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08/04/2007 - 09h30

Em turbulência, Timor elege presidente

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GIOVANA VITOLA
Colaboração para a Folha de S.Paulo, de Sydney

Depois de um ano marcado pela instabilidade política e uma crise militar, os timorenses irão às urnas amanhã para eleger o novo presidente do país lusófono, o segundo chefe de Estado desde que Timor se tornou livre da ocupação indonésia, em 1999. O escolhido entre os oito candidatos sucederá Xanana Gusmão, líder da luta pela independência.

Não há pesquisas confiáveis, mas o provável é que a disputa se dê entre o atual primeiro-ministro, José Ramos Horta, 57, Nobel da Paz em 1996, e Francisco Guterres, 53, conhecido como Lu-Olo, candidato da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente) --movimento que liderou a luta pela independência e do qual Xanana Gusmão se afastou no final dos anos 1990. O atual presidente apóia Ramos Horta, a quem nomeou primeiro-ministro em julho de 2006, depois que uma rebelião militar levou à renúncia do então premiê Mari Alkatiri, da Fretilin, que hoje faz campanha para Lu-Olo.

Alkatiri foi inocentado pela Justiça, em fevereiro deste ano, da acusação de ter entregado armas a seus partidários durante a rebelião, quando expulsou das jovens Forças Armadas Timorenses 600 militares. Alfredo Reinado, o chefe da rebelião, que está foragido, divulgou carta de apoio à candidata Lúcia Lobato, que defende o fim do português como língua oficial.

De acordo com analistas, Lu-Olo, nacionalista e que concorre com uma plataforma de centro-esquerda, sofre a oposição da Austrália, que fornece 1.100 dos 1.250 capacetes azuis que integram a missão de paz enviada pela ONU ao país em 1999. A missão acaba de ser renovada por um ano.

Interesses australianos

"A Austrália tem muito medo que a Fretilin, nacionalista, retome o poder com a força e o prestígio que ela tinha antes e volte a enfrentar os australianos na questão do petróleo", disse Iberê Lopes, assessor jurídico da Usaid (a agência norte-americana para o desenvolvimento internacional) em Timor. "A Austrália confia mais em Ramos Horta, por vê-lo como mais moderado."

Segundo escreveu o sociólogo português Boaventura Souza Santos, em artigo para a Folha no ano passado, os interesses australianos em Timor são econômicos (reservas de petróleo e gás calculadas em US$ 30 bilhões) e geomilitares (controlar rotas marítimas e travar a emergência da China).

Na opinião de Boaventura, o ex-premiê Alkatiri confrontou os interesses australianos ao aumentar a participação de Timor na renda do petróleo extraído pela Austrália e ao conceder direitos de exploração a uma empresa chinesa. Nos últimos dias da campanha, que começou em 23 de março, os comícios foram turbulentos, com intervenções da polícia de Dili, capital do país.

Incidentes ocorridos em Viqueque, a 220 km de Dili, onde partidários de Ramos Horta foram apedrejados, contabilizaram ao menos 20 feridos. Além disso, foram lançadas pedras contra uma coluna de veículos da campanha da Fretilin em que seguiam Lu-Olo e Alkatiri. Apesar dos conflitos, a porta-voz da ONU no Timor, Allison Cooper, disse à Folha que até agora não houve "violência séria" na campanha. Cooper disse que há 1.665 policiais internacionais da ONU no Timor para garantir a segurança da votação.

Troca de posto

Caso eleja seu aliado Ramos Horta para a Presidência, o projeto de Xanana Gusmão é concorrer no ano que vem ao cargo de premiê. Ele acaba de formar um partido, o Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNTR), que tem o mesmo nome da frente política que apoiou a luta pela independência de Timor. A ex-colônia portuguesa esteve sob ocupação da Indonésia entre 1975 e 1999 e ficou sob administração da ONU até 2002.

Ramos anunciou na semana passada que, caso vença, pedirá às Nações Unidas, à Austrália e à Nova Zelândia que permaneçam com suas tropas o tempo necessário para ajudar a estabilizar o país. As eleições serão acompanhadas por mais de mil observadores timorenses e por cerca de cem observadores internacionais, entre eles brasileiros. Cerca de 500 mil timorenses estão registrados para votar. Se nenhum candidato obtiver 50% dos votos ou mais, o segundo turno será disputado em 9 de maio.

Colaborou FERNANDO SERPONE BUENO

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