Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/02/2001 - 07h30

Eleito em Israel será presa de Parlamento instável

Publicidade

MARCELO STAROBINAS
da Folha de S.Paulo, EM LONDRES

A esperada vitória de Ariel Sharon nas eleições de hoje poderá acentuar ainda mais os problemas que o sistema político israelense vem apresentando na última década.

Caso se confirme nas urnas o resultado antecipado pelas pesquisas de intenção de voto, Israel terá, pela primeira vez na história, um primeiro-ministro cujo partido não é a principal força no Knesset (Parlamento).

O Likud (maior partido da direita israelense), de Sharon, possui 19 das 120 cadeiras do Knesset, contra 26 da coligação trabalhista do atual premiê, Ehud Barak.

As consequências dessa nova "coabitação" são previsíveis: o general, conhecido pela brutalidade no comando do Exército, terá de manobrar politicamente com a sutileza de um equilibrista para permanecer no cargo até o final de seu mandato.

Sem uma bancada parlamentar forte para ampará-lo, o virtual novo governante deverá ser uma presa fácil para eventuais chantagens de seus parceiros de coalizão -possivelmente partidos de orientação religiosa ortodoxa, como o Shas (17 cadeiras), deputados representantes dos imigrantes da extinta União Soviética e pequenos partidos de extrema direita- para conseguir obter e manter a maioria no Knesset.

Outro caminho possível seria um governo de "união nacional" com os trabalhistas, numa esquisita aliança em que o partido "júnior" da coalizão seria maior que o Likud, do primeiro-ministro.
A qualquer momento, porém, o Partido Trabalhista poderia retirar seu apoio e tentar derrubar Sharon.

Governantes frágeis
Os chefes de governo israelenses se tornaram figuras frágeis em razão da reforma eleitoral de 1992.

Naquele ano, likudistas e trabalhistas, preocupados com o crescente poder de partidos "nanicos" que, ao se posicionarem ao lado de um ou outro grande partido, definiam qual dos dois permaneceria no poder, introduziram a eleição direta para primeiro-ministro (em outros países, o premiê é usualmente escolhido pelo Parlamento).

Acreditaram que, com a legitimidade do voto popular, o premiê sairia fortalecido.

O tiro, porém, saiu pela culatra: a partir do pleito de 1996, os partidos "nanicos" cresceram. Alguns, como o Shas (ultra-ortodoxos sefarditas), se tornaram gigantes.

Isso porque, ao preencher duas cédulas, o eleitor ganhou a opção de votar, ao mesmo tempo, em um dos partidos tradicionais (Likud ou Trabalhista) para primeiro-ministro e, para deputado, no grupo que melhor represente seu segmento étnico, religioso ou social. O sistema ficou ironicamente conhecido em Israel como "um voto com a razão, outro com o coração".

Antes dessa reforma, em 1992, likudistas e trabalhistas tinham, juntos, 76 das 120 cadeiras da Knesset. Hoje, têm só 45.
No mesmo período, o Shas pulou de 6 para 17 deputados, tornando-se a terceira maior bancada no Knesset.

O resultado foi tão catastrófico que, apesar de sua conhecida rivalidade, o Likud e o Partido Trabalhista patrocinam juntos um projeto - em tramitação no Parlamento - para acabar com as eleições diretas para premiê e voltar ao que era antes.

Por enquanto, porém, os líderes dos dois grandes partidos têm de se conformar em jogar de acordo com as regras que eles próprios criaram.

Assim como seus antecessores Binyamin Netanyahu e Ehud Barak, Ariel Sharon, se eleito, não terá em mãos as rédeas firmes com as quais gostaria de conduzir a política de Israel. Terá de agradar seus aliados com cargos, favores e dinheiro. E manobrar com grande habilidade para não se tornar a próxima vítima do instável sistema político israelense.


  • Leia mais sobre o conflito no Oriente Médio
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página