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06/11/2000 - 08h11

Com Bush, "Brasil será mais competitivo em conexão com EUA"

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MARCIO AITH
da Folha de S.Paulo

Robert Zoellick é um dos nove "vulcões", como são conhecidos os formuladores da política externa do candidato republicano George W. Bush. Professor de Harvard e conselheiro da Goldman Sachs para assuntos internacionais, Zoellick trabalhou nas duas últimas administrações republicanas na Casa Branca.

No governo de George Bush (1989-1993), pai do atual candidato, foi subsecretário de Estado e subchefe de gabinete da Presidência. Representou o presidente em reuniões do G-7 e desenhou a estratégia norte-americana com relação à reunificação alemã.

Durante o governo Ronald Reagan (1981-1989), assessorou o secretário de Estado James Baker. Na divisão de trabalho dos "vulcões", coube a Zoellick formular um plano de governo para a América Latina e defendê-lo publicamente.


Folha - Por que o governador George W. Bush seria mais favorável à América Latina e ao Brasil do que o vice-presidente Al Gore?
Robert Zoellick - Bush expressou fortemente seu interesse no continente. Em agosto, fez um discurso exclusivo sobre a região, enquanto Gore não se referiu à América Latina durante a campanha.
Além disso, sabendo da importância do comércio internacional para o fortalecimento da economia e para a abertura do mercado brasileiro, Bush tem dito que levará adiante as negociações para o comércio livre nas Américas.

Ele afirmou que quer a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e que pretende obter o "fast track" (mecanismo que dá poderes ao presidente norte-americano de fechar acordos de comércio sem que o Congresso possa emendá-lo, aprovando-o ou rejeitando-o em bloco) antes do Encontro das Américas em Quebec, no Canadá (em abril de 2001).

Folha - E se o Brasil não quiser a Alca tanto quanto os EUA, por achar que as indústrias brasileiras não estão preparadas para a competição? Poderíamos então dizer que Bush empurrará a Alca goela abaixo do Brasil?
Zoellick - A hipótese não corresponde à realidade, segundo o que me dizem autoridades brasileiras com as quais converso. O Brasil quer a Alca. Além disso, os EUA não podem nem deveriam forçar países que não desejam participar da Alca a fazê-lo.

Mas não é o caso do Brasil. O ponto central é que a economia brasileira mudou muito nos últimos 15 anos. Trata-se de um país tão grande que, por causa de suas dimensões, deve fazer sua integração comercial avançar para além de seus vizinhos. Sua conexão com o mercado norte-americano irá ajudar a economia brasileira à medida que suas companhias ficarem competitivas.

Folha - Bush, então, acredita que o Mercosul não é bom para o Brasil e é um obstáculo à Alca?
Zoellick - De maneira alguma. Bush reconhece o papel importante que o Brasil e o Mercosul têm no processo de integração. A Alca não pode conflitar com os esforços do Brasil para integração comercial na América do Sul. São dois processos que se integram.

Folha - Alguns analistas acreditam que, seja qual for o próximo presidente dos EUA, ele protegerá os interesses norte-americanos contra os estrangeiros com a mesma ênfase e usando os mesmos instrumentos. O sr. concorda? Bush estaria disposto, por exemplo, a mudar as leis antidumping, que afetam as exportações brasileiras de aço, em nome do livre comércio?
Zoellick - O governador fez apenas comentários gerais sobre as leis antidumping. O que posso dizer é que Clinton criou um problema em Seattle (durante as negociações da Organização Mundial do Comércio, em novembro de 1999) ao recusar proposta de outros países para mudar essa legislação. Achamos que os EUA não devem excluir assuntos da mesa de negociação.

Folha - Outros pontos levantados pelo governo Clinton em Seattle foram o uso da proteção ambiental e do combate ao trabalho infantil como elementos de barganha em acordos multilaterais de comércio. Como Bush vê essa questão?
Zoellick - Bush é contra o uso desses fatores em foros multilaterais de comércio. Ao sugerir a inclusão de padrões trabalhistas em Seattle, Clinton discordou até de seus assessores mais próximos.

Folha - Qual é a visão de Bush sobre a região Amazônica?
Zoellick - Em seu discurso em Miami, Bush prometeu US$ 100 milhões em fundos extras para a preservação florestal no mundo. Propôs ainda a redução da dívida externa de governos em troca da proteção de florestas tropicais.

Você deve lembrar-se que seu pai, o ex-presidente George Bush, implementou um extenso programa (Enterprise for the Americas Initiative) para reduzir dívidas de governos do Caribe e da América Latina em troca da preservação ambiental. Recentemente, o Congresso autorizou Clinton a fazer algo similar, mas o presidente desperdiçou a oportunidade.

Folha - Bush é favorável à transformação da Amazônia numa área de preservação internacional?
Zoellick - A Amazônia é importante sob o ponto de vista ambiental, mas Bush entende que ela é parte do Brasil e um assunto sensível para o país.

Folha - Gore diz que Bush é a pior opção para a América Latina porque, ao sugerir um corte gigante de impostos num momento de pressões inflacionárias nos EUA, forçaria o Fed a elevar taxas de juro e provocaria, como consequência, a fuga de capitais de países como o Brasil. O sr. concorda?
Zoellick - É absurdo. Sem um corte de impostos, o superávit orçamentário norte-americano ficará em Washington e será gasto por políticos, seja qual for a composição do novo Congresso. Uma vitória de Gore também seria ruim para a América Latina nesse sentido. Sozinho, o programa de Gore implica gastos públicos de US$ 3 trilhões. Isso, sim, forçaria o Fed a elevar os juros. Já o corte de impostos proposto por Bush estimularia a poupança familiar.

Folha - Qual dos dois candidatos interviria mais na América Latina?
Zoellick - Gore, é claro. Bush enfatizou a necessidade de os EUA priorizarem, na política externa, intervenções apenas em assuntos-chave, prioritários, suficientes para enfatizar o poder global dos EUA sem levarem o país à arrogância. Com relação à América Latina, Bush tem em mente ser sempre preferível agir com o apoio de países da região.

Folha - Qual é a avaliação de Bush sobre o Plano Colômbia?
Zoellick - Bush apoiou a iniciativa, mas criticou Clinton por ter demorado a tomar uma decisão. Além disso, o presidente parece não saber como colocar o plano em prática. Bush aprendeu com a administração de seu pai durante a crise em El Salvador. Na época, percebemos que melhor forma de lidar com o problema se deu quando os EUA trabalharam em conjunto com outros países.


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