Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
25/02/2001 - 10h25

Ex-deputada é a surpresa da eleição peruana

Publicidade

ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo

Na instável política peruana, a surpresa da vez é uma mulher. A ex-deputada Lourdes Flores Nano, 41, uma total desconhecida fora do país, despontou na última semana como uma das mais fortes candidatas à Presidência nas eleições de 8 de abril, desbancando o até então favorito absoluto, Alejandro Toledo.

De acordo com três pesquisas de opinião divulgadas na última semana, Lourdes Flores e Alejandro Toledo estão em situação de empate estatístico, mas ela levaria vantagem em um eventual segundo turno entre os dois.

Para os adversários, seu crescimento acentuado _em pouco mais de um mês, mais que dobrou seus índices de intenção de voto_ é passageiro. "Ela ganhou muitos votos de ex-fujimoristas, mas agora, com o início verdadeiro da campanha, as pessoas vão perceber que ela representa a continuidade", argumenta Fernando Rospigliosi, porta-voz de Toledo.

Para ela, no entanto, que sempre fez oposição a Alberto Fujimori (ex-presidente entre 1990 e 2000 que foi destituído em novembro e desde então permanece em auto-exílio no Japão), a acusação é infundada. "Meus adversários perderam o rumo diante do meu crescimento nas pesquisas", disse ela na quarta-feira à noite à Folha de S.Paulo, em entrevista por telefone, de Lima.

Ela promete privilegiar as relações com o Brasil se for eleita. "Estou segura de que (no meu governo) as relações entre Brasil e Peru seriam provavelmente as relações mais promissoras que já houve", afirmou.

Membro do tradicional Partido Popular Cristão (centro-direita), ela pode se tornar a primeira mulher presidente do Peru.

Leia a seguir trechos da entrevista de Lourdes Flores à Folha de S.Paulo.

Folha - O que significaria para o Peru ter uma mulher pela primeira vez na Presidência?

Lourdes Flores - Acho que em um momento em que há uma crise moral tão grave como a que o Peru viveu, a presença de uma mulher no governo representa uma opção, uma alternativa, uma possibilidade importante de mudança.
Meu governo garantiria uma genuína democracia participativa e, em segundo lugar, garantiria uma imensa sensibilidade em relação aos problemas humanos. E, uma terceira característica, uma maior eficiência e honradez no manejo dos recursos públicos.

Folha - Qual seria a grande diferença de seu governo em relação ao que seriam os governos de seus adversários?

Flores - À diferença de nossos adversários, somos a opção mais propositiva. Temos clara distância do modelo que se impôs nesses anos numa pretensão de liberalismo econômico com autocracia política. Nós somos uma genuína expressão de uma economia aberta, competitiva, moderna, e simultaneamente com uma imensa estabilidade econômica, social e democrática.
Acho que a nossa proposta é uma posição muito nítida e clara, baseada em uma visão muito definida da sociedade e do país. Uma proposta econômica muito clara e uma proposta social muito definida, que supõem olhar para o futuro. Alan García está propondo ao Peru um retorno ao passado e Alejandro Toledo é bastante impreciso em suas propostas.

Folha - A sra. tem sido acusada pelos adversários de propor um "fujimorismo sem Fujimori" e de abrigar em seu partido diversos colaboradores do governo anterior...

Flores - Meus adversários perderam um pouco o rumo por nervosismo por causa do meu crescimento nas pesquisas. Acho que suas críticas são absolutamente infundadas. Evidente que é uma reação frente a um fator que eles não previam.

Folha - O que a sra. fará para combater a corrupção que caracterizou o governo de Fujimori?

Flores - Em relação aos acontecimentos do passado, pretendo continuar com os processos de investigação e com as medidas judiciais que estão em marcha.
Com relação ao futuro, pretendo ser muito clara e muito transparente no manejo dos recursos públicos. Uma transparência caracterizada por uma abertura de informação e por garantir mecanismos de fiscalização a respeito dos atos do governo.

Folha - Após a reeleição de Fujimori, no ano passado, o governo brasileiro foi contrário à adoção de sanções pela OEA (Organização dos Estados Americanos), apesar das evidências de fraudes no pleito. A sra. prevê uma relação difícil com o Brasil por causa disso?

Flores - Não, pelo contrário. Acho que um governo meu iniciaria um novo período de relação bilateral promissora, como até agora nunca houve. Essa relação suporia um fortalecimento do comércio bilateral, suporia fortalecer nossa posição de país ponte do Pacífico ao Atlântico, suporia cooperar com o Brasil no esforço de geração de uma realidade sul-americana e de um mercado sul-americano, para que a Comunidade Andina e o Mercosul se integrem. Estou segura de que seriam provavelmente as relações mais promissoras que já houve.

Folha - O Brasil tem defendido uma integração mais forte entre os países do Mercosul e de toda a América do Sul antes do estabelecimento da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, bloco comercial que reuniria todos os países do continente à exceção de Cuba). A sra. defende essa posição ou prefere a antecipação da Alca, como querem os EUA?

Flores - Acho que não são processos incompatíveis. Vamos terminar nos integrando à Alca, mas me parece também importante que os sul-americanos façamos um esforço maior de integração.

Folha - Como a sra. vê a participação dos EUA no combate ao narcotráfico nos países andinos?

Flores - A relação pode melhorar muito mais. Acho que ainda há um campo fértil para continuar com os aspectos de repressão, mas há também um espaço muito grande em relação à substituição de cultivos ilegais. E, sobretudo, acho que temos a capacidade de demonstrar aos EUA que a luta antinarcóticos não tem por que pagar os preços da sujeição a um personagem corrupto como foi Vladimiro Montesinos.
Acho que principalmente no âmbito comercial, com a abertura de mercados, há um imenso e vasto campo para avançar para oferecer aos cultivadores de coca peruanos, aos agricultores das zonas cocaleiras, oportunidades mais promissoras de mercado.

Folha - Os países vizinhos da Colômbia dizem temer que a presença de militares dos EUA ameace a soberania da região. Qual sua opinião sobre o Plano Colômbia?

Flores - Respeito a decisão que o presidente Andrés Pastrana tomou. O que nós queremos é desde logo traçar ações conjuntas com a Colômbia na região fronteiriça do rio Putumayo, e definir em nosso próprio território as estratégias de defesa. Mas acho que Peru e Colômbia, assim como a Bolívia, têm a possibilidade de oferecer e de reclamar investimentos mais agressivos, com recursos maiores para a substituição dos cultivos.

Folha - E qual a participação que o Brasil poderia ter nessa luta contra as drogas?

Flores - Por sua importância econômica e pelo que nos vincula, no eixo amazônico, a participação do Brasil é essencial. A Amazônia é um espaço de integração muito importante, com possibilidades de desenvolvimento, essencial para promover a substituição de cultivos. Brasil, Peru, Colômbia e Equador têm de ter uma visão muito clara de desenvolvimento dessa zona do mundo.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página