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25/10/2000 - 20h31

Governo peruano está sem rumo

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da France Presse
em Lima

A grave crise peruana mostra um país com um governo incapaz de resolver o desafio que significa a presença clandestina do temido ex-responsável pelos poderosos serviços secretos Vladimiro Montesinos, e com uma oposição fraca que exige sem sucesso a renúncia do presidente Alberto Fujimori.

A impressão generalizada é que o governo está sem rumo frente a sucessão de fatos contraditórios que se precipitaram depois da volta de Montesinos de seu breve exílio no Panamá, coordenado por Fujimori, o que levou à renúncia do vice-presidente Francisco Tudela.

O panorama se agravou com a divisão produzida entre os integrantes da bancada oficialista no Congresso (unicameral), entre legisladores fujimoristas.

A presidenta do Congresso, Martha Hildebrandt, anunciou repentinamente que a aliança governante Peru 2000, que assegurava a maioria ao presidente Alberto Fujimori no Parlamento unicameral, se dividiu.

"Há uma divisão entre os absalinistas (do lado do deputado Absalón Vásquez) e nós", disse Hildebrandt à imprensa, acusando o deputado Absalón Vásquez de ambição de poder e querer ser candidato presidencial.

Aa divisãos partiu a mesa diretora do Congresso, o que poderia provocar a eleição de um novo presidente desse corpo, e eventualmente colocaria a oposição na liderança do Legislativo, numa situação de repercussões inimagináveis.

Vásquez lidera o grupo "Vamos Vizinho", representa a tendência populista do governo de Fujimori e é um dos principais assessores de Fujimori.

O desconcerto atinge todos os setores da classe política peruana, desde empresários até grupos defensores dos direitos humanos passando pela igreja católica, que pedem urgência ao governo para tomar uma decisão em relação a Montesinos - considerado a eminência parda do regime e o verdadeiro poder na presidência - , e prendê-lo por cirrupção.

A exigência das forças armadas de uma anistia para militares e civis por violações dos direitos humanos na luta contra o terrorismo e o narcotráfico, como condição para convocar eleições antecipadas, mostrou em clara mensagem que os comandos militares e Montesinos controlam o poder real e fazem chantagem, segundo a oposição.

A congressista oficialista Luz Salgado, uma notória fujimorista que representa o governo na mesa de diálogo da OEA, disse à AFP que uma maneira de superar a situação era "discutir com a oposição a proposta de reconciliação (anistia) e modificar o que fosse necessário".

Admitiu que os militares temem "uma caça às bruxas e sugeriu que a anistia pode se concretizar unicamente para os casos de terrorismo".

O sociólogo Fernando Rospigliosi disse à AFP que apesar de a oposição parecer bastante unida, em comparação à situação em que estava apenas no começo do ano, "ainda não consegue mobilizar maciçamente o povo peruano e derrubar o regime".

"A oposição está bastante unida, com exceção no que se refere ao partido liderado pelo congressista Fernando Olivera, e agora trabalham juntos em quase tudo e assumiram o caminho das mobilizações", ressaltou.

Olivera, que dirige a Frente Independente Moralizadora, terceira força no Congresso, é um dos potenciais candidatos à presidência, pois sua popularidade aumentou por difundir uma fita de vídeo onde se vê Montesinos num ato de suposta corrupção, entregando 15.000 dólares a um deputado opositor para que passe para o lado do governo, fato que precipitou a crise e a retirada do poder de Fujimori ao reduzir a um ano (julho de 2001) seu mandato de cinco.

Rospigliosi reconheceu, no entanto, "que o problema da oposição é que as pessoas não parecem dispostas a se mobilizar, como aconteceu na Iugoslávia. A incapacidade da oposição para mobilizar as massas nas ruas faz com que sua capacidade de ação não seja muita, e que não possa ir longe".

"Esta incapacidade é parte da não-resolução da crise, porque a oposição não tem poder para derrubar Fujimori e Montesinos, ambos com poder suficiente para se manter no topo e sem que nenhum deles também consiga tirar o outro; essa é a tragédia, nenhum pode se impor ao outro", resumiu.

O líder da oposição, Alejandro Toledo, lançou há uma semana uma cruzada de mobilizações para acelerar a renúncia de Fujimori, no estilo da Iugoslávia, como aconteceu em Belgrado com o renunciante Slobodan Milosevic no começo deste mês.

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