamento militares dos EUA. A proibição, de 2004, era retaliação por esses países terem se recusado a assinar tratado que excluía presos norte-americanos de serem submetidos ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Os EUA boicotam o TPI pois entendem que a entidade fere a soberania norte-americana. Em 2002, o Congresso passou lei que proíbe ajuda militar aos signatários da corte. Em outubro, Bush enviou memorando ao Congresso que exclui os 21 países; desses, quinze são latino-americanos. O objetivo da ação seria neutralizar a influência militar de Chávez e da China nos países da região.
Panamericanismo
Durante conversa com jornalistas estrangeiros ontem, em que relatou sua viagem ao Brasil e à Argentina, Nicholas Burns, o número 3 do Departamento de Estado, disse que os EUA não são "obcecados" por Chávez. "Nós não fazemos tudo pensando em Hugo Chávez", disse, quando indagado se o mote que propôs na viagem, de um panamericanismo do século 21, seria uma resposta ao novo bolivarismo do líder venezuelano.
Veja Orçamento enviado por Rice ao Congresso:
Ajuda global aumenta
- de US$ 31 bilhões em 2006
- para US$ 36 bilhões em 2008
- ou um aumento de 16%
Cai a ajuda para programas na América Latina
- de US$ 1,7 bilhão em 2006
- para US$ 1,5 bilhão em 2008
- ou uma queda de 11,8%
O QUE DIMINUI
Iniciativa Anti-Narcóticos Andina (ACI)
- cai de US$ 727 milhões em 2006
- para US$ 443 em 2008
- para o Brasil, vai de US$ 6 milhões em 2006 para US$ 1 milhão em 2008
- para a Venezuela, vai de US$ 2 milhões em 2006 para 0 em 2008
Fundo de Programas de Saúde e Sobrevivência Infantil
- cai de US$ 143 milhões em 2006
- para US$ 108 milhões em 2008
Auxílio a Organizações Interamericanas
- cai de US$ 133 milhões em 2006
- para US$ 132 milhões em 2008
Assistência para Desenvolvimento
- cai de US$ 268 milhões em 2006
- para US$ 198 milhões em 2008
- para o Brasil, vai de US$ 2,9 milhões em 2006 para 0 em 2008
Financiamento Militar Estrangeiro
- cai de US$ 110 milhões em 2006
- para US$ 83 milhões em 2008
Controle Internacional de Narcóticos e Execução Legal (INCLE)
- cai de US$ 80 milhões em 2006
- para US$ 51 milhões em 2008
Assistência a Refugiados e Migração (MRA)
- cai de US$ 25 milhões em 2006
- para US$ 21 milhões em 2008
Educação e Treinamento Militares Internacionais
- cai de US$ 13 milhões em 2006
- para US$ 12 milhões em 2008
- mas para o Brasil sobe de 0 para US$ 188 mil
O QUE AUMENTA
Fundo de Apoio Econômico
- sobe de US$ 138 milhões em 2006
- para US$ 364 milhões em 2008
- mas o Brasil não recebe este tipo de auxílio
Iniciativa Global contra HIV/Aids
- sobe de US$ 65 milhões em 2006
- para US$ 104 milhões em 2008
- mas o Brasil não recebe este tipo de auxílio
Fonte: Proposta de Orçamento para o Ano Fiscal de 2008 do Departamento de Estado dos EUA
Leia mais
Assistência dos EUA à América Latina é maior que antes de 2001
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da Folha de S.Paulo, em Washington
Se 2007 é mesmo o "ano do compromisso" dos Estados Unidos com a América Latina, como vêm dizendo reiteradas vezes diversos diplomatas norte-americanos, o mesmo não se traduz na proposta de Orçamento para gastos internacionais do Departamento de Estado.
O texto, enviado na semana passada ao Congresso pela titular da pasta, Condoleezza Rice, relata os principais gastos de diplomacia e programas de auxílio global do departamento para o ano fiscal de 2008, que começa em outubro. Nele, é proposto um aumento geral de US$ 31 bilhões em 2006 para US$ 36 bilhões em 2008, ou 16% a mais.
De acordo com o recorte feito pela Folha tendo como universo apenas os programas de ajuda destinados à América Latina e países do Caribe, o resultado é o inverso: de US$ 1,7 bilhão em 2006 para US$ 1,5 bilhão em 2008, ou uma queda de 11,8%. Os dados de 2007 não foram computados pelo departamento pelo ano ainda estar em curso.
Na introdução da proposta de Orçamento, Condoleezza afirma que a "assistência externa para a América Latina quase dobrou desde o início da administração [de George W. Bush], de US$ 862 milhões no ano fiscal de 2001 para US$ 1,6 bilhão no ano fiscal de 2008", incluídos gastos extraordinários projetados.
Em apenas um dos programas, no entanto, "Assistência para Desenvolvimento", o total vai de US$ 268 milhões em 2006 para US$ 198 milhões em 2008 --no caso do Brasil, passa de US$ de 2,9 milhões em 2006 para nada no mesmo período. A Folha procurou o porta-voz do departamento para a região para comentar os números do relatório; leia sua resposta aqui.
