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25/12/2000 - 01h15

Argentina quer vender tango ao mundo

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JOSÉ ALAN DIAS
da Folha de S.Paulo
em Buenos Aires

Os argentinos estão empenhados para que o tango, o retrato mais expressivo da melancólica alma nacional, volte a causar o mesmo furor que na longínqua década de 30, quando a música desenvolvida pelos imigrantes que chegaram a Buenos Aires na virada do século era moda em Paris e celebrado pela indústria cinematográfica norte-americana.

Revelado ao mundo por Carlos Gardel, sobre quem até hoje os historiadores se debatem para determinar sua nacionalidade (uruguaia ou francesa) e até mesmo a data de seu nascimento (1890-1935), e modernizado por Astor Piazzola (1920-1992), o tango pode deixar em breve de ser oficialmente um patrimônio exclusivamente argentino.

A campanha começou no início de novembro. A Argentina apresentou à Unesco (braço das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) proposta para que o tango seja eleito patrimônio cultural da humanidade.

A comemoração do Dia Nacional do Tango (que coincide com a data ""oficial" do nascimento de Gardel, 11 de dezembro) tomou proporções maiores que nos anos anteriores.

Os festejos se estenderam por mais de uma semana, com shows de tango nos principais pontos turísticos de Buenos Aires, como San Telmo e o Caminito, no bairro da Boca.

Todos os festejos ""tangueros" deste mês foram uma antecipação do Festival de Tango marcado para ocorrer entre 28 de fevereiro e 4 de março de 2001. O objetivo do evento, fomentado pelo governo da capital argentina, é inserir-se no calendário cultural do mundo -como o Carnaval, no Brasil- para atrair turistas.

De acordo com estimativas do governo argentino, a marca tango representa US$ 180 milhões em divisas para o país todos os anos. O governo estima que esse valor possa subir para US$ 400 milhões, quase a metade do que representam as exportações de carne.

A Argentina e, principalmente, Buenos Aires, o berço do tango, estão deixando de faturar alto. Um relatório da consultoria Booz Allen & Hamilton indica que 98% dos turistas que visitam o país querem participar de alguma atividade vinculada ao tango e não mais que 16% têm sucesso. E esse pequeno universo se dispõe a pagar alto (cerca de US$ 50) por shows tipo ""para inglês ver".

"A verdade é que não há uma proposta de um circuito de tango. Se o turista não investiga, não sabe onde encontrar tango de verdade", diz o empresário Juan Fabbri, da Tango City.

A própria casa de Fabri não pode ser descrita como um reduto do tango. Mais se assemelha a um bar temático -tanto que ele se prepara para inaugurar casas do mesmo estilo em Nova York e Miami.

O tango verdadeiro, como descreve a Academia Nacional do Tango, na Avenida de Mayo, situada no andar acima do café Tortoni, o mais tradicional da cidade e que oferece aulas da dança no subsolo, só é encontrado em bairros não-turísticos como Boedo e Caballito, ou em lugares como o Club Almagro.

Foi a esse local, próximo ao centro de Buenos Aires, que os Rolling Stones e Madonna foram levados quando pediram para ver uma apresentação de tango.

A Prefeitura de Buenos Aires está implementando um projeto para oferecer um circuito de tango em que os turistas sairiam de ônibus do aeroporto de Ezeiza rumo a pontos como o "Tangódromo", com capacidade para 500 pessoas e montado com subsídios oficiais, no bairro da Boca.

Os de maior idade reclamam, no entanto, que a modernização da dança a impregnou de exageros. "O tango antigamente não tinha essa postura de balé como o de hoje, com firulas e voltinhas", disse o ator Osvaldo Lotito, de 76 anos, em uma das sessões no Tangódromo.

Gardel
Talvez nada perturbe mais o argentino amante de tango que o fato de seus dois principais símbolos (um homem e uma música) não serem argentinos.

No caso do homem, Carlos Gardel, o mais famoso cantor de tango da história, há versão, sustentada por registros em cartório, de que ele tenha nascido em Toulouse (França), em 1890, com o nome de Charles Romuald Gardes.

Os argentinos reivindicam seu nascimento no país, com datas que variam entre 1883 e 1887. De sua parte, os uruguaios sustentam que Gardel nasceu em Tacuarembó e apresentam como provas documentos encontrados próximos a seu corpo, depois da morte num acidente aéreo em Medellín (Colômbia) em 24 de junho de 1935.

Sobre o tango mais famoso do mundo, "La Cumparcita", não restam dúvidas: é uruguaio, composto no início do século por Gerardo Mattos Rodriguez. Há até um componente brasileiro na história do tango.

O principal letrista de Gardel, Alfredo le Pera, era filho de imigrantes italianos, mas nasceu no Rio e seguiu para Buenos Aires com poucos meses de vida.
 

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