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25/02/2007
-
07h01
DANIELA LORETO
da Folha Online
A passagem de dois ciclones na semana passada por Moçambique dificulta ainda mais a ajuda da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras, que calcula as vítimas das inundações neste país africano, desde o início do mês, em 121 mil.
A MSF, no entanto, estima que os desalojados poderão chegar a 280 mil. Dos 121 mil já contabilizados oficialmente, 71 mil estão em abrigos construídos pelas equipes de ajuda humanitária. Além dos desabrigados, ao menos 30 pessoas morreram no país devido às enchentes.
"As chuvas começaram em janeiro, mas até fevereiro, as barragens dos rios ainda sustentavam o excesso de água", relatou à Folha Online a médica paulistana Raquel Yokoda, 26. Ela integra os Médicos Sem Fronteiras desde 2006 e participa de sua primeira missão de auxílio.
Segundo ela, a partir deste mês, a maior barragem de Moçambique, localizada no rio Zambezi, começou a abrir as comportas e despejar 10 mil litros de água por segundo.
A brasileira explica que, além do rompimento das barragens, as chuvas intensas que atingiram os países vizinhos, cujos rios encontram o Zambezi na parte baixa, também contribuíram para as inundações. "Todo o vale do rio Zambezi ficou totalmente tomado pelas águas. Em um período de uma semana, a paisagem de Moçambique era outra".
De acordo com Yokoda, a área atingida pelas inundações é equivalente em tamanho a metade do Estado do Rio de Janeiro. As regiões mais críticas são Mutarara e Caia.
A médica, que participava de outra missão da MSF de ajuda a portadores de HIV na região, foi deslocada ao lado de outros membros da ONG para a área das enchentes.
Moçambique, país de 19 milhões de habitantes cuja população abaixo da linha da pobreza chega a 70%, possui renda per capita de apenas US$ 1.500 e taxa de analfabetismo de 52%. Em 2006, o país aparece em 168º lugar na lista do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)--que mede o desenvolvimento do país com base na expectativa de vida, no nível educacional e na renda per capita. A Noruega lidera a lista, e o Brasil está na 69ª posição-- elaborada pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Segundo a médica, estima-se que cerca de 20% da população seja portadora do vírus HIV. Devido à epidemia, a expectativa de vida da população para 2010 é de apenas 27 anos. "Nós [da MSF] consideramos isso uma situação de emergência", diz Yokoda.
Ciclones
Além da calamidade causada pelas enchentes, os trabalhos das equipes humanitárias estão sendo bastante prejudicados devido à passagem de dois ciclones pela região.
Por volta das 22h (16h de Brasília) da última quinta-feira (22), um primeiro ciclone entrou no país vindo do Oceano Índico, atingindo em cheio a área onde foram construídos os abrigos, na região central de Moçambique, também próxima da fronteira com o país vizinho Maláui.
Um segundo ciclone, cuja força é ainda maior, chegou à área dos abrigos neste sábado (24).
De acordo com Yokoda, as tendas dos chamados "campos de acomodação" são feitos de lona plástica e materiais comprados localmente para diminuir os custos. "Os abrigos são frágeis, a qualidade não é tão boa. Eles não suportam ventos de até 280 km/h".
Segundo ela, o grande desafio para as ONGs que atuam no país será reconstruir o que foi derrubado, além de abrigar também a população que ficou desalojada por causa dos ciclones.
Ajuda
O pior problema enfrentado pelas equipes, segundo a médica, é a dificuldade de acesso às regiões atingidas, que estão totalmente alagadas e só podem ser alcançadas por ar ou mar.
Segundo Yokoda, caminhões com os mantimentos saem da Província de Tete ou do Maláui e seguem até Mutarara. De lá, um helicóptero da ONU e dois barcos distribuem as cerca de 20 toneladas de mantimentos aos desabrigados.
"Estamos tentando negociar com a Unicef o envio de mais um helicóptero para a região. Precisamos otimizar entrega dos kits de emergência", afirma a médica.
As equipes humanitárias começaram a chegar ao país entre os dias 1º e 12 de fevereiro. A MSF foi a primeira a chegar, devido ao projeto de ajuda a portadores de HIV que já mantinham na região.
Um total de 12 trabalhadores internacionais e 20 moçambicanos estão empenhados no auxílio aos deslocados das enchentes. Em todo Moçambique, 50 pessoas trabalham para a MSF.
Reconstrução
À passagem de ciclones e à dificuldade de acesso das equipes soma-se a falta de recursos para a reconstrução que será necessária após a catástrofe causada pelas inundações.
De acordo com Yokoda, o processo será demorado e deve levar de 3 a 4 meses. Há risco de fome para os desalojados, já que Moçambique é um país essencialmente agrário, e muitas plantações e pastagens de gado foram perdidos após as enchentes.
Segundo ela, no entanto, o governo está mais preparado para atender à emergência que em 2001, quando enchentes de grande proporção também atingiram o país. "Eles têm material para trabalhar, mas não tem recursos humanos. É essa ajuda que a MSF irá oferecer", diz.
Foram relatados alguns casos de doenças como malária, diarréia, conjuntivite e meningite mas, até o momento, não houve registro de cólera, de acordo com informações da médica.
Em 2000 e 2001, inundações foram a causa da morte de mais de 800 pessoas e deixaram centenas de milhares de desabrigados, além de danificar severamente estradas e pontes.
