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29/10/2000 - 08h44

Jornalistas acusam Viena de ferir liberdade de imprensa

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

Ameaças de demissão contra jornalistas avessos às políticas do governo, pressão sobre o conteúdo de matérias veiculadas feita por autoridades e campanhas de intimidação tornaram-se comuns na Áustria desde que o Partido da Liberdade (PL), que já foi presidido pelo líder de extrema direita Joerg Haider, passou a fazer parte da coalizão governamental, em 4 de fevereiro deste ano.

O que não passava de suspeita sem provas foi confirmado à Folha de S.Paulo por dois jornalistas da rede de rádio e televisão austríaca ÖRF (Österreichischer Rundfunk), que pediram para não serem identificados por temerem represálias dos partidos que formam a coalizão no poder em Viena -PL e Partido do Povo, do chanceler (premiê) Wolfgang Schuessel.

Há alguns dias, toda a redação da rede votou a favor de uma resolução na qual denunciava a situação atual. "A pressão dos partidos do governo atingiu proporções insuportáveis nos últimos dias, ela inclui até tentativas de intimidação direta de alguns jornalistas", afirmava a resolução.

O estopim da crise, segundo os jornalistas da ÖRF, foi a abertura de um inquérito preliminar contra vários líderes do PL, incluindo Haider, que teriam obtido informações confidenciais sobre adversários políticos por meio de simpatizantes dentro da polícia e de espionagem informática. Haider refutou a acusação na última quarta e afirmou ter-se beneficiado "de boas informações, mas não de dossiês secretos".

Citado na resolução dos jornalistas, Peter Westenthaler, líder do PL no Parlamento, ameaçou "fazer com que os redatores de esquerda e de extrema esquerda sejam demitidos" da televisão, em entrevista concedida ao jornal conservador "Die Presse".

Na última quinta, os Verdes, partido de oposição, anunciaram sua intenção de depositar amanhã no Parlamento uma moção de desconfiança contra Dieter Boehmdorfer -atual ministro da Justiça, ex-advogado e amigo pessoal de Haider-, que está sob suspeita de ter tido acesso a dados computadorizados confidenciais, pertencentes à polícia, sobre adversários políticos do ex-cliente.

A influência do governo sobre a ÖRF, que detém o monopólio em matéria de TV aberta (com ÖRF1 e ÖRF2) e domina as rádios do país, é antiga. Sua estrutura conta até com um diretório de 35 membros nomeados pelos partidos representados no Parlamento.

Entretanto, conforme relato de um dos jornalistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, desde que a coalizão conservadora assumiu o poder, as intervenções deixaram de ser sutis e passaram a ser agressivas, com a clara intenção de intimidar os jornalistas, ferindo, assim, a liberdade de imprensa na Áustria.

Ingerência

Várias formas de ingerência governamental têm ocorrido, de acordo com os dois funcionários da ÖRF. Ligações para a diretoria da redação e influência sobre o conteúdo dos programas veiculados são comuns.

Especula-se nos corredores da rede, segundo eles, que alguns deputados recebam, com horas de antecedência, o texto do jornal da noite para ter a possibilidade de vetar comentários desfavoráveis. Até mesmo o correio eletrônico dos funcionários está sob suspeita de monitoramento por parte dos partidos no poder em Viena.

O diretor-geral da rede, Gerhard Weis, por sua vez, disse que, frequentemente, se vê obrigado a dar 'direito de resposta' a membros do governo, que acreditam ter sido ofendidos por um convidado de um programa exibido pela rede, para que eles possam dar ao público sua versão dos fatos, sem que os jornalistas tenham o direito de lhes fazer perguntas.

A consequência dessas pressões é, para ambos os jornalistas entrevistados pela Folha, a autocensura. Assim, os próprios funcionários da rede preferem não correr o risco de se indispor com as autoridades e evitam assuntos ou comentários considerados subversivos pelo poder central.

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