Outro caso polêmico, do programa "Iniciativa Anti-Narcóticos Andina" (ACI, na sigla em inglês), a diminuição é de US$ 727 milhões em 2006 para US$ 443 em 2008. Aqui, o grande prejudicado é a Venezuela, que deixará de receber ajuda EM 2008, ante os US$ 2 milhões que recebeu em 2006. Apesar de serem grandes parceiros comerciais, EUA e o país mantêm relações cada vez mais conturbadas.
Auxílio militar
Um dos únicos aumentos registrados na região é o do programa "Fundo de Apoio Econômico", que substitui em parte o "Assistência para Desenvolvimento", segundo informa o texto, e pula de US$ 138 milhões para US$ 364 milhões --o Brasil não recebe esse tipo de auxílio dos EUA.
O outro é a "Iniciativa Global contra HIV/Aids", que engloba de combate a tuberculose a ajuda a planejamento familiar. Vai de US$ 65 milhões para US$ 104 milhões --sempre na relação 2006/2008. Aqui, os dois únicos países beneficiados na região são o Haiti, que sozinho leva US$ 18 milhões, e a Guiana.
Dos quatro programas em que recebe alguma ajuda do Departamento de Estado, o Brasil só terá o total aumentado no "Educação e Treinamento Militares Internacionais", que no geral perde US$ 1 milhão de 2006 para 2008, mas no caso brasileiro sobe de 0 para US$ 188 mil.
Isso já é reflexo direto da retirada, em outubro, do país e de 20 outros de uma lista do Departamento de Estado que proibia que recebessem ajuda e treinamento militares dos EUA. A proibição, de 2004, era retaliação por esses países terem se recusado a assinar tratado que excluía presos norte-americanos de serem submetidos ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Os EUA boicotam o TPI pois entendem que a entidade fere a soberania norte-americana. Em 2002, o Congresso passou lei que proíbe ajuda militar aos signatários da corte. Em outubro, Bush enviou memorando ao Congresso que exclui os 21 países; desses, quinze são latino-americanos. O objetivo da ação seria neutralizar a influência militar de Chávez e da China nos países da região.
Panamericanismo
Durante conversa com jornalistas estrangeiros ontem, em que relatou sua viagem ao Brasil e à Argentina, Nicholas Burns, o número 3 do Departamento de Estado, disse que os EUA não são "obcecados" por Chávez. "Nós não fazemos tudo pensando em Hugo Chávez", disse, quando indagado se o mote que propôs na viagem, de um panamericanismo do século 21, seria uma resposta ao novo bolivarismo do líder venezuelano.
Veja Orçamento enviado por Rice ao Congresso:
Ajuda global aumenta
- de US$ 31 bilhões em 2006
- para US$ 36 bilhões em 2008
- ou um aumento de 16%
Cai a ajuda para programas na América Latina
- de US$ 1,7 bilhão em 2006
- para US$ 1,5 bilhão em 2008
- ou uma queda de 11,8%
O QUE DIMINUI
Iniciativa Anti-Narcóticos Andina (ACI)
- cai de US$ 727 milhões em 2006
- para US$ 443 em 2008
- para o Brasil, vai de US$ 6 milhões em 2006 para US$ 1 milhão em 2008
- para a Venezuela, vai de US$ 2 milhões em 2006 para 0 em 2008
Fundo de Programas de Saúde e Sobrevivência Infantil
- cai de US$ 143 milhões em 2006
- para US$ 108 milhões em 2008
Auxílio a Organizações Interamericanas
- cai de US$ 133 milhões em 2006
- para US$ 132 milhões em 2008
Assistência para Desenvolvimento
- cai de US$ 268 milhões em 2006
- para US$ 198 milhões em 2008
- para o Brasil, vai de US$ 2,9 milhões em 2006 para 0 em 2008
Financiamento Militar Estrangeiro
- cai de US$ 110 milhões em 2006
- para US$ 83 milhões em 2008
Controle Internacional de Narcóticos e Execução Legal (INCLE)
- cai de US$ 80 milhões em 2006
- para US$ 51 milhões em 2008
Assistência a Refugiados e Migração (MRA)
- cai de US$ 25 milhões em 2006
- para US$ 21 milhões em 2008
Educação e Treinamento Militares Internacionais
- cai de US$ 13 milhões em 2006
- para US$ 12 milhões em 2008
- mas para o Brasil sobe de 0 para US$ 188 mil
O QUE AUMENTA
Fundo de Apoio Econômico
- sobe de US$ 138 milhões em 2006
- para US$ 364 milhões em 2008
- mas o Brasil não recebe este tipo de auxílio
Iniciativa Global contra HIV/Aids
- sobe de US$ 65 milhões em 2006
- para US$ 104 milhões em 2008
- mas o Brasil não recebe este tipo de auxílio
Fonte: Proposta de Orçamento para o Ano Fiscal de 2008 do Departamento de Estado dos EUA
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