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14/12/2000 - 07h20

Amigos de Bush têm negócios no Brasil

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MARCIO AITH
da Folha de S.Paulo

O presidente eleito George W. Bush levará para a Casa Branca interesses diretamente relacionados com o Brasil.

Mais do que sua promessa de batalhar pela Alca (Área de Livre Comércio das Américas) já nos primeiros dias de governo, são a lista de seus principais financiadores de campanha e pessoas de seu círculo íntimo os maiores indícios de que a administração Bush deverá perseguir enfaticamente a abertura do mercado brasileiro.

Ao menos oito dos dez principais financiadores da chapa Bush-Cheney fizeram investimentos diretos no Brasil ou participaram de licitações relevantes no país recentemente.

Seus donos são pessoas diretamente ligadas à família Bush que, na última década, beneficiaram-se das pressões feitas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pelo governo norte-americano para que o Brasil privatizasse setores como os de energia e aprovasse leis mais rígidas de propriedade intelectual.

O principal financiador de Bush na década é a Enron, maior empresa norte-americana nas áreas de transporte e venda de gás natural.

Ao longo dos anos, a Enron, sediada no Texas, sustentou a carreira do presidente eleito -desde sua fracassada campanha para o Congresso, em 1978, até hoje.

A Enron, que colocou US$ 1,2 milhão na campanha do republicano somente neste ano e cerca de US$ 3 milhões na década, tem investimentos acumulados no Brasil de cerca de US$ 3 bilhões.

A companhia venceu licitação promovida para a construção de uma linha de transmissão de energia de 400 quilômetros ligando os sistemas elétricos do Brasil e da Argentina e possui a maior participação (45%) no consórcio que adquiriu empresas de distribuição de gás para a cidade e para o Estado do Rio de Janeiro.

Outro grande financiador é o grupo Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated. Depois de comprar o departamento de futebol do Corinthians no ano passado, o grupo ingressou fortemente no mercado de publicidade estática nos estádios brasileiros.

O grupo é um dos maiores fundos de investimentos do mundo e tem como presidente Tom Hicks, amigo pessoal de Bush. Hicks e seu fundo já deram US$ 1,5 milhão às campanhas de Bush nos últimos dez anos. Hicks foi também o principal financiador de Bush nas eleições estaduais para o Texas em 1998.

As ligações de Bush com Hicks são polêmicas. Em 1998, Hicks comprou o time de beisebol Texas Rangers por US$ 250 milhões de um grupo de empresários do Estado liderado pelo hoje presidente eleito.

Bush e seu grupo haviam comprado o time em 1989 por apenas US$ 46 milhões. Pessoalmente, Bush pagou US$ 606 mil e levou US$ 14,9 milhões na venda, o que deu combustível para denúncias de democratas.

"Sou amigo pessoal (de Bush) e é óbvio que defendo seus projetos de integração econômica hemisférica", disse ele em entrevista à Folha no ano passado.

Outro grande financiador de Bush é o escritório de advocacia Texas Vilson & Elkis, que representa, no Brasil, cinco companhias norte-americanas em negócios nas áreas de energia e financeira segundo informações em seu próprio website. O escritório não quis revelar a identidade de seus clientes.

A Philip Morris, que lidera a lista dos maiores colaboradores para as eleições deste ano, com US$ 650 mil, também tem interesses específicos no Brasil. A Philip Morris aguarda com ansiedade o governo brasileiro decidir se a processa ou não para recuperar gastos do sistema de saúde com doenças ligadas ao fumo.

"Fast track"
Um dos problemas que Bush poderá ter na integração comercial com o Brasil é o avanço democrata no Congresso e a batalha judicial pelos votos na Flórida.

Por terem aumentado a animosidade entre democratas e republicanos, esses fatos podem impedir que Bush aprove o mecanismo do "fast track" nos três primeiros meses de seu governo, como havia prometido durante a campanha.

O "fast track" é um instrumento legislativo que permite ao presidente
dos EUA fechar acordos importantes (como os de livre comércio) sem se submeter a negociações pontuais com o Congresso. Aos parlamentares, sobra a opção de aprová-los ou rejeitá-los em bloco, sem alterá-los.

Bush anunciou que quer o mecanismo para negociar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) antes do Encontro das Américas em Quebec, no Canadá (em abril de 2001). Isso facilitaria não só a aprovação da Alca no Congresso. Daria ao presidente norte-americano também maior autoridade nas negociação com outros governos da região.
 

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