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12/11/2000 - 11h50

Crise deve engessar Congresso dos EUA

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MARCIO AITH
de Washington

Seja qual for o presidente eleito dos Estados Unidos, a política norte-americana vai ser palco de acirrada disputa partidária e de um imobilismo administrativo talvez mais grave que o observado nos últimos seis anos, quando o presidente Bill Clinton quase foi retirado à força do poder e não conseguiu autorização para negociar projetos como a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Nas eleições de terça-feira passada, os republicanos mantiveram o controle do Congresso norte-americano por margens mínimas, depois de uma disputa amarga que levanta dúvidas sobre o futuro do processo legislativo. Além disso, será a primeira vez desde 1888 que um presidente eleito talvez não seja o que recebeu a maioria dos votos.

Analistas traçam um paralelo com as eleições de 1960, quando o presidente assassinado John Kennedy venceu Richard Nixon por uma margem apertada, em eleições igualmente conturbadas, e não conseguiu aprovar seus projetos num Congresso hostil durante seus três anos de governo.

Os grandes projetos de Kennedy, como o "Civil Rights Act" (pelos direitos civis) e o "Equal Opportunity Act" (programa para acabar com a pobreza), foram aprovados por seu sucessor, Lyndon Johnson.

Nas eleições de terça-feira passada, os democratas ganharam duas cadeiras na Câmara, seis a menos do que precisavam para reconquistar o controle que tinham em 1994.

No Senado, cujo resultado ainda depende de uma definição na eleição para a vaga do Estado de Washington, o partido de Gore poderá, no máximo, empatar em 50 cadeiras com os republicanos.

Seria a primeira divisão do Senado dos EUA entre dois partidos em toda a história.

Nesse caso, pela Constituição, o vice-presidente eleito dos EUA teria o voto de desempate. Isso daria o controle da Casa aos republicanos de qualquer maneira, já que, se Gore for eleito, seu vice, Joe Lieberman, seria obrigado a deixar para os republicanos sua cadeira de senador, que ocupa até hoje.

Ingovernabilidade

Apesar desse cenário pró-republicano, analistas prevêem que George W. Bush não conseguirá formar uma coalizão para governar caso saia vencedor da bagunça eleitoral na Flórida e seja eleito presidente.

"Seu partido passaria a ter o controle simultâneo do Executivo e do Legislativo, o que não consegue desde 1952. No entanto a ressaca do conflito eleitoral e o avanço democrata no Congresso o imobilizariam", disse David H. Smith, analista político que projeta cenários para corretoras em Wall Street.

"As bancadas democratas na Câmara e no Senado fariam tudo para transformar o mandato de Bush num inferno na Terra para garantir o retorno do partido à Casa Branca em 2004. Em nome da governabilidade, Bush teria de recuar e tenderia a ficar parado", completa o analista.

Uma vitória do vice-presidente Al Gore seria pior ainda.

Um Congresso republicano ansioso para privatizar programas públicos provavelmente rejeitaria as propostas de Gore de ampliar a rede de proteção social norte-americana.

"Os americanos dizem gostar do equilíbrio de poder e do confronto entre democratas e republicanos em Washington. Acreditam que só um político é capaz de controlar outro político. Mas temo que o quadro para o futuro seja mais tenso do que esperavam", disse o senador democrata por Nova Jersey, Robert Torricelli.

"Ninguém vai prevalecer sozinho. As coisas só serão feitas com muitas concessões", afirmou o parlamentar.

Um governo de concessões poderia garantir a governabilidade, mas não popularidade.

"Desde 1956, só houve 14 anos nos quais o partido do presidente teve o controle das duas Casas do Congresso. Na maior parte do tempo, eles tiveram de abandonar seus programas de governo para seduzir deputados e senadores. Isso criou a sensação de que não faz diferença quem ocupa o cargo, pois sempre haverá políticas moderadas na Casa Branca", afirmou Charles Jones, pesquisador do Instituto Brookings, em Washington, e professor de ciência política da Universidade de Wisconsin.

Riordan Roett, da Universidade Johns Hopkins, é um dos únicos otimistas.
Segundo ele, um presidente disposto a negociar com o Congresso e com apelo popular sempre consegue reverter as coisas.

"Nesse caso, acho que Bush seria melhor. Ele é um negociador nato, um homem de bastidores. Já Gore é movido pelos princípios. Sua personalidade incita a disputa partidária, além do fato de ter sido vice de Clinton e de carregar consigo os fantasmas dos últimos oito anos."

América dividida

Para complicar, pesquisas de boca-de-urna confirmam que, apesar das tentativas de Gore para parecer conservador e de Bush para parecer liberal, os perfis dos eleitores de cada um dos dois candidatos repetem padrões de voto de eleições anteriores.

Significa que a sociedade norte-americana continua dividida.
Quase 90% dos negros votaram em Gore e apenas 2% em Bush -o democrata teve ainda 62% dos votos dos hispânicos.

O republicano ganhou 53% do voto masculino, enquanto o vice-presidente foi o preferido entre as mulheres.

A renda também marcou as fronteiras. Mais de 70% do voto de eleitores com renda superior a US$ 50 mil por ano foi para Bush.

O governador do Texas venceu ainda nas votações realizadas nas cidades menores; Gore prevaleceu nos grandes centros urbanos.
 

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