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11/04/2007 - 10h26

Jogadoras lamentam comentário racista de locutor nos EUA

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DENYSE GODOY
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Depois de uma semana de silêncio, as jogadoras da equipe de basquete da Rutgers --universidade pública do Estado de Nova Jersey-- vieram a público ontem dizer o quanto sofreram com os comentários do locutor de rádio Don Imus, que as havia chamado de "putinhas de cabelo pixaim" em seu programa na quarta passada. "Ele nos roubou um momento de pura bênção", afirmou, em entrevista coletiva, a capitã do time, Essence Carso.

A equipe chegou como zebra à final do campeonato da Associação Atlética Universitária Nacional. Perdeu, na noite de terça, para o time da universidade de Tennessee, mas mesmo assim a campanha que fizeram era motivo suficiente de comemoração para as meninas da Rutgers --oito negras e duas brancas.

"No entanto, quando fomos passar a Páscoa com nossas famílias, o assunto era as observações deploráveis do senhor Imus", lamentou a jogadora Heather Zurich. "O que mais dói nessa situação é que ele não conhece pessoalmente nenhuma de nós."

"Ninguém acreditava nessa equipe a não ser as próprias atletas. Elas deram o melhor de si e agora têm que enfrentar isso", acrescentou a treinadora, Vivian Stringer. "São jovens damas de classe, distintas, articuladas, brilhantes, talentosas. Vamos manter nossas cabeças erguidas com dignidade."

O programa "Imus de Manhã" tem mais de 30 anos. Popular em Nova York, atualmente é transmitido pela estação de rádio WFAN, que faz parte do grupo CBS, e retransmitido pela rede MSNBC. Imus e os outros apresentadores do show são conhecidos pelas piadas de gosto duvidoso --eles já foram acusados anteriormente de racismo, homofobia e misoginia.

Na última segunda, diante dos protestos que surgiram sobre a forma como se referiu às jovens da Rutgers, Imus foi ao programa de rádio do reverendo Al Sharpton --famoso defensor dos direitos dos negros-- desculpar-se pelo comentário "repulsivo e horrível". "Queria não ter dito aquilo. Perdão", falou. O locutor pediu ainda para se encontrar com o time de basquete, proposta aceita pelas jogadoras.

A CBS e a MSNBC também decidiram suspender o "Imus de Manhã" por duas semanas a partir do próximo dia 16. A punição pode não ser suficiente, porém, para aplacar a raiva suscitada pelas declarações do apresentador --ONGs feministas e de proteção aos direitos humanos querem que o show seja cancelado.

"Ofender as pessoas é o padrão desse programa. Vai passar o período de suspensão e ele vai voltar ao ar, dizendo tudo o que sempre disse", afirmou à Folha Olga Vives, vice-presidente executiva da Organização Nacional pelas Mulheres. "Os anunciantes devem reavaliar se querem mesmo apoiar um show que insulta a população afro-americana e as mulheres. É inaceitável."

Questão ampla

"Essa história não é apenas sobre uma equipe de basquete. É sobre a vida, sobre preconceito e diz respeito a todas as mulheres. É tempo de refletirmos sobre o que está acontecendo", pediu Vivian, a treinadora.

Para Rinku Sin, do Centro de Pesquisa Aplicada --especializado em racismo--, é preciso chamar a atenção da sociedade dos EUA para que tais atos não sejam tolerados.

"Não devemos ignorar essas manifestações, porque isso faz com que elas cresçam", explicou à Folha.

Para ela, apesar de recentes progressos, as instituições do país ainda falham em educar melhor os cidadãos sobre o tema.

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