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05/11/2000 - 11h55

Candidatos dos EUA mantêm tradição e contam "mentirinhas"

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Ok, Al Gore, o candidato democrata, corre o risco de ficar marcado nestas eleições como mentiroso. Ou, no mínimo, exagerado. Afinal, o vice-presidente realmente disse que tomou "a iniciativa de criar a Internet", o que não é verdade, embora sua atuação na legislação tenha ajudado a rede a ser o que é hoje.

Gore afirmou ainda que ele e sua mulher, Tipper, foram o casal que inspirou "Love Story", o lacrimoso drama de Arthur Hiller de 1970, com Ali MacGraw e Ryan O'Neill, ele estudante de Harvard como o democrata. Não foi bem assim, disse o diretor do filme.

Mais recentemente, durante o primeiro debate na TV, afirmou que esteve no Texas durante uma recente onda de incêndios acompanhando um alto funcionário do governo, mas se referia a outra viagem. Chegou a pedir desculpas no debate seguinte e fez piada sobre sua propensão a exagerar.

A injustiça é que ele não está sozinho. No mesmo debate em que fazia pouco de Gore, George W. Bush exagerou um pouquinho ele mesmo. Disse que os três brancos que lincharam o negro James Byrd no Texas iriam para a cadeira elétrica. Na verdade, um deles pegou prisão perpétua. Não que isso diminua o escore do governador, que tem 145 execuções em seus cinco anos de mandato.

E, de novo, Gore e Bush não estão sozinhos. Candidatos mentem, assim como mentem os presidentes. Vêm mentindo desde George Washington (1789-1797). Há os casos mais notórios, como Richard Nixon (1969-1974) e seu Watergate, ou Bill Clinton (1993-2000) e seu Monicagate.

Mas o campeão, segundo os jornalistas, era mesmo Ronald Reagan (1981-1989). Em 1983, durante uma visita do então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Shamir, à Casa Branca, o ex-ator afirmou que foi um dos primeiros fotógrafos do Exército a fazer imagens dos campos de concentração nazistas, no fim da Segunda Guerra.

Gostava de contar também que, enquanto era capitão, naquela época, sonhava frequentemente em voltar para casa e fazer amor com sua primeira mulher, a atriz Jane Wyman. Pois bem: Ronald Reagan nem sequer saiu dos EUA quando serviu o Exército. Jantava todas as noites em casa.

Outra de suas fantasias era a "rainha do serviço social de Chicago", uma golpista que, segundo o ex-presidente, tinha 80 nomes, 30 endereços, 12 números do seguro social e recebia US$ 150 mil por ano do governo. A tal rainha existiu e foi condenada em 1977, mas por ter usado dois nomes e descontado 23 cheques da Previdência -de US$ 8.000 no total.

Bem antes dele, em 1960, no primeiro debate presidencial transmitido pela TV, o jovem, bem vestido e saudável John F. Kennedy (1961-1963) sobressaiu-se em relação a um pálido, doentio e amarfanhado Richard Nixon - e ganhou a eleição. Pois era Kennedy o doente - sofria do mal de Addison (uma doença incurável), fato que sempre negou.

O presidente seguinte ficou famoso pelo discurso para os soldados norte-americanos na Coréia durante a guerra. Então, Lyndon Johnson (1963-1969) afirmou que seu tataravô havia morrido durante a Batalha de Álamo. Mentirinha. Ele era um dono de terras que morreu de velhice em sua cama, sossegado e feliz.


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