Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
29/03/2007 - 10h05

Colômbia enfrenta aumento de 21% em vítimas de conflito armado

Publicidade

ANDREA MURTA
da Folha Online

A piora no conflito armado na Colômbia gerou em 2006 um aumento de 21% dos refugiados internos no país, vítimas dos efeitos dos combates, segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) colombiano.

A Colômbia enfrenta há mais de 40 anos os confrontos entre o governo em Bogotá, os grupos paramilitares e as guerrilhas, como as Farc (Forças Armadas revolucionárias da Colômbia).

Divulgação
Barbara Hintermann é diretora da delegação do CICV na Colômbia
Barbara Hintermann é diretora da delegação do CICV na Colômbia
"Prestamos assistência a 62.428 refugiados vítimas dos conflitos em 2006 --um aumento de 21% em comparação com 2005", afirmou à Folha Online a suíça Barbara Hintermann, 47, diretora da delegação da CICV na Colômbia, por telefone, de Bogotá.

Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), a Colômbia é, depois do Sudão, o país com o maior número de refugiados internos no mundo, com um acúmulo de 3,7 milhões de pessoas que fugiram de suas regiões de origem devido ao confronto.

O problema é tão agudo que a ACNUR, ao lado de várias entidades, lançou 2007 como o "Ano dos Direitos dos Refugiados na Colômbia".

A maioria dos refugiados, segundo o CICV, sai de suas casas para escapar de ameaças de morte (30%), conflitos (20%), morte de familiares (15%) e da pressão para colaborar com grupos armados (13%).

A áreas que mais originam refugiados, segundo o CICV, são Antioquia, Bogotá, Nariño, Meta e Norte de Santander, com 55% do total de casos atendidos pelo CICV. A maioria dos casos está relacionada a refugiados individuais, mas casos massivos, com mais de dez famílias em fuga, também são freqüentes (19.642 em 2006).

O atendimento do grupo prevê três meses de fornecimento de bônus alimentares e outros tipos de assistência, depois dos quais o CICV monitora o atendimento do Estados aos refugiados.

Conflito

O relatório da CICV informa que violações do Direito Humanitário Internacional (DIH) não são exclusividades das guerrilhas e dos grupos paramilitares, mas ocorrem de todos lados do conflito --inclusive o governo.

Por manter a neutralidade no conflito, a organização afirma ter conquistado grande aceitação por todas as partes envolvidas. "Há violações, mas tentamos aumentar o respeito à população civil através dos diálogos confidenciais", afirma Hintermann.

Os diálogos confidenciais são uma estratégia do CICV para lidar com abusos. Após relatar a violência sofrida com total sigilo, a vítima pode escolher se quer que a ONG leve a questão até a parte agressora (nunca denunciando a violação de um lado a membros do outro) para tentar impedir novos abusos.

Uma das dificuldades é lidar com agressões sexuais, que aparecem como uma das grandes ameaças a civis no conflito. Enquanto o CICV reconhece o problema, não sabe precisar sua real dimensão. Em 2006 o grupo relata atendimento a 28 vítimas de agressões sexuais devido ao conflito.

"É difícil estimar o número de casos, porque não é fácil para as mulheres falar sobre o assunto. Mas tentamos sensibilizar a sociedade sobre o respeito a mulheres e produzimos um guia ("Responda às necessidades das mulheres envolvidas no conflito") para abordar o problema", diz a diretora.

Crianças-soldado

Além dos estupros, a questão das crianças-soldados também apresenta grandes desafios. Os recrutamentos forçados e a conquista de adeptos infantis para o conflito devido à falta de oportunidades preocupa o país, mas não há números oficiais sobre o número de afetados.

Albeiro Lopera/Reuters
Colombiana passa por fotos de desaparecidos devido a conflito; refugiados crescem 21%<BR>
Colombiana passa por fotos de desaparecidos devido a conflito; refugiados crescem 21%
Estimativas de ONGs como o grupo Human Rights Watch (HRW), avaliam que mais de 11 mil crianças serviam como soldados na Colômbia --inclusive dentro do governo-- em 2003. Nem sempre as crianças atuam no combate: elas também são destacadas para tarefas de inteligência, como espionagem ou envio de mensagens.

Segundo a HRW, crianças-soldados são chamadas de "pequenas abelhas" pelas guerrilhas, porque "picam antes que os inimigos percebam que estão sendo atacados". Já os paramilitares as chamam de "pequenos sinos", já que elas ficam na linha de frente e dão o alerta quando há um ataque iminente.

A HRW adverte que as pequenas "abelhas" e "sinos" são, com freqüência, os que carregam o fardo mais pesado do confronto.

Acesso a reféns

Nos Departamentos de Nariño, Arauca, Cauca, Antioquia, Meta e Chocó 2006 observou uma piora significativa das condições humanitárias relatadas pelo CICV. Mas apesar de se ver em meio a execuções sumárias, seqüestros e estupros, a organização se mantém à parte da política e se recusa a opinar sobre o conflito.

"Às vezes é, sim, frustrante não podermos dizer publicamente o que pensamos sobre os conflitos. Mas só mantendo a neutralidade conseguimos realizar nosso trabalho, que é de ajudar as vítimas", diz Hintermann.

A fuga da controvérsia garantiu ao grupo acesso simultâneo ao governo e às Farc, com quem conseguem até mesmo trocar informações sobre os reféns e detidos para dar alento às famílias.

Segundo grupos nacionais, as Farc mantêm em cativeiro 1.100 colombianos e estrangeiros, a maioria por razões econômicas, e outros 58 que essa organização armada ilegal considera que podem ser trocados por membros da guerrilha detidos em prisões do país e dos Estados Unidos. Uma das mais famosas é Ingrid Betancur, candidata à Presidência em 2002 seqüestrada durante sua campanha e desaparecida até hoje na Colômbia.

"Infelizmente não conseguimos ainda o acesso aos reféns, mas é possível trocar mensagens e obter provas de vida para enviar às famílias", diz a diretora.

Especial
  • Leia o que já foi publicado Álvaro Uribe
  • Leia o que já foi publicado sobre a Colômbia
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página