Na época, Moçambique, um dos mais pobres do mundo, também foi atingido por um surto de cólera.
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Desabrigados podem chegar a 280 mil na África; ciclones atrapalham ajuda
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da Folha Online
A passagem de dois ciclones na semana passada por Moçambique dificulta ainda mais a ajuda da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras, que calcula as vítimas das inundações neste país africano, desde o início do mês, em 121 mil.
A MSF, no entanto, estima que os desalojados poderão chegar a 280 mil. Dos 121 mil já contabilizados oficialmente, 71 mil estão em abrigos construídos pelas equipes de ajuda humanitária. Além dos desabrigados, ao menos 30 pessoas morreram no país devido às enchentes.
"As chuvas começaram em janeiro, mas até fevereiro, as barragens dos rios ainda sustentavam o excesso de água", relatou à Folha Online a médica paulistana Raquel Yokoda, 26. Ela integra os Médicos Sem Fronteiras desde 2006 e participa de sua primeira missão de auxílio.
Thierry Delvigne-Jean/Reuters |
Crianças moçambicanas em frente à casa inundada em Caia, na Província de Sofala |
A brasileira explica que, além do rompimento das barragens, as chuvas intensas que atingiram os países vizinhos, cujos rios encontram o Zambezi na parte baixa, também contribuíram para as inundações. "Todo o vale do rio Zambezi ficou totalmente tomado pelas águas. Em um período de uma semana, a paisagem de Moçambique era outra".
De acordo com Yokoda, a área atingida pelas inundações é equivalente em tamanho a metade do Estado do Rio de Janeiro. As regiões mais críticas são Mutarara e Caia.
A médica, que participava de outra missão da MSF de ajuda a portadores de HIV na região, foi deslocada ao lado de outros membros da ONG para a área das enchentes.
Moçambique, país de 19 milhões de habitantes cuja população abaixo da linha da pobreza chega a 70%, possui renda per capita de apenas US$ 1.500 e taxa de analfabetismo de 52%. Em 2006, o país aparece em 168º lugar na lista do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)--que mede o desenvolvimento do país com base na expectativa de vida, no nível educacional e na renda per capita. A Noruega lidera a lista, e o Brasil está na 69ª posição-- elaborada pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Segundo a médica, estima-se que cerca de 20% da população seja portadora do vírus HIV. Devido à epidemia, a expectativa de vida da população para 2010 é de apenas 27 anos. "Nós [da MSF] consideramos isso uma situação de emergência", diz Yokoda.
Ciclones
Além da calamidade causada pelas enchentes, os trabalhos das equipes humanitárias estão sendo bastante prejudicados devido à passagem de dois ciclones pela região.
Marcelo Katsuki/Folha |
Um segundo ciclone, cuja força é ainda maior, chegou à área dos abrigos neste sábado (24).
De acordo com Yokoda, as tendas dos chamados "campos de acomodação" são feitos de lona plástica e materiais comprados localmente para diminuir os custos. "Os abrigos são frágeis, a qualidade não é tão boa. Eles não suportam ventos de até 280 km/h".
Segundo ela, o grande desafio para as ONGs que atuam no país será reconstruir o que foi derrubado, além de abrigar também a população que ficou desalojada por causa dos ciclones.
Ajuda
O pior problema enfrentado pelas equipes, segundo a médica, é a dificuldade de acesso às regiões atingidas, que estão totalmente alagadas e só podem ser alcançadas por ar ou mar.
Thierry Delvigne-Jean/Reuters |
Desabrigados aguardam chegada de mantimentos em abrigos em Moçambique |
"Estamos tentando negociar com a Unicef o envio de mais um helicóptero para a região. Precisamos otimizar entrega dos kits de emergência", afirma a médica.
As equipes humanitárias começaram a chegar ao país entre os dias 1º e 12 de fevereiro. A MSF foi a primeira a chegar, devido ao projeto de ajuda a portadores de HIV que já mantinham na região.
Um total de 12 trabalhadores internacionais e 20 moçambicanos estão empenhados no auxílio aos deslocados das enchentes. Em todo Moçambique, 50 pessoas trabalham para a MSF.
Reconstrução
À passagem de ciclones e à dificuldade de acesso das equipes soma-se a falta de recursos para a reconstrução que será necessária após a catástrofe causada pelas inundações.
De acordo com Yokoda, o processo será demorado e deve levar de 3 a 4 meses. Há risco de fome para os desalojados, já que Moçambique é um país essencialmente agrário, e muitas plantações e pastagens de gado foram perdidos após as enchentes.
Segundo ela, no entanto, o governo está mais preparado para atender à emergência que em 2001, quando enchentes de grande proporção também atingiram o país. "Eles têm material para trabalhar, mas não tem recursos humanos. É essa ajuda que a MSF irá oferecer", diz.
Foram relatados alguns casos de doenças como malária, diarréia, conjuntivite e meningite mas, até o momento, não houve registro de cólera, de acordo com informações da médica.
Em 2000 e 2001, inundações foram a causa da morte de mais de 800 pessoas e deixaram centenas de milhares de desabrigados, além de danificar severamente estradas e pontes.
Na época, Moçambique, um dos mais pobres do mundo, também foi atingido por um surto de cólera.
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