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12/12/2000 - 12h35

Empate eleitoral de 1876 teve solução polêmica nos EUA

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MARCIO AITH
da Folha de S.Paulo
em Washington

Em 1876, quando as cicatrizes da Guerra Civil ainda estavam abertas nos EUA, o republicano Ruthford Hayes e o democrata Samuel Tilden disputaram o único pleito presidencial norte-americano que resultou num impasse similar ao atual.

Logo depois das eleições, Hayes, ex-governador de Ohio, disse a um repórter que achava ter sido derrotado por Tilden. Advogado popular e ex-governador de Nova York, Tilden, segundo as projeções, havia conquistado cerca de 250 mil votos a mais que Hayes e estava à frente na contagem parcial do Colégio Eleitoral.

No meio do processo de apuração, no entanto, resultados parciais em três Estados -Carolina do Sul, Louisiana e Flórida-, todos controlados por governadores e parlamentos republicanos, mostraram que as eleições seriam decididas por margens muito pequenas de votos. Naquela época, não havia CNN nem pesquisas de boca-de-urna.

Talvez a única semelhança com a forma atual de eleger presidentes nos EUA era a cédula, também de papel e possivelmente tão confusa quanto algumas usadas no mês passado. O eleitorado nos EUA era formado por 8,3 milhões de pessoas -na eleição passada, 103,8 milhões votaram.

Hayes percebeu que, se virasse o jogo nos três Estados que apresentavam resultados parciais apertados, passaria à frente na disputa. Colocou em prática uma estratégia considerada até hoje uma das mais controversas e polêmicas da história dos EUA.

Os governadores republicanos nos três Estados iniciaram uma campanha para ignorar o resultado das eleições naquelas unidades sob a alegação de que os democratas ganharam porque haviam sido corruptos. Usando essa argumentação, os republicanos indicaram grupos de delegados fiéis a Hayes para o Colégio Eleitoral em Washington, mesmo tendo a eleição sido vencida por Tilden na contagem de votos.

Os democratas reagiram indicando seus próprios grupos de delegados ao Colégio Eleitoral naqueles três Estados, o que resultou num impasse inédito, muito parecido com o que parece formar-se agora nos EUA: Flórida, Carolina do Sul e Louisiana mandaram, cada um, dois grupos de delegados ao Colégio Eleitoral, um fiel a Hayes, e outro, a Tilden.

Para resolver o problema e definir qual dos dois grupos de delegados era legítimo em cada Estado, o Congresso em Washington formou uma comissão de dez parlamentares (cinco democratas e cinco republicanos) e cinco juízes da Suprema Corte (dois haviam sido nomeados por republicanos, dois por democratas e o último deveria ser nomeado pelos quatro anteriores).

A escolha do quinto juiz, que seria o fiel da balança, foi polêmica. A primeira opção era o juiz David Davis, que fora indicado pelo ex-presidente Abraham Lincoln e que pendia para os democratas.

Uma manobra de democratas rebeldes no Estado de Illinois tirou o cargo de Davis na Suprema Corte e o nomeou para uma vaga no Senado, excluindo-o da lista.

Um segundo nome teve de ser escolhido para a comissão especial: o de S. Bradley, que havia sido indicado pelo presidente republicano Ulysses Grant. Em fevereiro de 1877, a comissão votou a favor de Hayes por oito votos a sete. Os democratas consideraram a comissão ilegítima e ameaçaram desrespeitar sua decisão.

A saída encontrada pelos republicanos foi a de cooptar os democratas dos Estados do Sul, que haviam sido derrotados militarmente na Guerra Civil anos antes.

Para garantir a vitória de Hayes, os republicanos admitiram retirar do Sul as tropas de reconstrução federal por meio de um acordo que lavou as mãos para as políticas de segregação racial que sobreviveram até a década passada.

Hayes foi confirmado no cargo e, logo na posse, disse que não tentaria um segundo mandato. Em 1881, elegeu seu sucessor.



 

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